quarta-feira, fevereiro 27, 2013

O significado dos números do acordo automotivo - RICARDO GALUPPO

BRASIL ECONÔMICO - 27/02

Mais do que pelos números que o comércio bilateral de carros entre o Brasil e o México movimenta, o acordo automotivo assinado entre os dois países tem uma importância política fundamental.

Trata-se do único dessa natureza que o Brasil celebrou fora da tutela do natimorto Mercosul - e um exemplo de como os problemas estruturais da economia impedem que o país leve vantagem mesmo numa competição mediada por um documento desse tipo.

O acordo, como se sabe, foi assinado em 2002 e, nos anos iniciais, era superavitário para o Brasil. O país despachava para o México grandes quantidades de carros e de autopeças e em troca recebia uma quantidade modesta de produtos.

A questão é que o cenário começou a mudar - e as montadoras a se dar conta que as condições tributárias e a proximidade com o mercado dos Estados Unidos faziam do México um cenário muito mais interessante para novos investimentos do que o Brasil.

Some-se a isso a valorização excessiva do real que, nos últimos anos, fez a balança mudar completamente de lado: qualquer economista recém-formado com uma calculadora HP na mão sabia que, diante das cotações do real e do peso em relação ao dólar, as relações de troca entre os dois países eram muito mais favoráveis ao México.

Ao contrário do México, que não se queixou quando o cenário pendia para o lado brasileiro, o Brasil começou a reclamar e, no ano passado, forçou a revisão do documento. Pois bem.

Passado quase um ano da revisão do acordo, conforme mostra esta edição do Brasil Econômico, houve, de fato, uma redução no valor das importações. Entre abril de 2012 e janeiro de 2013 (período de vigência dos novos termos do acordo), elas alcançaram US$ 1,8 bilhão.

Tomando-se o mesmo período para efeito de comparação, entre abril de 2011 e janeiro de 2012, elas foram de US$ 2 bilhões. A questão está na quantidade de veículos importados, que, em lugar de diminuir, aumentou quase 4%. Passou de 134 mil unidades para 139 mil.

Quem compara um carro mexicano médio com um carro brasileiro da mesma faixa percebe pouca diferença - e as que existem poderiam ser introduzidas sem maiores sacrifícios em qualquer linha de montagem brasileira.

Ou seja, esses quase 140 mil carros que foram importados poderiam perfeitamente ter sido fabricados no Brasil, por metalúrgicos brasileiros, com peças brasileiras, aço brasileiro e eletricidade brasileira. Ou seja, poderiam ter ajudado a consolidar empregos numa das atividades mais nobres da indústria e contribuir com impostos (desde que gravados com uma alíquota civilizada, como acontece nos países com os quais o Brasil compete) para os cofres públicos.

Enquanto o cenário for o atual, não serão as revisões de acordos que salvarão a economia brasileira. Isso está mais claro do que nunca.

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