terça-feira, novembro 27, 2012

Rodadas perdidas - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 27/11

COM ALVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIERO 


O setor de petróleo está travado desde o anúncio do pré-sal. Há quatro anos não há rodada de licitação para novos campos, a última foi em dezembro de 2008. A área de exploração, onde petróleo novo pode ser descoberto, caiu de 341 mil km2 para 115 mil, no período. O governo deixou de arrecadar cerca de US$ 4 bi em bônus de assinatura, e as ações das petrolíferas caíram muito.

A indústria do petróleo tem três preocupações básicas, que se complementam: fazer descobertas, comprovar reservas, extrair o óleo. Esse ciclo é contínuo, porque à medida em que a exploração começa as reservas caem. É preciso sempre procurar novas áreas para explorar. A falta de leilões significa que o setor está paralisado, desde 2008, no início da cadeia de produção.

Tudo começa com os leilões. A ANP faz licitações de áreas em terra e mar, dando permissão às petrolíferas para procurar petróleo. Elas começam a perfurar poços; muitos não têm nada, outros, sim. Mesmo depois da descoberta, é preciso saber se a retirada é economicamente viável, e é preciso também fazer medições para saber o volume de cada campo. Todo esse processo leva anos.

- Se as grandes petrolíferas não têm novos campos para explorar no Brasil, elas vão redirecionar equipes e investimentos para outros países. A interrupção dos leilões quer dizer que quatro anos de futuro foram comprometidos - explicou Adriano Pires, do CBIE.

Isso ajuda a compreender a performance na bolsa de algumas petrolíferas. A OGX despenca 64% este ano. A HRT Petróleo cai 53%, e a Queiroz Galvão Óleo e Gás, que já caiu 57%, tem perda de 17%. Algumas estão esgotando as áreas de exploração e não têm novos campos para atuar.

- A produção atual de petróleo e as reservas provadas são resultado de leilões feitos no início dos anos 2000. Tivemos rodadas todos os anos, de 1998 a 2008. O setor andou. Esse processo, que era contínuo, foi interrompido. A situação é grave - disse Wagner Freire, da Associação Brasileira de Produtores Independentes de Petróleo (Abpip).

Em setembro, a ANP agendou nova rodada, para maio de 2013. O ciclo deve recomeçar, mas levará anos até que novos campos sejam explorados. Há uma perda já contratada e isso aconteceu por causa das discussões sobre royalties e mudanças no regime de exploração. O petróleo não descoberto no período é o mesmo que deixará de ser extraído no futuro.

EUA vão importar menos petróleo
Sem as licitações, o setor de petróleo travou no Brasil. Mas em outros países ele tem andado, como mostra o livro "Petróleo - Reforma e contrarreforma do setor petrolífero brasileiro", dos economistas Fábio Giambiagi e Luiz Paulo Vellozo Lucas. Houve recuperação da produção no Iraque e na Rússia, boom de produção na África Ocidental, e a exploração do gás de xisto nos EUA. Os riscos ambientais desse gás ainda são um mistério, mas ele tem sido considerado uma revolução na matriz energética americana. É um concorrente perigoso para o pré-sal porque vai baratear custos e fazer com que os EUA importem menos petróleo no futuro. Se hoje os americanos importam 49% do petróleo que consomem, a projeção é que caia para 36%, em 2030.

Boas novas no crédito I
A taxa de famílias endividadas teve ligeira queda de outubro para novembro, segundo pesquisa da CNC, antecipada à coluna. Foi de 59,2% para 59%. Já a inadimplência cresceu pelo segundo mês seguido. O percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso subiu de 20,5% para 21%. Essa alta foi puxada pelas famílias com renda de até 10 salários mínimos. Há 20% a mais de brasileiros nessa situação do que em novembro de 2011. Já o percentual de famílias que disseram não ter condições de pagar suas dívidas em atraso está em 6,8%, o segundo menor nível do ano.

Boas novas no crédito II
Um estudo da Serasa Experian, encaminhado com exclusividade à coluna, mostra que entre janeiro e outubro cerca de 16 milhões de brasileiros pagaram dívidas em atraso e limparam o nome. O número é recorde e representa aumento de 16,3% em relação ao mesmo período de 2011. O consumidor quando entra nesse banco de inadimplentes tem, em média, cinco dívidas em atraso. Para sair dele, tem de regularizar todas as pendências, o que leva, geralmente, sete meses.

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