sexta-feira, agosto 24, 2012

Esquenta - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 24/08

Para quem acha Brasília um marasmo em tempo de eleição municipal, desta vez a reclamação é injusta. Tão injusta quanto a defesa dos réus do mensalão terem reclamado das provas testemunhais apresentadas pelo procurador geral da República, Roberto Gurgel, quando da leitura da acusação no Supremo Tribunal Federal no início deste mês. Ontem, ao absolver o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) no caso do recebimento de R$ 50 mil via empresário Marcos Valério, o ministro-revisor da Ação Penal 470, Ricardo Lewandowski, recorreu, entre outras peças dos autos, diversas vezes a testemunhas ouvidas na instrução do processo. Foi aos detalhes a se referir à dinâmica de trabalho das agências de publicidade.

Pela primeira vez desde o início do julgamento do mensalão, a defesa sentiu verdadeiramente uma lufada de ar. O jogo chega aos 15 minutos do primeiro tempo empatado. Resta saber se foi apenas a chamada “visita da saúde” que costuma revigorar aqueles desenganados pelos médicos ou uma recuperação real.

Pelo clima de ânimo no PT ontem, a esperança da absolvição ressurgiu com força. O partido estava ansioso por um alento no sentido de oxigenar seus militantes e doadores de campanha pelo país afora — elementos cruciais na hora em que uma eleição esquenta. A voto em favor de João Paulo reacendeu essa chama. Só saberemos se foi suficiente para animar o partido como um todo e, por conseguinte, os doadores de campanha mais à frente, quando os demais ministros começarem a proferir seus respectivos votos e outros réus entrarem na roda da fortuna. No geral, avaliam os mais pessimistas dentro do PT, ainda é cedo para grandes comemorações. Afinal, se as provas testemunhais serviram para ajudar a absolver João Paulo, mais à frente podem ser sacadas contra o ex-ministro José Dirceu. Hoje está claro que essas provas são tão importantes quanto as demais. Vamos aguardar.

Por falar em comemorações…

A cúpula do PMDB era pura alegria ontem ao fazer cálculos eleitorais. Os peemedebistas têm 2.302 candidatos a prefeito. O PT, 1.795. O PSDB, 1.647. O PSD, 1.100. O PP, 1.084, e o PSB, 1.049. Se os grandes partidos repetirem a média de eleger entre 60% e 40% de seus candidatos, os peemedebistas continuarão com o maior número de prefeituras do país. Ou seja, serão uma base importante para qualquer projeto em 2014, especialmente, depois de conquistarem, daqui a cinco meses, as presidências da Câmara e do Senado. Não é à toa que o vice-presidente Michel Temer fez 900 gravações para candidatos a prefeito.

Por falar em candidatos a prefeito…

Começou a pressão de petistas ao PMDB para levar Gabriel Chalita a desistir da campanha para apoiar Fernando Haddad e, assim, tentar quebrar a onda favorável a Celso Russomanno (PRB). Por enquanto, a ordem dos peemedebistas é não tomar nenhuma atitude brusca antes de 7 de setembro, data-limite para se verificar os primeiros reflexos do horário eleitoral nas campanhas.

Por falar em reflexos…

Aliados ao governo contataram as ministras do Palácio do Planalto ansiosos por uma orientação a respeito do depoimento do ex-diretor geral do Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes Luiz Antônio Pagot à CPI que investiga os negócios do contraventor Carlos Cachoeira. Queriam informações sobre todas as obras em andamento nesse setor para rebater possíveis acusações. Ainda não tiveram acesso a toda a papelada. A esperança dos governistas é a de que a exposição de Pagot, um dos poucos que prometem falar contra o governo na CPI, é a de que qualquer fato negativo apresentado pelo ex-diretor seja tratado pela população como retaliação pelo fato de ter sido exonerado do cargo. Ali, o clima começa a ficar tão quente quanto no STF.

Nenhum comentário:

Postar um comentário