segunda-feira, fevereiro 18, 2013

Tô no carro da iguana - ARTUR XEXÉO

O GLOBO - 18/02

A frase se espalhou pelas redes sociais com a mesma força com que uma rainha de bateria se espalha na Avenida. E, antes de entrar no assunto, já exponho uma dúvida que me persegue há algum tempo: por que os jornais e a televisão passaram a chamar o Twitter, o Facebook e o YouTube de redes sociais? Não que eles não sejam redes sociais. É claro que são. Mas, para evitar a divulgação de marcas sem receber nada em troco, botaram tudo no mesmo saco da expressão “redes sociais”, embora não haja nada mais diferente do Twitter do que o YouTube. Ou do que o Facebook.
Mas voltando à vaca fria, ou à rainha de bateria exausta, a frase bombou no Twitter na madrugada de segunda para terça-feira. Ana Luiz Guimarães sofria catando alguém para entrevistar na concentração da Grande Rio. Encontrou Christiane Torloni. Depois do “hoje é dia de rock, bebê”, no curralzinho VIP do Rock in Rio, era difícil acreditar que a atriz cunharia outra frase para ficar na cobertura dos grande eventos. Mas não é que cunhou?
_ E essa fantasia que é o corpo inteiro? Não é quente demais? _ quis saber a repórter.
Christiane, que, como a totalidade dos entrevistados do carnaval, não ouviu a indagação, poderia ter respondido com outra pergunta: “O quê?”. Ou utilizado a máxima que, de uns tempos para cá, tem sido a mais usada por celebridades de ocasião: “Eu não quero falar da minha vida pessoal”. Ou poderia ainda recorrer ao que os entrevistados no Sambódromo respondem quando não sabem o que responder: “É muita emoção.” Mas Christiane é uma estrela. E sempre tem a resposta a certa. No caso, foi inteiramente nonsense, mas a falta de sentido não é o que impera em entrevistas carnavalescas? Reproduzo a resposta de Christiane;
_ Eu tô no carro da iguana, que vai chegar já, já.
Instantaneamente, “tô no carro da iguana” entrou para os TTs, os Twitter’s Trends, as palavras ou frases mais usadas nos tuites, pesquisadas em tempo real. “Tô no carro da iguana” passou a ser acrescida a qualquer comentário sobre o carnaval postado no Twitter. E tornou-se a explicação mais usada para explicar qualquer situação vivida na semana passada.
Vou agora dar um furo. Originalmente, Christiane Torloni não desfilaria no carro da iguana. Estibe no barracão da Grande Rio quinze dias antes do carnaval. Por coincidência, a atriz também estava lá. Foi experimentar sua fantasia. E soube, pelo carnavalesco Roberto Szaniecki, que sua fantasia era de almirante, e que ela sairia como destaque do terceiro carro, o carro do estaleiro. Eu fui testemunha do diálogo. Não sei o que aconteceu. Para falar a verdade, nem vi o carro do estaleiro passar na Avenida. Mas de uma coisa tenho certeza, a troca foi acertada. “Tô no carro da iguana” é uma frase com muito mais significados ocultos do que “tô no carro do estaleiro”, a sentença que a atriz usaria se o plano inicial fosse concretizado.
Três fatos que ficaram evidentes nessa história toda. Christiane Torloni foi dos destaques mais bonitos de todo o desfile. A fantasia que usava estava muito mais para iguana do que para almirante. E, se as entrevistas não estiverem rendendo, procure a Torloni: ela sempre terá uma frase espirituosa para carnavalizar qualquer cobertura jornalística.
E eu fico por aqui. Desculpe a pressa, mas... tô no carro da iguana.

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