segunda-feira, setembro 03, 2012

Reduto ameaçado - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 03/09


O PT já fez as contas e percebeu que a possibilidade de derrota nas sete capitais do Nordeste onde o partido tem candidato põe em risco estratégias futuras


Quem tiver o cuidado de analisar a quantas andam os candidatos petistas nas capitais nordestinas entenderá os motivos que levaram o ex-presidente Lula a colocar a região como prioridade na sua agenda de viagens nesta temporada de eleições municipais. Salvador, Recife, Teresina, Fortaleza e São Luís já têm data prevista para a visita de Lula, mas ele ainda pretende dar uma força ao partido em Natal e em João Pessoa, fechando as sete em que o PT tem candidato a prefeito.

Lula é considerado a maior "arma" dos petistas para tentar reverter uma situação inusitada em solo nordestino: É que, pela primeira vez em muitos anos, os petistas correm o risco de não eleger sequer um prefeito de capital por ali.

Essa situação no Nordeste é a principal preocupação da cúpula partidária nesta temporada eleitoral. Há quem esteja mais confiante em colocar Fernando Haddad no segundo turno em São Paulo do que vencer em algum reduto importante no Nordeste.

Em Salvador, o DEM apresenta larga vantagem, assim com em Aracaju (onde o PT não disputa). Em João Pessoa, a situação do aliado José Maranhão (PMDB) é incerta, uma vez que há um empate entre ele e o tucano Cícero Lucena (PSDB). O petista Luciano Cartaxo amarga o terceiro lugar. Em Teresina, a situação do senador Wellington Dias (PT) também é difícil, numa disputa contra Firmino Filho (PSDB) e Elmano Ferrer (PTB). Em São Luís (MA), o candidato do PT, Washington Luiz, também enfrenta dificuldades diante dos índices de João Castelo (PSDB), Edvaldo Hollanda (PTC) e Tadeu Palácio (PP). Em Natal, o petismo também encontra Fernando Mineiro suando a camisa contra Carlos Eduardo (PDT) e Hermano Moraes (PMDB), ambos em melhor situação de acordo com as pesquisas registradas por lá.

Essas cidades listadas acima não estão entre aquelas da região que mais chamam a atenção do país, Recife e Fortaleza, onde os petistas também enfrentam dificuldades. Vale lembrar que, na capital de Pernambuco, há um empate técnico entre Humberto Costa (PT) e Geraldo Júlio (PSB) e, na capital cearense, a briga hoje é pela vaga no segundo turno entre Roberto Cláudio (PSB) e Elmano Freitas (PT), contra Moroni Torgan (DEM). Em Maceió, o PT não tem candidato.

Por falar em segundo turno...

O PT está convencido de que o atual cenário de seus candidatos no Nordeste pode comprometer a estratégia eleitoral futura. Afinal, não dá para esquecer que em suas três campanhas presidenciais vitoriosas o PT enfrentou segundo turno, e o desempenho do partido no Nordeste foi importantíssimo.
Na eleição de 2010, Dilma obteve 18,4 milhões de votos nos estados nordestinos, enquanto José Serra (PSDB) ficou com 7,6 milhões. No Sudeste, Sul e Centro Oeste, a diferença entre eles ficou em 275 mil votos a favor de Dilma. Serra venceu no Centro-Oeste. Ou seja, uma virada no Nordeste em favor de outros candidatos em 2014 pode comprometer o desempenho petista.

O partido já fez essas contas futuras e percebeu que, com Aécio Neves (PSDB) candidato a presidente, a diferença de 1,7 milhão de votos em favor de Dilma em Minas Gerais tende a desaparecer. E, se o PSB decidir pela candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, os votos do Nordeste que estão difíceis para o PT nesta eleição municipal também estariam sob risco. Está explicado por que os petistas estão com tanta gana sobre o PSB nesta eleição municipal e, também, por que Lula começou a sua maratona por Belo Horizonte, onde Aécio Neves participou de uma carreata no último fim de semana.

Por falar em Aécio Neves...

Depois de Serra fazer referências ao julgamento da Ação Penal 470, do mensalão, chegou a vez de Aécio Neves citar o escândalo, na carreata do prefeito-candidato Márcio Lacerda, em Belo Horizonte. À medida que o julgamento avança, vai ficando mais difícil desconhecer o tema na eleição municipal. A aposta é a de que esses dois temas podem se embolar. Resta saber se o eleitor vai nesse embalo ou se manterá as duas estações separadas. Vamos acompanhar.

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