quinta-feira, agosto 08, 2013

Volta à campanha - TEREZA CRUVINEL

Correio Braziliense - 08/08

Os candidatos retomaram o tom e os movimentos eleitorais. Deviam moderar a excitação. Os protestos ainda ecoam nas ruas. Uma segunda onda pode alterar novamente o quadro, nunca se sabe em que sentido



Ninguém pode garantir, mas é possível que a antecipação geral das campanhas de 2014 tenha contribuído para encher o copo que transbordou em junho sob a forma de protestos contra partidos e políticos. Depois disso, todos recolheram os “flaps”, mas parecem estar novamente aquecendo motores para a disputa. A presidente Dilma retomou o tom eleitoral dos discursos. Em Minas, o presidenciável tucano, Aécio Neves, rebateu. E o provável candidato do PSB, o governador Eduardo Campos, entrou na briga entre o Congresso e o governo, apoiando a emenda que torna obrigatória a liberação dos recursos previstos em emendas orçamentárias, cuja votação foi adiada para evitar uma “guerra civil” dentro da coalizão governista.

Dilma foi a Minas inaugurar um câmpus universitário federal na cidade mineira de Varginha, e ali, no discurso e numa entrevista, o sotaque anterior a junho reapareceu. Nem ela nem qualquer outro em seu lugar deixaria de faturar a queda da inflação, que foi de 0,03% em junho, com barateamento da cesta básica em 18 estados, fechando o acumulado em 6,27%, afastando-se do centro da meta e da perigosa ultrapassagem apontada por analistas e economistas. Petistas celebravam ontem a derrota da “escalada de terror econômico-midiático”. Foi o primeiro refresco depois de muita notícia ruim na economia, afora o urro das ruas e os desacertos na política. Dilma teria recebido também sinais das primeiras oscilações para cima na avaliação do governo. Otimismo à parte, foi desnecessário o beliscão nos tucanos, ao afirmar que, “neste primeiro semestre de 2013, nós criamos 826 mil vagas com carteira assinada, que significam a quantidade de empregos criados em todo o primeiro governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.”

Treinando para a campanha, quando prevalece o “bateu, levou”, Aécio Neves retrucou. Como faz sempre que Dilma vai a Minas, lembrou dezenas de projetos que teriam sido inviabilizados ou estariam atrasados por “desconsideração do governo federal para com os mineiros”. Mas rebateu especialmente a questão do emprego: “A presidente não pode ficar fazendo comparações descontextualizadas, que soam como um desvio intelectual. Se ela quer comparar, vamos falar de crescimento. No governo dela, bem como no de Lula, o Brasil cresceu menos que os vizinhos sul-americanos. No dela, a média até agora foi de 1,8%, e o da região vem sendo de 2,3%. Este ano, só não perderemos da Venezuela, que crescerá apenas 1%”, disse Aécio à coluna.

Lá em Pernambuco, preparando-se para voltar a circular pelo país, Eduardo Campos tomou partido na guerra fria que acabou não tendo desfecho ontem: a aprovação da execução obrigatória das emendas orçamentárias. “Se tem emenda parlamentar, que ela seja impositiva, para que não paire nessa relação qualquer tipo de dúvida sobre a posição tanto do Legislativo como do Executivo”, justificou. Pregou o “bom senso” para evitar que a disputa política piore o quadro econômico. “Para termos compromisso com as vozes que vieram das ruas, é preciso ter equilíbrio fiscal, responsabilidade, é preciso colocar os interesses do Brasil acima dos interesses partidários ou do posicionamentos de quem é governo ou oposição.” Retomou também o discurso anterior aos protestos, na linha do moço ajuizado.

Estamos a dois meses de uma esquina crucial do processo eleitoral, o prazo final para a para troca de partidos, no início de outubro. Ninguém vai agora congelar planos e movimentos eleitorais. Mas, com os protestos ainda ecoando, deviam todos moderar a excitação. Se vier uma segunda onda, o quadro pode ser novamente alterado, nunca se sabe em que sentido.

Medindo desgastes
O Instituto Sensus fez uma pesquisa para o PSDB, para conferir o estragos na avaliação de governantes e políticos. Concluída no dia 31 passado, o levantamento ouviu 1,5 mil pessoas em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Em São Paulo, Dilma obteve 29% de avaliações positivas, 38% de regular e 31% de negativa. O governador tucano Geraldo Alckmin, 37% de avaliação positiva, 37% de regular e 20% de negativa. O mais desgastado seria o prefeito petista Fernando Haddad, com apenas 17% de nota positiva, contra 30% de regular e 45% de negativo.

Em Minas, para Dilma, 38% de positivo, 37% de regular e 21% de negativo. Para o governador Anastasia, 40% de positivo, 30% de regular e 12% de negativo. Bem na foto, o prefeito Marcio Lacerda: 50% de positivo, 20% de regular e 20% de negativo.

No Rio, Dilma aparece melhor que Cabral. Ela, com 23% de positivo, ele, com apenas 16%. Ela, com 41% de regular e 33% de negativo; ele, com 31% e 47%, respectivamente. O prefeito Eduardo Paes é que acompanha melhor Cabral na queda, ficando com apenas 19% de nota positiva.

A pesquisa mediu também intenções de voto, apenas em Minas. Em abril, pesquisa do mesmo instituto apontou 39,9% para Dilma e 35% para Aécio Neves. Agora ele é que teria 45%, contra 25% dela. Ele ganharia dela num eventual segundo turno, por 52% a 28%.

O meio político espera ansioso por uma pesquisa Datafolha no fim de semana.

Maus modos
Coisas assim é que envenenam a relação entre o governo e a base. Pelo rodízio acertado entre os líderes, a presidência da comissão mista da MP dos médicos caberia ao bloco PTB-PSC-PR, que indicou o senador e médico Eduardo Amorim (PSC-SE). Os governistas romperam o acordo e indicam o senador João Alberto (PMDB-MA).

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