terça-feira, julho 16, 2013

Tutela e emancipação - ROSELY SAYÃO

FOLHA DE SP - 16/07

Confiar no filho adolescente é ignorar o fato de que ele ainda não é adulto; é preciso, portanto, vigiá-lo


Conversei com um adolescente de 16 anos acompanhado de sua mãe e ambos estavam chateados um com o outro. O garoto disse à mãe que no final de semana iria dormir na casa de um amigo. Na madrugada, ela foi acordada por um telefonema de um hospital, pois o filho lá se encontrava em observação.

Quem tem filhos imagina o estado em que essa mãe ficou até chegar ao hospital. Ela só sossegou depois de ver o filho e constatar que, de fato, além de um hematoma no braço, ele nada tinha.

O garoto e seu colega decidiram ir até uma balada. No retorno, foram de carona com um amigo que estava com eles e sofreram um acidente leve, que provocou mais danos no carro do que nos quatro jovens que estavam dentro. Que sorte! Bem, aí começou a discussão entre mãe e filho.

Ela, que disse sempre ter confiado no filho, sentiu-se traída pelo fato de ele ter feito algo que não havia sido previamente lhe informado. O segundo ponto que a mãe não aceitou foi o fato de o filho ter visto o colega tomar bebida alcoólica e, mesmo assim, ter aceitado a carona dele.

Essa mãe, assim como muitas outras que têm filhos adolescentes, acreditava que podia confiar nele. Não, ninguém pode confiar que o filho adolescente irá sempre agir da maneira que os pais o ensinaram e esperam que ele faça. Por quê?

Porque os adolescentes estão ainda em processo de desenvolvimento da maturidade e da autonomia que terão na vida adulta. Eles costumam ser impulsivos, nem sempre avaliam os riscos que correm e olham muito mais para o que lhes interessa. No geral, eles focam tanto o olhar no que buscam que acabam por perder a perspectiva que lhes permitiria ver além, ou seja, o contexto que os cerca nesse momento. É especialmente por tais motivos que muitos deles fazem coisas das quais se arrependem posteriormente.

E esse era o estado do garoto com quem conversei: de completo arrependimento. Ele disse que iria mesmo, como planejado, dormir na casa do amigo, mas eles foram convidados por outros amigos para uma balada e decidiram ir.

Disse também que viu o colega que ofereceu carona beber, mas achou que havia sido uma pequena quantidade e, além disso, pensou que economizaria uma boa grana do táxi.

O garoto tem toda a pinta de ser um bom menino, mas não achou nada demais o que aconteceu. Seu arrependimento era apenas um: o de ter aceitado carona de um colega que bebera. Por causa disso, não se conformava com o grau de braveza da mãe, e lembrou que em outra ocasião ela já havia dado autorização para que ele fosse ao local da balada em que havia estado.

A partir desse ponto, os dois achavam que não havia mais diálogo entre eles. Mas dialogaram muito bem com as ideias um do outro. Sempre que há diálogo --coisa rara-- entre pais e filhos, há conflito de ideias. Não é conversando que a gente se desentende? Diálogo não é estratégia de persuasão.

O exemplo dessa mãe com seu filho nos dá algumas pistas. A primeira: confiar no filho adolescente é ignorar que ele ainda não é adulto. É preciso, portanto, tutelar os filhos, mesmo que a distância e com muita discrição. Segunda: os filhos precisam saber que alguns pontos de sua relação com os pais são inegociáveis. Informar sempre aos pais onde estão é uma delas, importante para adolescentes e seus pais.

Moral da história: não dá para emancipar filhos adolescentes se eles ainda não estão prontos para isso.

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