domingo, setembro 15, 2013

A falta que faz uma Redação - ANA DUBEUX

CORREIO BRAZILIENSE - 15/09

"Todo ser humano precisa de um vício", costuma dizer uma amiga. E, por vício, nesse contexto, entenda-se algo que lhe desperte paixão e alento na mesma medida, que excita e acalma, que seduz e atormenta. No meu caso, a compulsão é pela notícia. Nada como passar uma semana longe da Redação para sentir a falta que ela faz. Até me rendi a uns capítulos da série norte-americana The Newsroom, que mostra os bastidores de um canal de notícias. Mas nem de longe a ficção consegue ser mais interessante do que a realidade. Se, em alguns momentos, a rotina alucinante de um jornal prejudica nossa saúde, noutros ela é um verdadeiro bálsamo contra a mesmice. Há 30 anos, estou dentro de Redações de jornais e, todos os dias, sinto-me como se estivesse chegando naquele momento.

Talvez seja esse sentimento que chamam de realização profissional, o que para muitos ainda é um sonho. Seis em cada 10 brasileiros, segundo consultoria especializada, pensam em mudar de profissão, ou seja, estão insatisfeitos com o ofício que escolheram e sofrem uma rotina diária. É fácil sentir-se fora do lugar quando o trabalho é apenas um meio de sobrevivência. Para mim, trata-se de vivência. É uma experiência rica e saborosa, que permite discutir, descobrir, desdobrar-se, discordar, rir, chorar, sucumbir à realidade - seja ela duríssima e cruel, como é na maioria das vezes, seja ela um retrato glamoroso.

Na semana em que estive fora, acompanhei de longe, por todos os meios, em especial o impresso, uma das mais controversas reviravoltas proporcionadas por este nosso Brasil: a análise dos recursos do julgamento do mensalão. Ser informada é diferente de informar, embora a passividade seja uma característica em extinção no tempo das redes sociais. Todos divulgam, opinam, pressionam. A diferença para os jornalistas é saber que alguém espera  ler o que vamos escrever. Temos a obrigação, portanto, de assegurar ao leitor e ao internauta uma informação consistente, baseada numa percepção responsável da realidade.

Por dever de ofício, quem acompanha o debate no Supremo  torna-se um especialista em direito e cidadania - o que mostra a natureza extrema de uma profissão que se reinventa a todo instante, ao sabor dos acontecimentos. Na próxima quarta-feira, estarei a postos nesse momento histórico, mais um dos tantos que vivi e de que jamais vou me esquecer. Com ajuda da Redação, não medirei esforços para explicar aos leitores do Correio o derradeiro voto que encerrará ou recomeçará um dos capítulos mais dolorosos da história política brasileira.

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