quinta-feira, julho 05, 2012

A dança das cadeiras - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE 05/07

Políticos são seres esquisitos por natureza. Vivem mais no futuro do que no minuto presente. Ao mesmo tempo em que destinam os dias a fechar as alianças para o pleito municipal, planejam os movimentos seguintes e 2014 como se entre uma eleição e outra houvesse apenas uma noite no meio. Nesse sentido, o pós-eleitoral desponta forte nos bastidores. Notícias sobre a formação de novos partidos percorrem o plenário da Câmara, do Senado e até mesmo a Esplanada na velocidade de uma bala, ricocheteando por todas as legendas, sem exceção. 
O burburinho começou na semana passada, quando o Supremo Tribunal Federal concedeu ao PSD o direito de desfrutar de tempo na tevê e recursos do fundo partidário. A comemoração da turma de Gilberto Kassab enebriou outros grupos, hoje atuando como frentes em defesa de variados interesses. A bancada evangélica, sempre atenta à preservação do direito à liberdade de culto religioso e contra a descriminalização do aborto, por exemplo, soma quase 50 deputados. Em conversas reservadas, muitos de seus líderes já trabalham a construção de uma bancada.
Os ruralistas formam outro grupo poderoso. Na votação do Código Florestal, tema que retorna à pauta nessa reta final pré-recesso, seus integrantes demonstraram capacidade de execução de coreografias ousadas, obrigando a presidente Dilma Rousseff a recorrer ao veto — recurso final usado pelo governo para não expor a chefe da Nação anfitriã da Rio+20 ao risco de deixar a conferência agraciada com o troféu motosserra de ouro. Agora, não são poucos os integrantes da bancada agrícola que, reservadamente, tratam da hipótese de formação de um novo partido. Até mesmo os sindicalistas, caso de Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, hoje candidato a prefeito de São Paulo pelo PDT, olha com ares de interesse para essa perspectiva. “Vamos ver ali na frente”, comenta ele. 

Por falar em motosserra...Esses projetos, entretanto, só serão colocados em prática depois das eleições municipais. Ninguém em sã consciência, a não ser os mentores do Partido Ecológico Nacional (PEN), pretende derrubar o cenário eleitoral formando novos partidos agora. A campanha começa daqui a algumas horas e reorganização partidária virá assim que os resultados das eleições municipais forem conhecidos. 
Os partidos médios e pequenos tendem a desaparecer ou partirem para uma fusão. O DEM, que ainda guarda a altivez dos tempos em que era o poderoso PFL, tentará se segurar, desde que receba sinais de boa vizinhança por parte do PSDB. Mas é arriscada essa sobrevivência em carreira solo, sem aglutinação com outros partidos médios ou mesmo com os tucanos. Não por acaso, seus líderes se debateram como puderam contra o tempo de tevê e fundo partidário ao PSD. Sabiam que, dessa forma, a sorte deles e de muitos outros estaria lançada. A partir de agora, cada deputado tem um preço: 2 segundos e 33 centésimos, além de uma fração do fundo partidário. E, naturalmente, grupamentos novos vão se formar e gravitar em torno de nomes que representem expectativa de poder. Esse movimento começa no dia 8 de outubro, dia seguinte à eleição municipal. É o novo MR-8. 

Por falar em poder...O PSDB calcula que pode ganhar algum terreno nessa história. Afinal, a tendência é a disputa eleitoral que entra em cena nesta sexta-feira produzir mais insatisfeitos do que vitoriosos na base governista. Não podemos esquecer que o mensalão surgiu em 2005, depois das eleições municipais de 2004, quando houve estremecimentos entre os partidos da base de Lula. Um dos propulsores daquelas denúncias foi a irritação de aliados por causa da má distribuição do peso do governo entre os candidatos de partidos que conviviam em aparente harmonia na galáxia lulista. E há quem diga que basta um passo de Dilma fora da linha para que seu governo tenha problemas a partir de outubro e Aécio, se apresentar algum perfume de poder, coletará alguns grupamentos que se dirão tão independentes quanto o PSD dispostos a se deixarem atrair para o seu lado. 
Não por acaso, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, adotou o papel de porta-voz colocando a presidente fora dos palanques. O governo teve o cuidado de definir o ato de hoje em São Bernardo, com Luiz Marinho, como algo que “tecnicamente” não é campanha. A presidente sabe que não é hora de acirrar mais os ânimos exaltados pela precipitação dos movimentos de independência do PSB surgidos em Recife, com reflexos em Belo Horizonte, e outras cidades importantes onde petistas e socialistas terminaram em palanques opostos e hoje ninguém sabe onde isso vai desaguar. Sabe-se apenas que há uma ópera nova em cartaz na política e o PT avisa que vai monitorá-la de perto para que o eleitorado não caia de amores por novos cenários, obrigando seus caciques a desocupar o Palácio do Planalto no futuro. 

Por falar em desaguar...A carta de Maurício Rands se desfiliando do PT e da vida pública lembrou a muitos o movimento do atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Em 2010, Cardozo era deputado, anunciou não ser candidato a nada e se preparava para voltar à advocacia. Terminou coordenador da campanha de Dilma Rousseff ao Planalto e, de lá, para o governo.

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