quinta-feira, outubro 11, 2012

Mão no nariz - ROGÉRIO GENTILE

FOLHA DE SP - 11/10


SÃO PAULO - O fato de tradicionalmente se divulgar o resultado da eleição considerando apenas o chamado "voto válido", isto é, sem contabilizar os nulos, os brancos e as abstenções, acabou por camuflar uma informação relevante na disputa paulistana. Em uma situação rara na cidade, os dois candidatos que concorrem no segundo turno, somados, não receberam o voto da maioria dos eleitores.

Serra e Haddad foram escolhidos por apenas 42,5% dos eleitores, índice muito abaixo do obtido pela dupla Kassab e Marta em 2008 (51,6%) e do alcançado por Serra e Marta oito anos atrás (63%).

Desde a implantação do segundo turno, em uma única vez -em 2000- ocorreu algo semelhante. Foi também a pior votação de um candidato do PT desde 1996 e a mais baixa do grupo político de Serra desde 2000.

O expressivo apoio a Chalita também é um bom indicativo da insatisfação dos paulistanos com os escolhidos para o segundo turno. Com 9,7% dos votos do eleitorado total, ele obteve o melhor desempenho de um quarto lugar na cidade desde a redemocratização. Como comparação, Maluf recebeu 4,6% dos votos em 2008, e Erundina, 3,1% em 2004.

Russomanno só não está no segundo turno porque a população percebeu na reta final que ele não era a alternativa imaginada. Sem um programa de governo e mal conseguindo defender suas poucas ideias, o apresentador de TV estava mais para uma aventura. Daí o recuo.

É difícil avaliar se esses resultados são o reflexo de uma insatisfação específica ou circunstancial contra Serra e Haddad, ainda que por razões variadas (abandono da prefeitura, a administração Kassab, mensalão, aliança com Paulo Maluf etc.), ou se, de fato, há um problema maior para PSDB e PT: São Paulo estaria cansada dessa polarização?

Só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: a cidade vai votar no segundo turno com uma mão na urna e a outra no nariz.

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