domingo, abril 21, 2013

Picadinho de partidos - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 21/04

Partidos 'maiores' estão cada vez menores, novas legendas estão no forno e tucanos podem ser fatiados


A DECISÃO judicial que na prática proibiu o troca-troca partidário, em 2007, acabou por incentivar a criação de mais partidos. A fragmentação vinha de antes e foi influenciada pelas vitórias do PT, mas ganhou impulso desde então.

Além de vítima de seu reacionarismo, o DEM foi fatiado na cozinha do picadinho partidário. O DEM é o velho PFL, que em 2007 passou maquiagem para tentar esconder suas rugas de coronel velho.

Entre 1994 e 2002, o PFL fez em média 92 deputados federais por eleição. Em 2006, elegeu apenas 65 deputados, muitos dos quais migraram para partidos da boquinha (coalizão governista). Em 2013, sangrado pelo PSD criptogovernista de Gilberto Kassab, o PFL-DEM tem 43 cadeiras na Câmara.

O PSDB corre risco semelhante ao do compadre DEM. Está cada vez mais reacionário, sem quadros e sem programa. Pode ser amputado pela máquina de fragmentação partidária.

Os tucanos nunca foram tão exuberantes quanto os pefelês, mas fizeram em média 77 deputados entre 1994 e 2002. Agora, estão com 53.

Podem levar uma facada se José Serra aderir à Mobilização Democrática, MD, mistura do PPS com o nanico PMN. Podem levar um talho menorzinho se Marina Silva fundar de fato sua "Rede".

O número de cadeiras da Câmara controladas pelos quatro maiores partidos decresce desde 1998. A fatia dos 6 ou 8 maiores partidos também cai. Os deputados mais e mais migram para a periferia partidária.

É uma hipótese razoável dizer que isso tem a ver com três vitórias seguidas do PT. Os deputados pulam do barco dos partidos oposicionistas para barquinhos agregados ao governismo, pois não têm jeito ou gosto de petistas.

Trata-se do arroz com feijão da política partidária do Brasil. A decisão do TSE que na prática proibiu a troca de partidos em 2007 criou um incentivo para a criação de legendas. Para mudar de partido sem perder o mandato, basta criar um novo.

Ainda assim, a explicação é insuficiente.

Por que antes de 2007 os deputados não migravam para o PMDB, o veículo maior e tradicional do adesismo? O PMDB é o partido grande mais estável do país. Mais inflado, seu apoio sairia mais caro. Por que o PMDB é incapaz de organizar até um programa tão oportunista quanto esse?

Por que nenhum partido maior é incapaz de manter ou incorporar um movimento político mais novo (ou menos velho) como o de Marina Silva (verdes, sustentáveis e outros)?

Por que gente politicamente tão parecida ou sem gosto quanto Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), ou até Kassab (PSD, ex-DEM-PFL), não está no mesmo partido?

Sim, o início das histórias políticas de Aécio, Campos e Kassab foi bem diferente. Hoje em dia, são a mesma farinha em sacos diferentes. Sim, são de regiões diferentes, o que faz muita diferença no Brasil. Sim, são caciques que precisam de carro próprio para suas candidaturas vazias de ideias.

Sim, o custo de ter um partido para chamar de seu é menor do que organizar a disputa interna em um partido maior.

Sai barato fazer salada partidária. Que sociedade é essa em que isso é possível? Enfim, faria diferença se os partidos fossem estáveis?

Nenhum comentário:

Postar um comentário