domingo, junho 30, 2013

Dilma e seus pontos - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 30/06
Depois de uma maratona de reuniões sobre a reforma política, que, registre-se, dificilmente sairá do papel neste ou no próximo ano, a presidente Dilma Rousseff vai dedicar os dias ao governo e à agenda principal das manifestações, ou seja, a prestação de serviços públicos. Para muitos, essa reunião ministerial, se não insistir na tecla da reforma política e entrar na agenda das ruas, será um alento.

Há mais de 10 dias, parcela expressiva da população cobra nas ruas melhorias no atendimento em todas as áreas e níveis de governo. E o que se viu até agora foi uma conversaria danada sobre reforma política - o tema recorrente sempre que surge uma crise - e a tentativa de construir pontes com movimentos sociais afastados do Poder Executivo. Ambas iniciativas são muito positivas e aprovadas pela população, mas gestão que é bom, e algo que sinalize atitude mais firme em relação à economia, nada até o momento. Se continuar assim, Dilma corre o risco de afugentar os aliados, encher de incertezas o jogo eleitoral do ano que vem e não conseguir dar um fim às manifestações.

Governo e partidos venderam a falsa ideia de que o plebiscito e a reforma política resolverão os problemas do país e as cobranças das manifestações. Esse caminho é perigoso. As reuniões até aqui deixaram de fora a agenda econômica, a prestação de serviços e a entrega de obras à população. O anúncio de mais verbas para setores prioritários, embora seja relevante, deixa a desejar no momento em que o governo não gastou sequer 50% do que estava previsto, e já estamos na metade do ano. Os empenhos continuam em ritmo lento.

Para completar, o PAC aos poucos parece virar PDC - programa de desaceleração do crescimento. Em 10 de junho, por exemplo, chegava aos jornais a notícia de que Benjamin Steinbruch desacelerava a fábrica de dormentes em Salgueiro (PE), três anos depois de inaugurada por Lula. A fábrica foi anunciada em agosto de 2010, em plena temporada eleitoral, como uma promessa de geração de empregos e até mesmo recordes mundiais na produção de dormentes de concreto para serem utilizados na Transnordestina e em outros projetos ferroviários Brasil afora. Agora, o saldo é de 300 empregos a menos na cidade.

Enquanto isso, na política...

Notícias como essa deixam aos aliados a impressão de que o "agora vai", estampado pelo ex-presidente em 2010, não tem correspondência com a situação do país hoje. Na luta pela sobrevivência, empresários reduzem custos e investimentos. Políticos aprovam projetos a toque de caixa para que a população se sinta atendida. As entidades sindicais, que até agora apoiaram o governo e se mantiveram à margem das manifestações - até porque já foram expulsas -, em breve vão engrossar a onda de descontentamento generalizado, porque, afinal, também querem sobreviver como tal.

Nesse contexto, o governo vai ficando sozinho e enfraquecido, ainda mais quando exposto à queda de popularidade estampada ontem no Datafolha, de 57% para 30%. Para se recuperar, Dilma terá que providenciar algo que faça com que a população sinta firmeza na condução do país. O governo paulista, por exemplo, anunciou a redução da máquina estadual para fazer frente à redução do preço da passagem de metrô. No governo, o que se vê, em meio ao anúncio de desonerações e a ampliação de recursos para alguns setores estratégicos, é a criação de empresas e cargos.

E na eleição...

Esse sentimento de que algo não vai bem e não apresenta perspectiva de grandes melhoras fez com que todos os adversários da presidente Dilma Rousseff se mostrassem mais ativos. Aécio Neves trabalha para atrair o PP - volta e meia se reúne com o colega de Senado, Ciro Nogueira, que preside o partido. Também acena com uma aproximação perante o PTB.

Em outra ponta, o governador Eduardo Campos (PSB-PE) tem sido mais procurado por aliados de Dilma. Em algumas conversas, cita-se inclusive o nome do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) como possível candidato a vice-presidente na chapa de Eduardo. Se esse desenho vingar, o PSB ganha força num terreno em que as manifestações crescem e nem Dilma nem o PMDB do governador do Rio, Sérgio Cabral, têm uma vantagem avassaladora - embora, verdade seja dita, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) apareça bem nas pesquisas. Na raia 3 da política de oposição, ainda há Marina Silva, que se mantém bem posicionada nas pesquisas.

E por falar em pesquisas...

O PMDB encomendou uma consulta nacional para medir o grau do estrago político provocado pelas manifestações e quem foi mais atingido, mas o Datafolha se antecipou, e a queda de Dilma certamente dará o tom da reunião da Comissão Executiva Nacional do partido na terça-feira. Mas essa é outra história. Hoje, é dia de futebol, algo que, até aqui, o torcedor brasileiro não tem do que reclamar em termos de resultados em campo. Vamos, que vamos! Brasiiiiiillllll!

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