terça-feira, janeiro 24, 2012

Sucesso acanhado - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 24/01/12


Sem medidas de impacto, Dilma Rousseff contorna crises, acena para a oposição, evita contrariar interesses e obtém recorde de avaliação

Era previsível que a presidente Dilma Rousseff chegasse bem avaliada ao fim do primeiro ano de mandato, como revelou pesquisa Datafolha.

Em junho passado, a mandatária já era aprovada por 49% dos brasileiros, em meio a período adverso, marcado pelo desgaste político que levou à demissão do ministro Antonio Palocci e por números preocupantes no terreno da inflação. Mesmo assim, sua popularidade superou os índices obtidos tanto por Fernando Henrique Cardoso quanto por Luiz Inácio Lula da Silva nesse intervalo de mandato.

Dois meses depois, em agosto, quando os problemas ministeriais se ampliavam, repetiu-se o desempenho, com 48% de ótimo e bom. Podia-se argumentar, à época, que a pesquisa não havia detectado ainda o efeito da piora do ambiente econômico, causada pelo agravamento da crise internacional.

Hoje, no entanto, constata-se que nem a desaceleração da economia nem as demissões em série de ministros sob suspeita foram suficientes para causar danos à imagem da presidente. Ao contrário, com fama de "faxineira" da corrupção e gestora exigente, Dilma subiu no conceito da população.

Medidas de estímulo à economia evitaram reflexos mais graves no consumo e na taxa de desemprego. Prevaleceu, ao fim de um ano, a sensação de um país que continua a viver tempos de bonança.

Essa percepção esclarece em parte o salto captado pelo Datafolha: dos 48% de agosto, Dilma chega agora a 59%, resultado melhor que o colhido por todos os presidentes eleitos depois da ditadura militar. Com um ano no poder, Fernando Collor alcançava 23% de ótimo e bom; Itamar Franco, 12%; FHC, 41% (no primeiro mandato) e 16% (no segundo); e Lula, 42% e 50%, respectivamente.

A diferença em relação a Lula, até certo ponto surpreendente, pode ser explicada pelo fato de o antecessor ter sido obrigado, no primeiro ano, a debelar uma perigosa crise de desconfiança com medidas ortodoxas para conter a disparada da inflação.

Dilma, por seu turno, precisou apenas corrigir rumos. Beneficiou-se do crescimento econômico acumulado nos anos anteriores e da ligação estreita com o padrinho eleitoral. Mas também foi aos poucos ganhando luz própria. Recebeu FHC no Palácio da Alvorada e mostrou-se, até aqui, menos agressiva que Lula diante da oposição e do eleitorado não petista.

Há mais, porém. Ou melhor, menos: a presidente não anunciou medidas de impacto, não patrocinou reformas, não apresentou um plano de governo. É provável que parte do êxito derive justamente dessa atitude acomodada, de quem evita contrariar interesses e administra o país só no varejo.

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