terça-feira, fevereiro 21, 2012

Desfiles políticos - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 21/02/12


Ao apresentar maravilhas do governo Lula na avenida, a escola deixou a impressão de que quem fez pelo Brasil pode fazer o mesmo por São Paulo. Jogou as bases de um projeto do PT não só para 2012 como também para 2014

Se o carnaval de 2010 foi pródigo em apresentar os pré-candidatos a presidente da República, este, de 2012, pode ser definido em termos políticos como uma festa destinada a mostrar arranjos futuros e construção de enredos nos mais diversos partidos. O mais visível deles envolveu o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, criador do PSD. Ao aparecer ao lado do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, no Galo da Madrugada, no primeiro dia de folia, Kassab colocou cercas no apoio que deverá dar ao ex-governador de São Paulo José Serra. E ainda reforçou os laços com o PSB, presidido por Campos.

Kassab ficou menos de 10 horas em solo pernambucano. Fez questão de dar entrevista ao lado de Eduardo Campos antes de partirem para o desfile do Galo. Não o faria se não tivesse o objetivo de fixar alguns parâmetros atuais e futuros. Ali, se referiu a Eduardo Campos como “seu líder”, mas, ao mesmo tempo, não dispensou o apoio a Serra em São Paulo.

Para bons entendedores do PSD e fora dele, Kassab delimitou espaço e tempo: no momento, apoia Serra na província. Quanto ao futuro, prefere jogar com Eduardo Campos e não com o PSDB. Se será mesmo assim, dependerá de uma penca de fatores, inclusive da eleição paulistana deste ano e o PT.

Por falar em PT…
Enquanto Kassab fazia uma fezinha em Pernambuco, os petistas faziam seus gestos na capital paulista. A homenagem que o ex-presidente Lula recebeu da escola de samba Gaviões da Fiel, em pleno ano eleitoral, não pode ser lida como mera obra do acaso. Ao apresentar maravilhas do governo Lula na avenida, a escola deixou a impressão de que quem fez pelo Brasil pode fazer o mesmo por São Paulo. Jogou as bases não só de um projeto para 2012 como também para 2014.

Embora o presidente não estivesse na avenida, lá estavam a mulher dele, d. Marisa, a história de vida e a propaganda de seu governo. Assim como em 2010, esteve nas telas de cinema com o filme, Lula um filho do Brasil. Naquela época, maio do ano eleitoral, o então presidente planejava eleger a sucessora, como desta vez trabalha para eleger Fernando Haddad prefeito de São Paulo contra os tucanos.

Por falar nos tucanos…
Da parte do PSDB, os movimentos ficaram mais restritos aos bastidores e ao noticiário. Ao apresentar a candidatura de Serra como a “resistência ao projeto petista” de conquistar São Paulo — como fez Sérgio Guerra em recente entrevista à jornalista Cristiane Samarco, do Estadão —, o PSDB trata de nacionalizar o pleito e repor Kassab e seu PSD na órbita oposicionista.

Foi justamente para não deixar passar essa ideia de oposicionista que o prefeito foi ao Galo da Madrugada, em Recife, onde tem um aliado capaz de entender o gesto de apoiar Serra em São Paulo. Parte dos socialistas está convicta de que, para o PSB de Eduardo Campos, não é interessante deixar o PT “tomar tudo”.

Não é segredo para ninguém o modus operandi do PT, de sempre dar um jeito de impor seus candidatos sobre os dos demais partidos. E, no momento em que o partido de Lula tiver São Paulo nas mãos, dentre outras cidadelas importantes, alguns avaliam que o sonho do PSB por uma candidatura presidencial vai pelo ralo. Ocorre que, da sua parte, Eduardo Campos não tem como deixar de apoiar Haddad em São Paulo. Quer o PSB goste ou não. Da mesma forma, Kassab não pode deixar de apoiar Serra. Quer o PSD goste ou não.

Diante de tantos compromissos e dívidas de gratidão, Eduardo Campos e Kassab preferiram deixar acertado um encontro para o futuro. Se não conseguirem levar o projeto adiante em 2014, por conta das circunstâncias ou essas mesmas dívidas, podem deixar para 2018. Afinal, assim como é certeza ter o Galo da Madrugada todos os anos, é certo que Eduardo e Kassab não estão na avenida apenas para fazer figuração ou ficar sempre com o papel de coadjuvantes.

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