segunda-feira, dezembro 17, 2012

A volta - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 17/12


No Supremo, lá vem Celso de Mello, na última semana antes do recesso natalino, dizer se parlamentares condenados na Ação Penal 470 devem perder de pronto os mandatos. No Senado, o retorno do senador Luiz Henrique (PMDB-SC), depois de integrar a comitiva presidencial à Europa, é aguardado com muita expectativa em torno da candidatura à presidente da Casa. De quebra, Sarney retoma a cadeira no comando das sessões do Congresso para dizer se vota o vetos dos royalties. Para temperar isso tudo, a cada dia sai uma informação relacionada a um tripé de investigações — Operação Porto Seguro, CPI do Cachoeira e mensalão.

Para sorte dos petistas, o que faz vista aos olhos do povo é a vitória do Corinthians ontem, no Japão, e a entrega do Estádio do Castelão, no Ceará, a primeira arena da Copa de 2014 inaugurada pela presidente Dilma Rousseff e pelo governador Cid Gomes. Cid, que andou em baixa depois de atravessar um aeroporto a pé atrapalhando pousos, ao que tudo indica colocou a bola no chão e fez um gol.

Mas nem o Castelão nem a vitória do Corinthians tiram de cena os fatos da política. Em relação às denúncias recentes, o mais provável é que o governo encerre este ano sem tirar as coisas a limpo. Vai ficar tudo aí, pairando, com a divulgação de mais um detalhe ali, outro ângulo acolá, num misto de variações sobre o mesmo tema. E a história nos diz que não dá para apostar na Missa do Galo ou nas homenagens a Iemanjá como uma onda capaz de carregar tudo para o fundo do mar. No dia seguinte, a sujeira estará exposta na praia.

E, nesse clima, não dá para o partido de Lula desprezar a pesquisa do Datafolha divulgada ontem. Os pesquisadores detectaram que aumenta o número daqueles que acham possível haver corrupção no governo. Junte-se a isso uma pontuação nada desprezível dos oposicionistas — Marina Silva, ainda que sem partido, chega a 18%; Aécio Neves tem entre 9% e 11%; e o recém-chegado nesse bloco de presidenciáveis Eduardo Campos aparece com 4%. Esses fatores somados podem dar trabalho à presidente Dilma e ao ex-presidente Lula, que surgem como vitoriosos no cenário, e também ao PMDB, parceiro preferencial na chapa de 2014.

Esse receio em relação ao futuro faz com que o governo fique mais atento em relação ao próximo biênio, especialmente no que se refere às presidências da Câmara e do Senado, e se importe em saber quem serão os generais no comando das tropas legisaltivas. Na Câmara, o PMDB, principal parceiro do PT, passará esta semana procurando mostrar que está tudo bem com a candidatura de Henrique Eduardo Alves (RN), embora ainda não tenha essa certeza.

Enquanto isso, no Senado…

O silêncio entre os senadores nunca foi sinal de tranquilidade, mas esta semana as coisas começam a clarear um pouco. Uma pré-candidatura de Luiz Henrique ao comando da Casa pode naufragar antes mesmo da saída, caso não esteja afinada dentro da bancada peemedebista, especialmente depois da viagem com a presidente Dilma Rousseff. Luiz Henrique tem experiência política e administrativa para assumir qualquer cargo de expressão — já foi deputado, ministro, presidente do partido, governador, senador. Mas não dá para esquecer que foi essa tese de patrocinado por Dilma que tirou as chances de o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, deixar o cargo para concorrer à sucessão de José Sarney. Não está descartado que o mesmo fator tire as chances do senador catarinense.

Por outra parte, uma candidatura que chegue com as bênçãos palacianas não interessa à oposição, que deseja viabilizar um nome alternativo a Renan Calheiros. Portanto, essa definição ainda deve demorar.

O que vai clarear mesmo é o PT, que escolherá seu nome para concorrer a vice-presidente do Senado. Há vários citados, entre eles, Humberto Costa (PE) e José Pimentel (CE). Mas existe a tese de dar espaço àqueles que ainda não ocuparam o posto, caso de Jorge Viana (AC), ou que são candidatos a cargos majoritários em 2014, por exemplo, Lindbergh Farias (RJ) e Wellington Dias (PI). Para a Comissão de Assuntos Econômicos, há três nomes: Eduardo Suplicy (SP), Lindbergh e Jorge Viana. Essa decisão é esperada para ainda hoje. Vamos aguardar.

Enquanto isso, no plenário…

A semana será do veto à distribuição dos royalties do petróleo. As expectativas de acordo, entretanto, são praticamente nulas. O assunto já chegou ao Supremo Tribunal Federal. É lá que esse tema será debatido. Impressionante como o eixo da política está se deslocando rápido da Casa do Povo, o parlamento, para as salas da Justiça. É pena. Mas essa é outra história.

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