terça-feira, abril 17, 2012

Uma noiva para dois - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 17/04/2012


Nas entrelinhas O PSB, nos bastidores, começa a montar uma coreografia política rumo à Presidência da Câmara. Se der certo, será o primeiro passo para tentar tirar Temer do papel de vice de Dilma em 2014



Enquanto os partidos tentam se segurar na CPI para investigar as relações de autoridades com o bicheiro Carlos Cachoeira, começa na Câmara a montagem de uma coreografia que, se der certo, pode ameaçar o casamento entre o PMDB e o PT. O principal coreógrafo é o PSB de Eduardo Campos. E o primeiro bailarino escolhido para interpretar o mocinho da história é o quarto secretário da Mesa Diretora da Câmara, Júlio Delgado (PSB-MG). PSD e PCdoB surgem como parte do corpo de baile.

O deputado do PSB mineiro vive atualmente o que podemos chamar de fase preparatória, ou seja, o alongamento. Delgado se aquece para uma candidatura ao grande espetáculo que se dará em fevereiro do ano que vem, a escolha do próximo presidente da Câmara dos Deputados. Não por acaso, há menos de uma semana, reuniu num inocente café da manhã, integrantes dos três partidos, PSD, PCdoB e PSB.

O objetivo declarado do encontro também era inocente: A formação de um bloco informal desses três personagens. O pano de fundo, entretanto, era bem outro: um aquecimento para uma candidatura de Júlio Delgado à Presidência da Câmara para concorrer contra o PMDB, leia-se, Henrique Eduardo Alves (RN), o líder da bancada que há anos figura como o nome do partido para presidir a Casa com o apoio do PT.

Por falar em PT...
Os socialistas têm vários motivos para tentar se mobilizar no sentido de lançar um candidato próprio à Presidência da Casa. Primeiro, não é segredo para ninguém a proximidade do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tanto é que o PSB não descarta apoiar Fernando Haddad em São Paulo apenas para não ferir a relação entre Lula e o governador. Enquanto isso, o PMDB segue impávido em carreira solo no cenário paulista.

A verdade é que nunca houve "aquela química" entre Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer como acontecia entre Lula e seu vice, José Alencar; ou entre Fernando Henrique Cardoso e seu substituto imediato, Marco Maciel. A pas de deux deles parece fora de compasso. Cada um dança num ritmo. Há quem diga que não é raro Michel Temer ser o último a saber de parte das decisões dela.

Diante desse cenário — a proximidade entre Lula e Eduardo Campos e as desconfianças que minam a relação PT e PMDB — há quem diga que basta o PSB se lançar rumo à Presidência da Câmara e, de quebra, ganhar adeptos, para que o casamento entre o PMDB e o PT termine. Obviamente, nenhum socialista diz de público que isso está em curso. Tampouco seus aliados citam abertamente as tentativas de tirar Henrique Eduardo Alves da pole position para comandar a Casa no ano que vem. Está tudo como no nome desta coluna, nas entrelinhas.

Por falar em PSB...
A quem pergunta o que ele fará em 2014, Eduardo Campos invariavelmente responde que não cuida desse tema com tanta antecedência. Acrescenta ainda que, no momento, está "agarrado no serviço" de governar Pernambuco. Enquanto isso, em São Paulo, aliados de Lula avisam que o sonho de vice para Lula ou para Dilma em 2014 seria mesmo o governador pernambucano. Ocorre que Dilma já prometeu mais quatro anos de casamento ao PMDB de Michel Temer, se forma mesmo candidata à reeleição. Mas, se a relação degringolar daqui para frente, paciência. Cada um seguirá seu caminho. Talvez por isso o PSB esteja tentando montar uma nova coreografia política que tire o PMDB do palco petista e lhe dê o lugar de Temer, atual marido e noivo de 2014.

Afinal, se Júlio Delgado monta uma candidatura e se lança no plenário da Câmara, atrai de quebra o PSD de Gilberto Kassab. Ele já tem uma aliança com o senador Aécio Neves em Minas Gerais e isso pode ter desdobramentos. O PCdoB se diz fechado com os peemedebistas, mas, informam alguns políticos mais desconfiados, tudo pode mudar. E o PT, bem... Parte expressiva do PT, a pedido de Lula, seguiu com o PSB na hora de fazer de Ana Arraes ministra do Tribunal de Contas da União (TCU). A divisão petista não está descartada e, de quebra, irritaria o PMDB e as conseqüências hoje ainda são tão imprevisíveis quanto a CPI do Cachoeira.

O que se sabe hoje é que a eleição municipal, assim como a CPI, vai balançar muitos coretos. E será na Presidência da Câmara onde insatisfações vão desaguar rumo a 2014. Por enquanto, estão todos no aquecimento e o PSB, ao que tudo indica, não quer ficar no fundo do palco.

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