sexta-feira, agosto 03, 2012

Defesa em campo - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 03/08




Enquanto os advogados de defesa dos réus do mensalão estão no aquecimento, os petistas já têm tudo pronto para tentar evitar os estragos eleitorais ao seus filiados. A homenagem ao ex-presidente Lula ontem em São Paulo fez parte desse contexto de reforçar os aspectos positivos do governo passado poucas horas antes de os ministros do Supremo Tribunal Federal abrirem a primeira sessão do julgamento.

Para quem não acompanhou o discurso de Lula durante a homenagem recebida pelas organizações dos produtores de biodiesel, vai aqui um breve resumo da fala de meia hora dele. Lula disse que seu governo colocou 40 milhões de brasileiros no mercado de consumo, citou os programas sociais, enfim, defendeu o que considera o melhor de seu legado. Tudo com o bom humor que lhe é peculiar. Quem estivesse chegado de paraquedas ali, sem saber do contexto do julgamento em Brasília, acharia que o tema mensalão era coisa do passado, sequer citado no discurso da maior estrela petista.

Nos bastidores, entretanto, a história é bem outra. Lula tem plena consciência do estrago que esse julgamento fará ao partido. Reclama que a mídia, de uma forma geral, já condenou os réus e que os ministros do Supremo agora são pressionados a fazer o mesmo. Lula se esquece de dizer — e seus amigos também não mencionam na conversa direta com o ex-presidente — que, no início do processo, o então presidente da República se referia ao episódio como “práticas inaceitáveis”. Também não se lembra que há alguns meses, houve inclusive notícias de tentativas de influenciar o calendário do processo no Supremo.

Por falar em calendário…

Esses detalhes agora são coisa do passado. A ordem dentro do PT é enfrentar logo esse julgamento, usando Lula como garoto-propaganda dos ativos do governo. Nesse primeiro momento, a impressão entre os políticos foi a de que a estratégia do PT pode dar certo. A oposição, mais focada nas eleições municipais, não aproveitou a largada do julgamento para bater bumbo na rua ou colocar seu bloco na Praça dos Três Poderes, em frente ao edifício do Supremo Tribunal Federal, como reforço à acusação.

Nem mesmo as 24 cadeiras reservadas para cidadãos comuns que quisessem acompanhar o julgamento dentro do plenário foram usadas. Metade delas terminou ocupada por jornalistas não credenciados. Sinal de que a população está dedicada a outros afazeres, deixando a Justiça à vontade para adotar suas posições. Tampouco a oposição passou o dia em revezamento na Câmara. A sensação de recesso só não é total por causa dos poucos discursos no plenário da Casa.

Entre os oposicionistas há quem considere ser cedo para avaliar o grau de indiferença da população com o julgamento. Afinal, o brasileiro tem por norma se apresentar para torcer nas finais de torneios importantes. E, como o calendário começa com atraso, a expectativa é a de que esse movimento só surja mais ao fim do processo, daqui a um mês. Aí, explica-se o temor do PT com as eleições e o fato de tirarem logo Lula da cartola para fazer o contraditório nas ruas, palanques e auditórios.

Por falar em auditórios…

Os políticos não ficaram tão ligados no mensalão porque estavam mais interessados no primeiro debate eleitoral na tevê ontem à noite, na Band. Seguindo à risca a máxima de que a primeira impressão é a que fica, as atenções estavam voltadas para a troca de passes entre PT e PSB, adversários em Belo Horizonte e Recife. Também havia toda uma preocupação, especialmente por parte do PT, com o desempenho de Fernando Haddad, em São Paulo, o único estreante em campanhas políticas no grid paulistano.

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