sexta-feira, janeiro 04, 2013

A dança da chuva - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 04/01


Muito já foi dito a respeito dos desafios econômicos e políticos que a presidente Dilma Rousseff precisa vencer em 2013. Os prefeitos tomaram posse promovendo cortes de despesas nos quatro cantos do Brasil, as medidas anunciadas pelo governo no ano passado ainda vão demorar um pouco para dar resultado e os partidos da base aliada estão indóceis diante da luta pela sobrevivência na próxima eleição. Muitos, é fato, já estão em campanha antecipada. Mas os analistas começam a apontar um novo ingrediente: o risco de racionamento de energia.

A análise contida no texto “cenários políticos”, que a consultoria Arko Advice distribuiu a seus clientes há dois dias, deixou parte dos petistas em pânico. O estudo mostra que os reservatórios das usinas hidrelétricas brasileiras estão num nível próximo ao que ocorreu em 2000, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso se viu obrigado a promover o racionamento. O resultado disso é que, enquanto os técnicos do Ministério da Integração Nacional rezam para não chover para que o país fique livre dos alagamentos e das tragédias provocadas pelas inundações e enxurradas — que este ano já ocorreram, especialmente, no Rio de Janeiro —, os especialistas do Ministério de Minas e Energia nunca fizeram tantas preces pró-chuva sobre os reservatórios.

Nos dados de região por região que a Arko coletou junto a especialistas, consta que, em 14 de dezembro de 2012, o nível dos reservatórios das unidades hidrelétricas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste estava em 29,45% do valor máximo de operação. Em 2000, quando Fernando Henrique anunciou o programa de racionamento, o nível era de 28,52%. Ou seja, se as chuvas não vierem, a situação pode se repetir. Até o momento, entretanto, o governo considera que não há motivos para se preocupar, porque a geração de energia no Brasil está acima do que era naquele ano.

Mas, politicamente, há uma preocupação por parte dos petistas. Aos baixos níveis dos reservatórios, a Arko, por exemplo, somou outros fatores, que, embora alvissareiros, têm um certo componente de alerta quando vistos sob o ângulo do consumo energético. A própria mensagem de que a energia ficará mais barata entra nesse contexto, porque não seguiu acompanhada de um alerta para que essa energia seja usada com parcimônia. Para o cidadão comum, há o risco da leitura do “já que…”: “Já que a energia está barata, pode gastar”. Não é bem por aí. Para completar o cenário, a Arko Advice lembra que, se a economia crescer acima dos 3,5%, como espera o governo, mais energia será necessária. E só as térmicas não resolvem, porque já foram acionadas em novembro.

Enquanto isso, na sede do PT…

O partido faz cálculos políticos. Tem claro que um racionamento de energia é tudo o que a presidente Dilma Rousseff não pode deixar que aconteça. Até porque, foi por conta da ausência de racionamento no Sul do país em 2000 que Lula diz ter colocado Dilma na sua equipe. Ok, os reservatórios sulistas, em 2000, estavam em níveis satisfatórios e não havia a interligação do sistema que existe hoje.

Mas Lula atribuiu o não racionamento no Sul à competência de Dilma pelos palanques no Brasil afora. E foi pela excelência do trabalho dela no Ministério de Minas e Energia que a levou para a Casa Civil e, posteriormente, ao posto de candidata à Presidência da República. Vitoriosa, passou esses dois anos com altos índices de popularidade. Ela não tem o condão de definir onde deve chover e quanto, portanto, se os reservatórios baixarem, não será culpa da presidente da República. Mas para a oposição, será um prato cheio, e mais um empate técnico entre PT e PSDB.

Essa sombra, ainda que pequena, de um possível racionamento, é vista como o maior problema que o governo deve cuidar nesse mês de janeiro. No quesito presidência da Câmara e do Senado, cujos bastidores começam a esquentar a partir da segunda quinzena, o Planalto está conformado com a vitória de Renan Calheiros no Senado e de Henrique Eduardo Alves na Câmara. E se eles realmente vencerem, a turma de Dilma usará a máxima: quando não se pode vencê-los, junte-se a eles. Mas essa é outra história.

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