terça-feira, fevereiro 28, 2012

Como a gente - LUIZ GARCIA


O Globo - 28/02/12


Viajar é muito bom. Abre horizontes, produz experiências, enriquece a bagagem cultural - e, no caso de dedicados servidores do Estado, é sempre uma folga naquela chatice diária da burocracia.

No governo de Dilma Rousseff, a folga parece ser generalizada. No ano passado, as diárias pagas a servidores públicos com pé na estrada somaram R$ 700 milhões e alguns trocados. Só os ministros gastaram um milhão e outros trocados. Um dinheirão - mas o país é grande e o mundo, então, nem se fala.

É preciso registrar que os auxiliares da presidente ficaram mais em casa do que o pessoal do governo anterior. Na verdade, muito mais: 35% menos. Como não há sinal ou desconfiança de que a atual administração seja menos atuante do que a anterior, pode-se concluir que houve um esforço para acabar com uma certa farra de aeroporto no tempo de Lula.

Infelizmente, não se procurou levar os farristas a indenizarem o Estado por despesas de interesse particular. Com uma única exceção: a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, segunda colocada na lista da turma do avião - e que tem casa no Rio - foi obrigada a devolver duas diárias que recebera para vir à cidade.

Um caso um pouco mais difícil de entender é o do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Ele é o campeão das viagens, pelo Brasil e pelo mundo: botou o pé no avião 93 vezes em 2011. Em diversos casos, foram viagens de fim de semana. Seus assessores juram que todas foram a serviço da "promoção da saúde". Não dá para discutir - mas quem quiser pode desconfiar, de leve. Pelo menos, no caso dos fins de semana.

No fim das contas, deve-se reconhecer que a tal farra do aeroporto é um tanto menor do que no governo passado. Mas, como pelo menos sugere o caso do ministro Padilha, ela existe, e exige providências. Se há ministros que viajam para cumprir agendas exclusivamente políticas, os partidos deveriam pagar as contas. No caso de visitas à família e à turma da rua, são os viajantes que devem se coçar - como se fossem cidadãos comuns, iguais à gente.

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