sábado, abril 13, 2013

A grita dos oficiais - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 13/04

Um pacto de silêncio foi quebrado. Integrantes da elite das Forças Armadas decidiram falar pela primeira vez sobre a fuga de talentos para a iniciativa privada e para outras áreas do serviço público. Internamente, a preocupação com o tema levou o Exército a preparar estudos para explicar o óbvio: o percentual das desistências, iniciadas há pelo menos sete anos, sempre esteve ligado aos baixos salários. Com as ofertas cada vez mais tentadoras vindas de fora dos quartéis, apenas no ano passado, 245 oficiais abandonaram o posto — um número quase constante e iniciado em 2006, segundo levantamento apresentado na reportagem publicada por este Correio no último domingo.

A partir de relatos de coronéis e capitães, dados de forma anônima, e histórias de quem largou a farda, foi possível montar um quadro atualizado da situação das Forças Armadas no país. Nos primeiros três meses deste ano, 54 oficiais já deixaram a Marinha, o Exército e a Aeronáutica. A reportagem, assinada por Karla Correia, apresenta comparações de salários. Numa delas, pilotos de caça com a patente de coronel se aposentam com rendimentos líquidos de R$ 9,3 mil, incluídos soldo e adicionais. Pilotos de helicópteros, a depender do tipo de serviço, podem receber R$ 25 mil mensais. O debate aqui está no tanto que o Estado investiu na capacitação dos militares nas escolas de formação.

Cálculos conservadores apontam que a União gasta R$ 1,2 milhão para formar um oficial em uma das cinco instituições de ensino militar: as academias Militar das Agulhas Negras e a da Força Aérea, a Escola Naval e os institutos Militar de Engenharia (IME) e Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Assim, concordamos em pagar pelo ensino de uma elite militar que abandona o barco. A culpa, porém, parece não ser dos militares. “Deixei o coração no Exército, mas a pátria não começa no quartel, ela começa na família. E quando a família sofre, não tem vocação militar que aguente”, diz um dos entrevistados. O mais significativo é a incapacidade de o serviço público segurar talentos e gente preparada.

Sem funcionários capacitados e criativos, é impossível para qualquer gestor definir prioridades e ações de políticas públicas. Ao perder cérebros nas Forças Armadas, o Brasil perde também a possibilidade de aplicar estratégias de defesa, principalmente como guardiã das fronteiras e da plataforma continental. Tudo piora com uma tropa desestimulada. Ao longo de uma conversa com o Correio, um coronel resumiu o conflito nos quartéis: “Nada pior para um profissional do que atuar sem perspectiva de futuro. É assim que vivemos”. Uma pergunta se impõe: qual é de fato a estratégia do governo Dilma para a área militar? Enquanto tal resposta não vem, perdemos oficiais.

Outra coisa
Há algum fato mais danoso para a imagem de uma cidade que vai sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas do que uma mulher de apenas 21 anos ser estuprada oito vezes por integrantes de gangue dentro uma van? Um veículo que circulava livremente pelas ruas? Mais entusiasmadas com aeroportos e estádios, as autoridades deveriam estar preocupadas mesmo é com a violência desenfreada nas cidades. O que é mais preocupante, vexatório e estúpido para o Brasil, o país do futebol e da alegria: um estrangeiro reclamar de serviços de infraestrutura ou uma estrangeira sofrer nas mãos de bandidos pelas ruas do Rio? A indignação aumenta com a falta de reação de governantes. Fique, então, com a declaração desolada da promotora Márcia Colonese, da 32ª Vara Criminal: “Já vi todo tipo (de crime), mas esse me afetou de forma diferente. Eu, como mulher, me coloquei no lugar dela. É uma moça franzina e foi barbaramente violentada por três homens. Imagino o terror que viveu”. Na quinta, como se sabe, episódio parecido ocorreu em João Pessoa. Com uma jovem de 17 anos.

Em 100 caracteres
Essa história de reduzir a maioridade penal é coisa de político ineficiente no combate à violência.


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