segunda-feira, abril 23, 2012

Escolha o seu instrumento - ROBERTO ZENTGRAF

O GLOBO - 23/04/12


E, antes que venham me dizer que o meu samba é de uma nota só, já esclareço: não comentar sobre o impacto que a queda dos juros causa em nosso bolso é ficar de fora da notícia financeira do momento, quando nove entre dez manchetes falam disso... E a última coisa que desejo é deixar você, meu bom e querido leitor, atravessar no desfile. Aviso logo que continuarei na mesma partitura: pegue o seu pandeiro, a sua cuíca ou seu agogô e vamos processar as duas novas notas que entraram na melodia semana passada: a nova queda da Selic, agora a 9% ao ano, e a entrada dos dois gigantes - Bradesco e Itaú - na cruzada do juro baixo e do crédito ampliado. Vejamos hoje os investimentos!

1. Poupança: Ainda não foi afetada, já que as atuais regras permanecem intactas. Ou seja, não paga taxa de administração nem imposto de renda, garantindo ao investidor um pouco mais do que 6% ao ano. No atual quadro, é uma boa aplicação, ainda que, no longo prazo, seu histórico mostre nem sempre ter conseguido superar a inflação. Você também deverá ficar atento, pois, como já mencionado em outros artigos, se toda a economia migrará para patamares de juros mais baixos, ficará difícil justificar a manutenção dos 6% da caderneta.

2. Fundos DI: Como são constituídos principalmente por títulos atrelados à Selic, a queda da taxa impactará diretamente sua rentabilidade: estão ficando pouco atraentes, ainda mais se considerarmos que pagam taxa de administração (aos bancos) e Imposto de Renda (ao governo). Em simulação veiculada por este jornal na quinta passada, somente ganharão da poupança aqueles com taxas de administração inferiores a 1,4% ao ano, o que decerto deixará de fora um grande número de investidores sem recursos suficientes para aplicar nestes fundos mais restritos. E não percebi ainda movimento dos bancos para reduzir proporcionalmente as taxas de administração por eles cobradas.

3. Tesouro Direto: As LFTs, inteiramente indexadas à Selic, também estão rendendo menos, ainda que possam ganhar de seus concorrentes - os fundos DI - dependendo das taxas cobradas pelos fundos e das corretagens pagas em sua negociação. Os demais títulos, tanto os prefixados (LTN ou NTN-F), quanto os pós-fixados (NTN-B), também refletem as novas taxas, em queda. Por exemplo, as NTN-F, que no início de janeiro deste ano prometiam 11,32% ao ano, agora só oferecem 10,74%, enquanto as NTN-B Principal com vencimento em 2035, que antes remuneravam 5,55% ao ano (além da correção pelo IPCA), agora são oferecidas a 5,04%. Quem investiu nestes papéis no passado não tem do que reclamar, pois a queda das taxas serviu para antecipar ganhos que seriam diluídos em toda a duração dos títulos, até seus respectivos vencimentos. Como resultado, só nos três meses e meio de 2012 as NTN-F acumulam 6,02% de rendimento, enquanto a NTN-B Principal de 2035, fantásticos 13,29%, tudo isso explicado em colunas anteriores. Para quem somente agora vai entrar nestas aplicações, as taxas ainda são atraentes, considerando os prazos pactuados. E poderão repetir a dose deste início de ano, caso em novas rodadas do Copom a Selic continue sua trajetória de queda. É ficar atento para não perder a boa oportunidade, não é mesmo?

Um grande abraço e até a próxima semana!

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