sexta-feira, dezembro 21, 2012

Dilma busca dialogar com o setor privado - CLAUDIA SAFATLE

VALOR ECONÔMICO - 21/12


A presidente Dilma Rousseff quer "arejar" o seu governo com novas discussões e um universo mais amplo de interlocutores. Ela não está satisfeita com o desempenho da economia nos dois primeiros anos do seu mandato, mas também não pretende mudar a equipe que comanda essa área. Guido Mantega, por exemplo, deve continuar como ministro da Fazenda. Não haverá substituição de nomes na economia no curto prazo, assegurou uma fonte do Palácio do Planalto, referindo-se aos próximos seis meses "no mínimo".


A presidente, porém, sabe que 2013 é o último ano para seu governo apresentar resultados mais promissores. O de 2014 será dedicado à reeleição. No primeiro ano, o país cresceu 2,7%. Neste, o desempenho será pior - expansão do PIB de apenas 1% - com um agravante: a taxa de investimento está em queda sistemática. Não há tempo a perder, avaliam seus assessores.

Dilma vai buscar novos canais de diálogo. "Ela quer conversar com as pessoas que estão na operação das empresas, tanto do setor produtivo quanto do financeiro", informou a fonte.

O governo já fez a guinada para expansão da oferta

Não é possível atribuir eventuais equívocos de concepção de política econômica a terceiros. "A política econômica executada é a da presidente", disse. Mas nem tudo a agrada na gestão do dia a dia. Há um problema que esta comprometendo todo o resultado: o distanciamento do governo com o setor privado, que alimenta desconfianças em relação aos propósitos da presidente e atrasa as decisões de investimentos. Sem investimentos, não haverá crescimento.

"A Dilma, ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula, acreditava que o Estado, com seus investimentos, faria o país crescer. A Dilma, presidente da República, entendeu que há limitações e que é preciso trazer a iniciativa privada para o crescimento econômico", resumiu o assessor.

Foi essa compreensão, formada só no fim do ano passado, que a levou a dar uma guinada do "estatismo" concebido no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para o regime de concessões - o governo não usa a palavra privatização. No primeiro semestre deste ano foram preparados, e no segundo semestre Dilma aprovou, os programas de concessões de rodovias, ferrovias, portos e, ontem, o dos aeroportos.

Para as concessões de rodovias e ferrovias, no entanto, os técnicos oficiais trabalharam com uma taxa de retorno do capital investido de 6% a 6,5% ao ano. As duas primeiras de um total de nove rodovias vieram com uma taxa de retorno ainda mais baixa, de 5,5%, segundo os estudos de viabilidade de ambas. A explicação técnica é que essa taxa é para o projeto total, que engloba os financiamentos do BNDES a juros subsidiados (1% a 2% ao ano). O retorno para o capital próprio da concessionária é maior, de 10%. O fato é que essas retornos fomentaram mais o mau humor dos empresários. O pacote de energia, com todos os seus ruídos, só fez crescer a descrença.

Ontem, a presidente divulgou o regime de privatização de aeroportos e, com isso, concluiu o anúncio dos projetos de concessões que se propôs a fazer. Agora entra a fase de preparação dos editais e dos leilões, uma agenda mais administrativa.

Com isso, explicou uma alta fonte da área econômica, está feita a grande mudança deste governo, que passa do incentivo ao consumo para o foco na expansão da oferta. Uma passagem com tantas mudanças de regras que, na sua avaliação, "tirou vários segmentos da economia da zona de conforto". Tão logo esses pacotes sejam melhor compreendidos, voltará o ânimo, acredita.

Os resultados da política econômica este ano - medidos pela taxa de crescimento e pela inflação - decepcionaram o governo e o setor privado. A inflação do IPCA, segundo previsão do Relatório Trimestral de Inflação, divulgado ontem pelo Banco Central, deve encerrar 2012 em 5,7%, bem acima do centro da meta de 4,5%. Para 2013, as projeções indicam que deve cair para 4,8% e subir para 4,9% em 2014, último ano do mandato de Dilma.

O PIB, segundo o BC, cresce 1% este ano, assume uma trajetória crescente e chega a 3,3% no terceiro trimestre do próximo exercício. Não há, no horizonte do relatório, a previsão de uma taxa de expansão de 4% para 2013.

Muito se fez este ano, mas não o suficiente para impor dinamismo à economia. Os juros caíram para 7,25%, houve uma maxidesvalorização da taxa de câmbio, foram concedidas desonerações de folha e incentivos fiscais de cerca de R$ 45 bilhões, foi relaxada a política fiscal e as tarifas de energia começam a cair em fevereiro. Mais de R$ 100 bilhões de depósitos compulsórios foram liberados e medidas prudenciais restritivas estão sendo desfeitas.

"Não houve mudança do mix de política macroeconômica. O que houve foi um ajuste nos instrumentos do tripé", disse uma autoridade. O ajuste na taxa de câmbio se esgotou - mais depreciação vai pressionar a inflação - e, para o BC manter os juros baixos, é imperativo que a Fazenda volte a perseguir a meta cheia de superávit primário, de 3,1% do PIB, tanto em 2013 quanto em 2014.

Do lado externo, a economia americana deve crescer entre 2% e 2,5%, o risco de aterrissagem abrupta na China está praticamente afastado e o PIB, lá, deve situar-se entre 7,5% e 8%. Da Europa não deverá vir nem a ocorrência de um "evento" nem crescimento. A cena externa, portanto, prossegue desinflacionária.

O desafio de Dilma para 2013 é convencer os empresários a investir mais, aumentar a oferta de bens e serviços na economia, buscar inovação e viabilizar um caminho de crescimento sustentado para o país. "Uma coisa, porém, é fazer o Estado investir. Outra é convencer uma empresa privada a usar seu dinheiro para investir. Aí é preciso se ter uma relação com os empresários que, na área econômica, ninguém tem", ponderou o assessor da presidente.

É nessa direção que a presidente pretende atuar para obter o que se acredita que esteja faltando: a confiança do setor privado nas suas reais intenções. "Esse é um governo permeável", assegurou a fonte.

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