sexta-feira, junho 22, 2012

Eleição versus preservação - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 22/06


Se o desenvolvimento sustentável não entrar na pauta eleitoral dos Estados Unidos e do mundo, não terá Rio+30, Rio+40 nem Rio+50 que resolva

Quem, alguma vez na vida, não se deparou com a sensação de ter encontrado a pessoa certa no momento errado? Pois é exatamente essa impressão de muitos diplomatas que, dias a fio, dedicaram-se à construção dos acordos da Rio+20. A Conferência de Desenvolvimento Sustentável é a certa. Mas o momento, à véspera de eleições nos Estados Unidos, associado à conjuntura europeia, tornou difícil maiores avanços. Mas nem tudo está acabado, perdido, ou fracassado, porque o documento foi genérico. Esses dias deixaram ao mundo noções claras do que fazer e o que não repetir.

A primeira lição que ficou é que um novo encontro desse porte, com a necessidade de tomada de posição por parte dos países desenvolvidos, não pode ocorrer no ano de eleição presidencial estadunidense. O presidente Barack Obama simplesmente não apareceu por aqui porque o meio ambiente não é a principal preocupação dos eleitores de seu país. Se fosse, ele talvez teria sido o primeiro a confirmar presença na Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável da ONU. E também o líder na hora de incluir financiamento e cifras no documento final.

Todos sabem que político em ano de eleição, em qualquer parte do mundo, faz o que deseja a população de seu país, ou, pelo menos, se esmera no sentido de agradar eleitores.

Se, no ano passado, Obama foi criticado pela imprensa americana pela visita ao Corcovado, no Rio de Janeiro, enquanto os problemas aumentavam na Líbia e na economia, imagine agora, em plena corrida eleitoral, ele “largar” os Estados Unidos para passar três dias falando de “economia verde” no Brasil, um país onde, no imaginário de muitos americanos de classe média baixa, persiste a ideia de cobras passeando no meio da rua? Nenhum diplomata americano assumirá isso de público, mas é assim que a coisa funciona.

Se o problema fosse só a eleição nos Estados Unidos, estava de bom tamanho. Mas outro problema que ninguém poderia prever era o agravamento da crise na Zona do Euro, outro fator que levou muitos países a fecharem as portas ao um documento mais contundente. Não por acaso, da cúpula do G-7 (Alemanha, Inglaterra, Itália, EUA, Canadá, Japão e França), apenas o francês François Hollande apareceu. E, se os grandes não querem se comprometer, a sociedade precisa buscar brechas para não deixar que a pequena arvorezinha da Rio+20 morra de inanição.

Por falar em sociedade…
A quantidade de protestos e eventos paralelos à Rio+20 e a enormidade de ações em curso na sociedade civil, nas empresas privadas e nas prefeituras nos levam a crer que os governos federais estão perdendo a importância na hora de definir como preservar o planeta. As dificuldades que os governantes colocam são tantas que a sociedade está se virando sozinha. Resta saber, entretanto, que força ela terá para implementar as medidas necessárias aos avanços rumo ao desenvolvimento sustentável.

O encontro dos prefeitos foi uma luz. Mostrou que nas cidades está a chave para abrir as portas e as mentes da população e, por tabela, de seus governantes. Afinal, são eles que estão na ponta para implantar ciclovias, reduzir a emissão de poluentes e adotar soluções criativas para mudar a cabeça do planeta. O prefeito de Joinville (SC), Carlito Merss, com uma medida simples e menos de R$ 100 mil, evitou que dezenas de litros de óleo deixassem de ser jogados na tubulação da cidade. Fez isso distribuindo funis às donas de casa para o recolhimento de óleo usado. Elas recolhem em garrafas pet e levam aos postos credenciados para que o material seja reutilizado na fabricação de sabão. Assim, reduziu bastante a formação de graxa nas tubulações.

Por falar em cidades…
O fato de termos eleições municipais este ano no Brasil pode ter inclusive um efeito positivo sobre essas ações. Diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, no quesito preservação ambiental, os brasileiros parecem bem mais engajados do que os estadunidenses. É hora de forçar que o ingresso de medidas de desenvolvimento sustentável entrem na pauta eleitoral como um todo, não só agora, como também de 2014 em diante. E às ONGs dos Estados Unidos, tão ferrenhas na cobrança sobre a preservação das florestas brasileiras, talvez seja a hora de colocar esse apelo ambiental na pauta da sua própria gente. Quem sabe consigam acabar com o mito de que santo de casa não faz milagre. Se ninguém cobrar, aí que esse milagre ambiental não sai mesmo.

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