terça-feira, novembro 20, 2012

O amanhã de Haddad - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 20/11

Ansiosos por natureza, uma vez que enfrentam eleições a cada quatro anos, os políticos não ficam um mês sem avaliar os movimentos de aliados e adversários e, assim, projetar o futuro. Nesse exercício, um dos personagens mais observados no momento é o prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad. A escolha dos primeiros nomes para o secretariado deu o que falar e o que pensar nos bastidores de Brasília. A conclusão de muitos é a de que Haddad se prepara para tentar unir o partido na maior cidade do país — algo inédito em se tratando do PT. E, se tudo der certo, partir da esfera paulistana em busca de um voo mais alto antes de terminada esta década.

Para quem foi apresentado ao eleitor como um personagem fora do cenário político tradicional, Haddad começa mostrando uma certa habilidade em lidar com as nuances do jogo político. Os secretários anunciados até agora trazem a certeza de que ele está “colando” o PT à sua gestão. Apenas para reavivar a memória, levou, por exemplo, o tesoureiro da campanha de Dilma, o deputado José di Fillipi Jr, para a Secretaria de Saúde. Chamou ainda o líder do partido na Câmara, Jimar Tatto, para a Secretaria de Transportes. Assim, abrirá vagas para levar outros petistas ao Congresso — inclusive o ex-deputado José Genoino, condenado pelo Supremo Tribunal Federal no escândalo do mensalão.

Para o cidadão comum, a ação de Haddad que pode guindar Genoino ao Congresso pode ser considerada absurda, uma vez que abriga no Legislativo alguém condenado pela mais alta Corte do país. Mas, dentro de um partido que, há alguns dias, lançou uma dura e corajosa nota contra o STF, a ação de Haddad é bem recebida.

Em todos os aspectos, os nomes escolhidos até agora por Haddad ajudam a colar o mosaico do PT paulistano. Marta Suplicy, por exemplo, teve vários integrantes de sua equipe incluídos na composição do secretariado de Haddad. Nunca é demais lembrar que, quando Lula lançou o nome do ex-ministro da Educação como candidato, no início do ano, Marta espumou. Jilmar Tatto desistiu da pré-candidatura meio a contragosto. Agora, ela foi apontada como uma das construtoras da vitória. E Tatto ganhou uma vitrine na capital paulista. Se der certo, pode inclusive se preparar outros projetos dentro do partido.

No geral, até por esses movimentos, Haddad entra em campo a partir de janeiro com jeito de personagem promissor e se mostrando generoso com o próprio partido. Se emplacar e for bem sucedido do ponto de vista administrativo, representará logo ali na frente a nova cara do “lulismo”, pronta para alçar outros voos.

Por falar em outros voos…

Todos esses movimentos do prefeito eleito de São Paulo são avaliados com uma lupa por aliados e adversários. Da parte dos aliados, há a clara sensação de que Haddad será preparado por Lula para ser o candidato a presidente da República ainda nesta década. E a “colagem” do PT ao governo municipal faz parte desse processo. Por conta dessa desconfiança, já tem gente no PSB defendendo que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, saia da toca logo em 2014, dando ao campo político que toma conta do país desde janeiro de 2003 duas opções contra a única que se coloca na oposição, o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Se Eduardo perder, espremido pelo PT e pelo PSDB, terá se tornado mais conhecido, ganhando um novo patamar no cenário nacional.

Enquanto isso, na sala da CPI…

A semana é da CPI do Cachoeira e da posse de Joaquim Barbosa no STF. Quanto à CPI, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) avisa que, antes de apresentar qualquer relatório em separado, é preciso ver o que virá da parte do relator Odair Cunha (PT-MG), na quarta-feira. “Nem se conhece o principal e já está se falando no paralelo. Não acredito que o relator vai querer ocultar qualquer coisa. Vamos conhecer primeiro”, diz o pedetista.

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