domingo, setembro 09, 2012

Dilma por Dilma - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 09/09


O pronunciamento da presidente foi o pontapé rumo à campanha reeleitoral, onde ela terá menos a ajuda de Lula e responderá mais por si. Não dá para esquecer que tem sido tradição o petista organizar esses projetos com antecedência

Na Semana da Independência foi dada a largada para uma inversão de papéis entre Dilma e o ex-presidente Lula em termos de protagonismo dentro do PT. Não que Lula vá deixar de lado a política, perder o posto de grande estrela petista, parar de receber as pessoas ou de fazer campanha para seu partido. Mas os movimentos de passagem de bastão são cada vez mais claros para os petistas. Na última semana foram, pelo menos, três.

O primeiro desses movimentos foi o encontro em que o ex-presidente e Dilma fizeram uma avaliação pessimista do julgamento do mensalão e ficaram com o coração apertado ao projetar um desfecho nada promissor para a antiga cúpula do partido envolvida no processo. A conversa, entretanto, serviu para outros propósitos. Um deles foi começar a traçar os cenários futuros do PT que será guiado por Dilma queira o partido ou não queira. No momento não há alternativa.

Nunca é demais lembrar que Lula tem por hábito escolher e ciceronear seus pré-candidatos com bastante antecedência. Só não o fez com Fernando Haddad nessa eleição paulistana por problemas de saúde. Em relação à presidente Dilma, Lula começou a trabalhar a imagem de candidata em março de 2008, quando a apresentou como mãe do PAC durante discurso na favela do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Portanto, se compararmos com o cronograma da próxima sucessão presidencial, a pré-campanha da presidente começa agora com um certo atraso em relação a anterior, embora ela dê sinais de que está na pista.

Por falar em pista…
O pronunciamento da presidente na última quinta-feira não foi uma simples mensagem de “é isso aí, meus amigos, Dia da Pátria, temos o que comemorar”. Dilma lançou ali as bases de uma recandidatura, transformando a sua fala no segundo movimento da semana no rito de passagem que aos poucos ela e Lula vão fazendo de forma sutil, algo percebido apenas pelos políticos que conseguem ler os detalhes de uma sucessão de eventos, e analisá-los em conjunto.

Para quem não viu o pronunciamento, Dilma defendeu nova queda nos juros, inclusive dos cartões de crédito, e prometeu ser incansável no sentido de trabalhar para o oferecimento de bons serviços aos brasileiros. De quebra, resgatou os ativos do governo Lula que a levaram à Presidência, especialmente, na área social, e deu um safanão no modelo de privatizações do governo Fernando Henrique. Dentro do PT, há quem diga que o objetivo da crítica foi marcar desde já os campos passíveis de uso pela oposição numa campanha reeleitoral, na qual Dilma terá menos a ajuda de Lula e responderá mais por si.

Por falar em campanha…
O cancelamento da agenda de Lula no Nordeste neste fim de semana por problemas na garganta pode ser classificado como o terceiro movimento rumo à passagem de bastão dentro do protagonismo petista. A ausência dele não estava no script. Afinal, o PT nunca precisou tanto do ex-presidente para ajudar seus candidatos a embalar o eleitor. As dificuldades eleitorais na maioria das capitais são visíveis e restam apenas 25 dias de campanha. Portanto, este fim de semana seria ideal para que os candidatos tivessem a imagem de Lula nos comícios, a fim de usar no horário eleitoral gratuito de rádio e TV.

Vale registrar que Lula jamais se negou a alavancar os petistas Brasil afora, em palanques, carreatas e caminhadas. Entretanto, a sua rotina e a forma como ele pode contribuir para ajudar o seu partido mudaram. Ele está curado do câncer, mas continua obrigado a se poupar, em função do tratamento a que foi submetido. Nesse sentido, fica difícil ele discursar a pleno pulmões por mais de 40 minutos, como fazia nos comícios do PT, encantando multidões. Por essas e outras que muitos acreditam que agora Dilma deva se preparar também para embalar as campanhas e o PT do futuro. Afinal, ela é o que os petistas têm de melhor e a uma distância segura do episódio do mensalão.

Por falar em mensalão…
O julgamento foi lembrado nos protestos de Sete de Setembro. Houve até quem citasse Lula em cartazes. Alguns veem aí mais uma razão para o PT ir, aos poucos, passando o bastão para a atual presidente. Da mesma forma que na campanha de 2010, o programa de tevê de Dilma reduziu, aos poucos, a participação de Lula e ampliou a da candidata, agora o partido, em câmera lenta, coloca seu eterno líder numa posição mais reservada e dá mais destaque à presidente Dilma.

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