sexta-feira, outubro 05, 2012

Aquecimento - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 05/10

Com José Dirceu e o núcleo político do PT a três votos da condenação e faltando votar uma série de ministros que têm seguido a posição do relator da Ação Penal 470, Joaquim Barbosa, o Partido dos Trabalhadores acredita que essa questão já foi. A hora é de olhar para frente e promover os reparos na imagem da legenda. Nesse sentido, as declarações da presidente Dilma Rousseff no palanque de quarta-feira, em Belo Horizonte, deixaram a muitos a sensação de que ela usou o último comício deste primeiro turno da eleição municipal para mostrar que começa a se preparar rumo a 2014. E se aquece para enfrentar o ex-governador de Minas Gerais e hoje senador Aécio Neves, do PSDB.

Essa sensação ficou especialmente entre aqueles que analisaram as declarações da presidente no palanque paulistano, na última segunda-feira, e aquelas ditas dois dias depois, em Belo Horizonte. Em São Paulo, Dilma se preocupou mais em destacar as qualidades do candidato Fernando Haddad e quase não atacou José Serra. Apenas disse que iria meter o bico em São Paulo.

Na capital de Minas Gerais, Dilma fez diferente. Ao lado de Patrus Ananias, ela passou a maior parte do tempo, apresentando-se como mineira. Disse, por exemplo, que saiu da cidade para lutar contra a ditadura militar, e não para ir à praia. (Ora, qualquer pessoa que more em Belo Horizonte, assim como em Brasília, precisa sair da cidade se quiser ir à praia). Nesse embalo, aproveitou para fazer críticas a Aécio Neves, ainda que não tenha citado o senador.

Enquanto isso, no PSDB…

Os tucanos mineiros não esperavam a agressividade de Dilma. Ontem, foram à forra. Numa carta aberta à presidente da República, o presidente estadual do partido, Marcus Pestana, elencou 13 itens em que Dilma teria colocado sua terra natal em segundo plano. Citou, entre outras coisas, a demora do marco regulatório da mineração e a transferência para a Bahia do polo de acrílico da Petrobras, no passado, previsto para Minas. Paralelamente, as inserções do prefeito e candidato à reeleição, Marcio Lacerda (PSB), apoiado por Aécio, exibiram os elogios de Dilma ao senador em outras oportunidades.

Os ataques de Dilma a Aécio e a resposta do PSDB indicam que, no plano federal, os votos de Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país, estão em disputa desde já. Ali, Dilma tenta escapar da derrota de seu partido no primeiro turno. E hoje não dá para dizer que conseguirá, uma vez que as pesquisas apontam a decisão no primeiro turno e a vantagem nas pesquisas é do prefeito-candidato.

Por falar em vantagem…

Esses pontos a mais de Lacerda em Belo Horizonte têm incomodado muito o PT nas projeções que os petistas fazem para o futuro. O partido de Lula percebeu que, se o prefeito vencer no primeiro turno, Aécio, enquanto pré-candidato a presidente da República, terá a chance de começar a disputa com o segundo maior colégio eleitoral do país fechado com a sua candidatura. E, nesse sentido, se o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, não estiver ao lado de Dilma para, assim, tentar garantir a neutralidade de Lacerda numa campanha aecista, ficará difícil o PT emplacar Dilma ou mesmo Lula como favorito entre os mineiros.

Enquanto isso, em São Paulo, o maior colégio eleitoral, o recado desta temporada de eleições municipais é o de que ninguém mais canta de galo por ali. Ou seja, em 2014, todos terão condições de “pescar” votos entre os paulistanos, sem que ninguém tenha uma ampla vantagem sobre o adversário. E o Nordeste hoje, embora Lula ainda reine por lá, tem outros príncipes regentes em ascensão, entre eles, Eduardo Campos. No Sul do país, a situação do PT também não é confortável, embora Dilma tenha mais chances no Rio Grande do Sul do que os demais candidatos, porque faz política por lá. Por essas e outras contas, Minas Gerais ganhou importância maior nesse pleito para o PT. É para lá que os olhos de Dilma estarão voltados no domingo.

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