sábado, setembro 21, 2013

Corda esticada - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 21/09

Os movimentos de Eduardo Campos (PSB) são agressivos, como devem ser. Ou pelo menos como ele acredita que precisam ser para quem é pré-candidato a presidente. O próprio governador sabe o quanto um mergulho profundo feito quatro semanas antes do início das manifestações de junho prejudicou o reforço do próprio nome. A um ano da votação, cada gesto define pontos, que devem e farão diferença no futuro próximo. Campos emergiu esta semana.

Mais do que qualquer outro período pré-eleitoral, os últimos meses de junho e julho levaram o debate político para a sala do cidadão brasileiro. Enquanto a presidente Dilma Rousseff perdeu pontos, Marina Silva acabou beneficiada. Campos, fora de circuito, permaneceu longe do radar do eleitor — refiro-me aos índices de intenção de votos e ao desconhecimento do nome dele pela população. Aécio Neves (PSDB) é outra história, por mais que, em relação a Marina, esteja em situação parecida à de Campos.

O mergulho de Campos se deu depois de um longo período de exposição positiva na mídia, com críticas pontuais ao governo Dilma e encontros com empresários, principalmente os de São Paulo. Passado aquele momento, o governador decidiu sair de cena. Foram 90 dias sitiado em Pernambuco, quando visitou 60 cidades. Ao longo das manifestações, o político — como tantos outros espalhados pelo país — optou em manter a estratégia dos movimentos suaves. Tudo mudou agora.

Com o argumento de que grupos internos do PT e do PMDB promoviam desavenças com os integrantes do PSB, Campos e os apoiadores da candidatura decidiram se afastar do governo. A fúria principal é contra ministros petistas, como o da Educação, Aloizio Mercadante, apontado nos bastidores como o principal jogador para desestimular, entre os integrantes do PSB no governo, a candidatura própria da legenda — o que não é lá uma tarefa difícil de ser executada. Mas mágoas são mágoas.

De mais a mais, a entrega dos cargos é uma atitude ousada, mas que de fato desagrada parte do PSB, aquela que preferia continuar nos postos da Esplanada. O episódio envolvendo o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, é simbólico. Era razoável que o pernambucano tivesse entregue o cargo na quinta-feira, quando se reuniu com Dilma. Mas aceitou permanecer até o próximo dia 27, dando a impressão que a presidente — que nem mesmo recebeu a carta de demissão — deu um drible em Campos, como mostrou o repórter Paulo de Tarso Lyra na edição de ontem do Correio.

Por mais que interlocutores de Campos possam dizer que a saída do governo não poderia ser às pressas, Bezerra deixou a impressão de que Dilma tem o controle. E que de fato não existe unidade dentro do próprio partido na decisão de abandonar o barco. É o caso, por exemplo, do ministro dos Portos, Leônidas Cristino, indicado pelo governador do Ceará, Cid Gomes, cada vez mais distante de Campos. Mais. Deixou claro que ela não queria a saída do PSB do governo. Se existiu uma indisponibilidade, dirá o Planalto, partiu dos próprios integrantes da legenda.

Campos, por sua vez, sempre terá o argumento de que não poderia alçar voo próprio em busca de uma candidatura à Presidência da República se continuasse vinculado ao governo federal. Nada mais legítimo. Mas há alguns riscos. O primeiro é o de abandonar o barco e, com isso, a visibilidade política. Para Bezerra isso parece um tanto claro. O segundo é que o cenário eleitoral apenas será definido com a candidatura de Marina Silva, seja pela Rede, seja por algum outro partido. E isso apenas ocorrerá daqui a 15 dias, a data limite definida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para o registro de candidatura.

Ao que tudo indica, Campos aposta que Marina não conseguirá registrar o partido. Sim, porque a impossibilidade da candidatura dela é determinante para o crescimento dele, pelo menos no atual cenário político. Se Marina conseguir viabilizar o partido ou encontrar outro para entrar na disputa, Campos estará na pista, com todas as fichas jogadas por antecipação. Restam os próximos movimentos.

Outra coisa
A divisão de opiniões sobre os embargos infringentes é guerra de torcidas partidárias, cada vez mais radicais à medida que as eleições se aproximam. Nessa guerra, o cidadão, que tem a legitimidade da indignação, não pode ser incluído, afinal a decisão do STF, por mais técnica, reforçou a imagem de um país dos impunes. Difícil mesmo, entretanto, é explicar por que os mensaleiros condenados por crimes sem direito a qualquer apelação continuarão livres à espera do término de todo o julgamento.

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