terça-feira, janeiro 01, 2013

Em busca do tempo perdido - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 01/01


Em 2013 a presidente Dilma Rousseff terá seu ano decisivo. No terceiro ano de governo ela tentará deslanchar o crescimento para ter mais um mandato no Planalto. O crescimento medíocre do primeiro biênio e a inflação em patamar alto só não corroeram sua popularidade porque o consumo tem sido turbinado pelo crédito. Mas sua imagem de gerente perdeu consistência.

Na área internacional a incerteza terá como foco os Estados Unidos. A Europa tentará a difícil tarefa da construção das bases da união bancária, mas o continente passará o ano em recessão. A China pode crescer um pouco mais, mas não volta ao patamar de dois dígitos de alguns anos atrás. A crise política americana produzirá novos eventos de ameaça à recuperação.

O mundo pode não prejudicar muito o Brasil, mas não ajudará, como fez de 2003 a 2007 no governo Lula. Não se espera um novo boom de commodities, no máximo que o minério de ferro não caia abaixo do nível de 2012.

Aqui dentro há chances razoáveis de um ano com um PIB mais forte. Ontem, a média das projeções do mercado confirmaram os 3,3%, o que não quer dizer nada porque eles erraram muito em 2012, mas depois de dois anos de baixo crescimento, há o efeito até estatístico de recuperação. O crescimento não poderá contar apenas com o aumento do endividamento das famílias, porque esse processo está se esgotando. Houve no ano passado preocupação com o excesso de comprometimento da renda das famílias com o pagamento de dívidas. Muito devedor ainda está encalacrado. A relação crédito-PIB saiu de 25% para 52% em dez anos. Como os juros do crédito ao consumo continuam altos, os níveis de crédito-PIB de outros países não são parâmetro para nós.

O investimento público tem que ser maior e mais eficiente. Como recentemente disse o ex-presidente do BC Armínio Fraga, adianta pouco usar o investimento público na construção de pirâmides. O governo tem que ser capaz de fazer as apostas certas e mais racionais em projetos que realmente aumentem a competitividade do Brasil e eliminem gargalos.

A inflação deve permanecer alta, mas haverá alguns pontos de redução. Os alimentos não devem subir tanto, porque no ano passado o aumento foi em parte pela seca nos Estados Unidos. Eventos extremos de clima têm se repetido ano a ano, mas não se espera algo como a perda de grande parte das lavouras de soja, milho e trigo nos Estados Unidos. Mesmo assim, a inflação de alimentos, que ficou em 10% em 2012, permanecerá forte. A de serviços pode cair, porque o reajuste do salário mínimo será em percentual menor. E há ainda a queda dos preços de energia. Esse efeito será em parte neutralizado pelo reajuste da gasolina.

O governo tentará fazer algo mais forte para impulsionar a retomada do crescimento porque sabe que este ano é fundamental para os projetos do PT de permanecer no governo, seja com Dilma ou Lula.

O ano mais fácil de qualquer governo é sempre o primeiro e Dilma o perdeu. O governo parou nas sucessivas denúncias de corrupção que derrubaram sete dos seus ministros. Na economia foi preciso conter a inflação que refletiu os excessos de gastos eleitoreiros de 2010 e que bateram em 2011. Todas as previsões eram de recuperação do crescimento no ano passado, mas o país ficou estagnado.

A presidente Dilma tem cada vez menos entusiastas dos seus métodos de gestão. Tem muita decisão que depende apenas da sua atuação e fica estacionada em sua mesa. Bom gerente decide com agilidade. A política econômica é dominada pelo pacotismo que gera mais incerteza do que estímulo. É adepta dos projetos de impacto, como os do governo militar, mas sem ligação com as urgências do país, como o trem-bala. É lenta em decisões como a da privatização do Galeão que consumiu dois anos de hesitação.

Nesses dois anos que faltam para o fim do mandato, Dilma terá que superar seus erros gerenciais e focar no investimento público, se quiser melhorar seu desempenho na área econômica. Ao mesmo tempo terá que ter mais cuidado com a área fiscal. As contas finais não chegaram, mas até agora há risco de não cumprimento das metas de 2012 e o governo tem comprometido demais os bancos públicos em financiamento que não terá retorno garantido, principalmente Caixa e Banco do Brasil. Fazer bolha é fácil. O ano precisará ser de crescimento com boa gerência.

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