quarta-feira, dezembro 19, 2012

Sem chuvas, o risco de apagão se transformará em certeza - RICARDO GALUPPO

BRASIL ECONÔMICO - 19/12


Um espectro ronda o Brasil - o espectro da falta de energia. Quem reconhece o perigo é o presidente do Operador Nacional do Sistema, Hermes Chipp.

Ontem, em Brasília, ele disse que o país precisa conviver com as falhas no sistema de transmissão de eletricidade. Ou seja, com a possibilidade de apagões como os que já vêm acontecendo dia sim, dia não em alguma parte do país.

E, o que é pior, se não chover o suficiente para manter os reservatórios das hidrelétricas com água suficiente para girar as turbinas, o risco de falhas eventuais se transformará na certeza absoluta de racionamento.

O país já viu esse filme (ou, se não viu foi porque faltou luz no momento da exibição) no final do governo de Fernando Henrique Cardoso - e, ali, todo mundo se deu conta do estrago que um apagão pode causar na imagem de um político.

A crise de energia que escureceu o país em meados de 2001 foi uma das responsáveis pela erosão acelerada do prestígio eleitoral do PSDB. Até porque, o PT teve, nas eleições de 2002, a competência de se apoiar no problema e transformá-lo numa eficiente escada eleitoral.

A questão é mais séria do que parece. Em seus dez anos no governo, o PT adotou a estratégia de manter nas alturas o tom das críticas ao problema de energia que houve no final do governo do antecessor de Luiz Inácio Lula da Silva.

E fez questão de atribuir ineficiência a um problema causado, principalmente, pela incompetência tucana, não por escassez de chuva. Só que de suas mãos não saiu a solução prometida.

No poder, o PT deu início à construção das usinas de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte - mas os cronogramas dessas obras sofrem atrasos sucessivos. E ninguém é capaz de dizer com segurança quando elas entrarão em funcionamento.

Mesmo se essas três usinas já estivessem em operação, o problema não estaria totalmente resolvido. As necessidades de investimentos em geração, transmissão e distribuição de energia se acumularam de tal maneira ao longo dos últimos dez anos que, se todos as obras necessárias para resolver o problema fossem contratadas, o preço da energia iria parar na estratosfera.

O autor desse raciocínio é o próprio presidente do ONS.

Como se vê, o cenário é complexo. Sua solução pode gerar um problema que caminha na direção oposta às necessidades atuais da economia. A solução seria a aceleração dos investimentos. O problema gerado por ela seria a elevação das tarifas. E as necessidades atuais exigem a redução dos preços da conta de luz.

Como se vê, estamos diante de questões que só se resolverão com muita negociação, muito dinheiro para investir, respeito aos contratos, muita seriedade política e pouca tentativa de ser o dono da verdade. Muita chuva nos lugares certos também ajudaria.

Mas isso, como já ficou provado em épocas passadas, não depende do governo.

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