segunda-feira, agosto 20, 2012

Planos em série - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 20/08


Os políticos são seres esquisitos. Não conseguem viver um dia de cada vez. Estão sempre olhando para o futuro como a hora da vingança, da virada, de tomar conta de espaços de poder. Alguns investem tanto tempo nisso que se esquecem de trabalhar o presente. Os planos traçados pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu no passado e para o futuro são prova disso. No início do governo Lula, em 2003, a ânsia de conquistar espaços, aliados e sufocar adversários foi tal que, mesmo partindo do pressuposto que não seja verdade a existência do mensalão, não há como negar que o partido trocou os pés pelas mãos no caminho à hegemonia. Talvez, Dirceu agora esteja agora repetindo a dose.

No ninho das águias petistas que enxergam tudo do alto, há quem não tire os olhos da movimentação de Dirceu. Essa história de voltar a presidir o PT, por exemplo, dificilmente se materializará da noite para o dia. Primeiro, o julgamento mal começou. Em segundo lugar, se tem uma coisa que não fica vazio em política é espaço de poder. Por mais que se diga que o presidente do PT, Rui Falcão, não tem todo o borogodó político que a turma de Dirceu gostaria, o espaço está ocupado e a “fila” petista segue caminhando.

Obviamente, Dirceu tem influência no partido. Sua capacidade política é sedutora. Não por acaso recebia autoridades ilustres no hotel onde se hospedava em Brasília — inclusive José Sérgio Gabrielli que, coincidência ou não, pouco depois perderia a Presidência da Petrobras. Mas partir da premissa que ele se for absolvido, volta com força total, é precipitado.

Dentro do PT, há quem esteja certo de que Dirceu, para voltar a ter o mesmo prestígio de antes, precisaria ocupar um espaço tão grande como aquele em que estava no governo Lula, ou seja, a Casa Civil. E nada indica que Dilma Rousseff ou mesmo Lula, estariam hoje dispostos a dar esse lugar ao ex-ministro. Até porque, o poço de mágoas que ele carrega por conta desse julgamento no Supremo Tribunal Federal pode comprometer o desempenho, ao ponto de turvar a visão fria que um cargo dessa envergadura requer. O mesmo vale para o comando partidário.

Diante dessas premissas, está cada dia mais claro que, se Dirceu faz planos de retorno à ribalta, dentro do próprio partido há gente torcendo para que não consiga.

Por falar em ribalta...

Lá vem o horário eleitoral gratuito de rádio e tevê, nesta terça-feira. Será a hora de se conferirem várias teses:

1) Lula tem prestígio a ponto de levantar vários nomes do partido pelo país afora?
2) A propaganda dos candidatos virá logo depois de os telejornais da noite nas diversas emissoras apresentarem as últimas notícias do julgamento da Ação Penal 470. Isso influirá na escolha do eleitor? A resposta só teremos em outubro.

Por falar em respostas...

O que está mais perto de se ver respondido na política é o futuro da CPI do Cachoeira, que parece desinteressada em investigar o laranjal do contraventor que recebia as repasses da construtora Delta. Se continuar assim, será preciso fazer a CPI da CPI. Esta semana é decisiva. Vamos aguardar.

José Dirceu faz planos de retorno à ribalta no caso de absolvição, mas dentro do próprio partido as mudanças estão em curso e há grupos torcendo para ele que não consiga.

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