sábado, outubro 27, 2012

10 lições eleitorais - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 27/10


Os resultados das urnas de 2012 mostram mais do que qualquer exercício de futurologia. Se bola de cristal ganhasse eleição, vidente faria dinheiro como marqueteiro


A um dia do resultado do segundo turno nos municípios e a 24 meses das eleições presidenciais, mais importante do que os manjados exercícios de futurologia, o melhor é ficar com as lições do eleitor, aquele sujeito sempre pronto a desmoralizar analistas e políticos. Abaixo, 10 máximas apontadas pelas urnas este ano. E que talvez até sirvam para as eleições presidenciais — mas sem bola de cristal.

Lição um — Mais vale uma aliança partidária com tempo de tevê do que um eventual desgaste por causa do abraço no político sujo. É só ver o exemplo de Fernando Haddad com Paulo Maluf. Ao contrário do que os tucanos imaginaram, o afago do petista no ex-prefeito não trouxe prejuízos nas urnas, apenas balançou o coração de taxistas paulistanos: “Se ele abraçou Maluf, eu sou capaz de abraçá-lo”.

Lição dois — Um poste sempre pode iluminar uma cidade ou apenas servir de pipi-dog. A diferença está no padrinho do candidato. No caso de Luiz Inácio Lula da Silva, as apostas têm funcionado desde a eleição de Dilma Rousseff. Não quer dizer que prevaleçam em 2014. Até porque Haddad definitivamente ajudou, ao não cometer grandes deslizes durante a campanha em São Paulo e, assim, chegou bem ao segundo turno.

Lição três — É impossível apostar todas as fichas em apenas uma estratégia de desgaste do adversário. Se o camarada não cai fácil, é mais complicado remontar o aparato de ataque de uma hora para outra. Os partidos de oposição ao Palácio do Planalto acreditaram que o julgamento do mensalão em plena campanha eleitoral seria suficiente para minar partidos governistas. Não deu certo, é claro.

Lição quatro — Os governistas erram ao acreditar — ou pelo menos ao dizer que acreditam — que um julgamento sobre um ato de corrupção não influencia o debate político. O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) que o diga. De mais a mais, o mensalão vai sangrar e deve atrapalhar petistas ao longo dos próximos anos, com as prisões, e os saidões, de caciques do partido. O caso não acaba no Supremo.

Lição cinco — Está mais do que provado, trazer a guerra santa e debates conservadores para o centro da campanha é um tiro no pé. O tucano José Serra tentou a estratégia por duas vezes. A primeira vez, há dois anos, na corrida pelo Planalto. Agora, o camarada agarrou-se a preconceituosos. A estratégia serviu apenas para diminuir o candidato, independentemente do resultado de amanhã.

Lição seis — Se é inevitável desagradar aliados, tente mimá-los depois de a raiva ter diminuído. Irritada ao ser escanteada por Lula, Marta Suplicy só se acalmou e entrou na campanha de Haddad depois de ganhar um ministério. Até que ponto ajudou ainda é uma incógnita, mas pelo menos deu um certo ar de união entre os petistas, algo cada vez mais difícil de ocorrer nos dias de hoje.

Lição sete — As guerras internas minam completamente um candidato. Por mais que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, tenha demonstrado força ao eleger um poste, com todo respeito ao candidato Geraldo Júlio, a briga dos petistas levou o partido a uma derrota humilhante no Recife. O desastre faz com que o PT tenha dificuldades para se reestruturar na capital pernambucana.

Lição oito — Comandar o governo federal é sempre mais fácil, principalmente se o chefe do Executivo tiver uma aprovação recorde. A participação de Dilma, neste caso, foi definitiva, ao quebrar resistência dos paulistanos contrários a Lula. A presidente conseguiu levar o candidato petista em núcleos que o ex talvez não fosse capaz. Claro que tudo é mais fácil com a máquina pública na mão.

Lição nove — Os aventureiros nem sempre têm fôlego para brigar com candidatos de partidos mais consolidados. Nestas eleições, Celso Russomanno foi o maior exemplo de como o tempo de televisão e as máquinas partidárias são capazes de definir eleições na última semana. Candidatos folclóricos também foram exceção. Tal fato não é melhor ou pior para a democracia, apenas uma constatação.

Lição dez — Por último, é importante não perder espaço. Os principais partidos conseguiram manter o número de prefeituras e, assim, deixaram candidatos bem posicionados: Dilma (PT), Aécio (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Na média — entre erros e acertos —, os três ampliaram a força para 2014. O resto é futurologia. Se bola de cristal ganhasse eleição, vidente faria dinheiro como marqueteiro.

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