domingo, setembro 16, 2012

Pagamento antecipado - JOÃO BOSCO RABELLO


O Estado de S.Paulo 16/09


Desconsiderada a fingida surpresa da senadora Marta Suplicy (PT-SP) ao ser anunciada a nova ministra da Cultura, sua nomeação revela um raro caso em que a taxa de sucesso é recebida antes do resultado prometido. O bônus que soma aos ganhos de um agente como valor final pelo êxito de uma campanha, ou missão, foi antecipado para o cabo eleitoral mais caro de Fernando Haddad.

Ao contrário da lógica do conselheiro Acácio, nesse caso a consequência veio antes da causa, com alguns toques de perversidade política. O primeiro e mais ostensivo, a aprovação relâmpago do projeto do vale-cultura sobre o qual a base aliada sentara em cima por toda a gestão de Ana de Hollanda. Com Marta ainda no Senado, recém-confirmada sua nomeação, a matéria foi aprovada em sessão relâmpago por acordo de lideranças.

O episódio confirma comentários de alguns intelectuais que comemoraram a mudança sob a perspectiva de uma gestão com mais "força política" na pasta. Mas também remete ao método PT de fazer política, dando a si no poder o que, na oposição, nega aos adversários, ainda que seja o melhor para o País.

Quando presidente da Câmara, em 2003, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), hoje réu condenado do mensalão, resumiu a contradição de defender a reforma da previdência, que ajudara a impedir no governo anterior, como decorrência de antes ser oposição e, àquela hora, ser governo.

A demissão de Ana de Hollanda, com o histórico e a forma que a precederam, reproduz o método descrito e fabrica o ministro incompetente ou o competente - negando a um o que dá ao outro.


De exceção a regra

Sem alarde, em um ano, o governo federal estendeu o regime especial de licitações às principais obras de infraestrutura. As regras mais simples, inicialmente restritas à Copa de 2014 e à Olimpíada de 2016, hoje alcançam os canteiros do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e da rede pública de ensino. O próximo passo é estendê-las às obras do Sistema Único de Saúde (SUS). O uso ágil e silencioso da Lei de Licitações, fatiada em medidas provisórias, alcança hoje 70% dos investimentos federais em obras de infraestrutura.

Mais forte

O bloco PTB-PR no Senado festeja o aumento da bancada com a chegada de Antonio Carlos Rodrigues (PR), suplente de Marta Suplicy (PT-SP). Com ele, o "blocão", criado para aumentar o poder de barganha junto ao governo, soma 13 senadores e vira a terceira força no Senado, atrás do PMDB e PT. Pode chegar a 14, se Cícero Lucena (PSDB) vencer em João Pessoa. O suplente é Carlos Dunga (PTB).

Cartão rexona

Em busca de mais informações, parlamentares da CPI do Cachoeira descobriram que duas mulheres do contraventor - a ex e a atual -, dividiam o mesmo cartão de crédito. Andréa Aprígio, a primeira, separou-se do marido, mas não do cartão, com o qual banca as despesas da sucessora, Andressa Mendonça, registrada na fatura como "dependente". Num dos grampos telefônicos, Cachoeira é informado que a fatura do cartão de Andressa foi de módicos R$ 62 mil.

Ventos mineiros

A nova composição de forças no Senado dentro da bancada tucana prevê a ascensão dos parlamentares mais alinhados a Aécio Neves. As costuras em andamento contemplam o senador Cássio Cunha Lima (PB) na liderança, no lugar de Álvaro Dias (PR), e Flexa Ribeiro (PA) na primeira secretaria, a "tesouraria" do Senado.

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