terça-feira, fevereiro 05, 2013

Depois, o show continua - LUIZ GARCIA

O Globo - 05/02


O noticiário dos jornais sobre as consequências do incêndio na boate Kiss, no Rio Grande do Sul, tem um tema predominante: as providências que estão sendo tomadas em outros estados para evitar tragédias semelhantes.

Ainda bem: é sempre sensato correr na frente do prejuízo. Aqui, por exemplo, o governo estadual e a prefeitura carioca decidiram suspender os espetáculos em 49 espaços culturais, que incluem 13 teatros, que funcionam sem autorização dos bombeiros. A plateia agradece. Mas os cidadãos mais sensatos não podem evitar a pergunta óbvia: porque isso só acontece ante o impacto de uma tragédia?

Pode-se dizer que a reação das autoridades locais foi imediata e ágil. Mas não é possível esquecer que uma das tarefas mais importantes dos governos é prever problemas e desastres. Reagir também, mas só em face do inesperado, do imprevisível.

O cidadão carioca acaba de descobrir - por notícia no jornal, não por informação oficial - que o Rio tinha, até agora, quase 50 teatros e outros estabelecimentos públicos esperando por sua presença, mas não merecendo até agora a visita, por não garantir a sua segurança. É possível - talvez provável - que alguns empresários não sejam aprovados pelos bombeiros, e não seria má ideia, para que ficasse o exemplo, que sofram alguma forma de punição.

É uma tristeza que, inesperadamente, a cidade esteja privada - por curto tempo, esperamos todos - de casas importantes como Carlos Gomes, Maria Clara Machado e Ziembinski. Sem falar numa quantidade de museus e bibliotecas.

A Prefeitura carioca promete compensar financeiramente os empresários teatrais prejudicados com a suspensão dos espetáculos. É uma generosidade com restrições, ainda não especificadas.

São decisões corretas: um dos deveres do poder público é proteger e estimular atividades culturais - e o teatro certamente seria incluído entre as mais importantes, na hipótese ridícula de que existisse alguma ordem de importância entre as artes.

Enfim, o carioca terá de sofrer um jejum desagradável - mas por uma boa causa. Serão apenas 20 dias, tempo considerado necessário para uma vistoria em todas as casas de espetáculos. Depois, o show continua.

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