sábado, janeiro 26, 2013

Sob desconfiança - AGOSTINHO GUERREIRO


O GLOBO - 26/01

Após mais de uma década, o fantasma do apagão novamente amedronta os brasileiros. As últimas seqüências de queda no fornecimento de energia elétrica, nas regiões Norte e Nordeste do país, expõem um problema que parece estar muito longe de ser resolvido: a falta de investimentos maciços no setor energético.

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) divulgou um estudo, no fim do ano passado, prevendo que serão necessários R$ 1,097 trilhão em investimentos em energia para sustentar o nosso crescimento até 2021, em um panorama de crescimento de demanda de 4,7% ao ano. Desse valor, R$ 269 bilhões serão para a energia elétrica, sendo R$ 213 bilhões em geração e R$ 56 bilhões em transmissão. Em 2012, a demanda dos segmentos de comércio e serviços e as residências cresceram acima do ritmo do PIB, e esse descolamento deve continuar. Enquanto a estimativa para o PIB é de crescimento de até 1%, o país consumiu 3,6% mais energia até novembro, em relação aos mesmos meses de 2011.

Os apagões trazem um clima de desconfiança sobre como o governo lida com as questões de infraestrutura, o que pode espantar investidores. Ao mesmo tempo em que se fala em redução das tarifas, para não onerar ainda mais o setor econômico e o chamado Custo Brasil, é preciso ampliar a oferta, preferencialmente de fontes limpas. A expansão do consumo sem o adequado desenvolvimento destas fontes traz como conseqüência o aumento do uso de energia gerada por  termelétricas, mais caras e poluentes, o que deixa o país na contramão do que tem defendido em debates internacionais para o desenvolvimento sustentável.

É fato que a situação atual dos reservatórios de água, com níveis mais baixos dos últimos dez anos, é concreta e preocupante. Mas é preciso concentrar esforços para a modernização de todo o sistema de fornecimento de energia, desde a preservação de seu maquinário e das linhas de transmissão e distribuição, até medidas de segurança e proteção, que são cruciais para que falhas sejam reduzidas. O governo afirma que o sistema elétrico é um dos maiores de transmissão do mundo e trabalha com um bom nível de confiabilidade. É inadmissível que esse sistema falhe a ponto de deixar nove estados brasileiros e o Distrito Federal sob total escuridão durante horas, como ocorreu no fim do ano passado.

Superar esses entraves será crucial para que consigamos dar um salto na competitividade. 

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