sexta-feira, novembro 02, 2012

A força do cabo eleitoral Sandy - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 02\11


Obama ganhou mais presença na mídia para relatar a ajuda federal a estados atingidos. Mas o real impacto do furacão sobre os eleitores permanece incerto



Em campanha morna, cujo grande momento tinha sido o desempenho de Mitt Romney no primeiro debate com o presidente Obama, a passagem do furacão Sandy a uma semana das eleições embaralhou as fichas, embora não as pesquisas: por enquanto, elas continuam a indicar empate técnico entre o democrata e o republicano. Um feito para o vulnerável Romney, que muda frequentemente de posição e diz, por exemplo, que vai cortar impostos e reduzir o déficit, sem revelar a mágica.

O empate mostra a perda de estatura política de Obama em relação a 2008, quando foi eleito com ampla maioria — quase 200 votos a mais que McCain no Colégio Eleitoral e 52,9% do voto popular, só superado por três outros democratas na história americana. Após dois sofríveis governos Bush, ele era a melhor expressão da esperança. Mas quatro anos no poder mostraram o que se pode esperar de Obama.

A princípio, a catástrofe beneficia o presidente, que pôde se valer do cargo para mostrar dinamismo e competência na ajuda aos estados atingidos. Para todos os efeitos, ele estava fazendo seu trabalho. Mas Sandy é um cabo eleitoral de efeito incerto. Aos olhos de alguns eleitores, pode parecer um diferencial injusto para o presidente. Que também é favorecido na comparação com o último republicano que passou por situação semelhante: Bush, acusado de ter reagido lenta e de forma ineficiente ao furacão Katrina, em 2005, desastre tão grande quanto o do Sandy.

A situação ficou mais difícil para Romney, que, apenas candidato, tem área de ação menor diante da megatormenta. Ainda assim ele comandou eventos que reuniram donativos para os atingidos. Mas alguns fatos pesaram contra o ex-governador. Ele declarou, em 2011, que a verba da Fema, agência federal para emergências, deveria ser cortada para reduzir o déficit público. Sugeriu, também, que suas tarefas fossem passadas aos estados, sabidamente deficitários. Respondeu-lhe, em editorial, “The New York Times”, que apóia a reeleição de Obama: “Uma grande tormenta requer governo forte.”

Por outro lado, caíram como uma bomba de fragmentação na campanha de Romney os elogios públicos de um republicano, o governador de Nova Jersey, Chris Christie, ao desempenho do presidente na ajuda a seu estado, um dos mais atingidos por Sandy. Ao ser perguntado se gostaria que, como Obama, Romney visitasse Nova Jersey, o governador respondeu que isso não tinha importância. Ruim para o desafiante.

Após três dias dedicados a Sandy, a campanha foi retomada, com os marqueteiros um tanto desorientados. Mantido o empate, a torcida é para que não seja preciso recorrer aos complicados mecanismos eleitorais dos Estados Unidos, em que é possível ganhar, mas não levar. Restando pouco tempo para as eleições de terça, o impacto da tormenta só deverá ser apurado, sem margem de erro, nas urnas, junto com os votos.


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