segunda-feira, janeiro 09, 2012

O tijolo voador - CARTA AO LEITOR - EDITORIAL REVISTA VEJA

REVISTA VEJA

Uma reportagem desta edição de VEJA faz um balanço dos indicadores que fecharam o ano de 2011. Mais uma vez é um alívio observar que, mesmo com crescimento menor (2,9%) e inflação mais alta (6,5%) do que as expectativas, a economia brasileira adquiriu solidez, com predomínio, ano após ano, do vetor do progresso sobre o somatório de forças negativas, tanto as internas quanto as externas. É um bálsamo ver que avançamos na segunda década de um novo século com o superávit primário acima dos 3% do PIB, fator essencial na manutenção da dívida pública em níveis administráveis – em flagrante contraste com a irresponsabilidade que afundou as economias europeias em 2011. Conforta também ver o triunfo da política econômica, conduzida com base em avaliações criteriosas da realidade e um profissionalismo apontado como padrão a ser seguido por bancos centrais de outras nações.

Mas, ao mesmo tempo, é quase desanimador constatar que resistem teimosa e burramente alguns dos antigos entraves que tanto atrapalharam o desenvolvimento de nossos processos produtivos no passado. Os números mostram que o Brasil ainda é um tijolo voador, expressão consagrada entre os economistas para descrever uma economia que, a despeito de um desenho tosco e disfuncional, persevera na sua caminhada para a frente em razão de rara combinação de circunstâncias favoráveis. No caso específico do Brasil, o tijolo voa impulsionado pela valorização internacional dos produtos de exportação, em especial o minério de ferro, a soja e a carne, dádivas da natureza que o engenho pátrio soube transformar em riqueza, mas que denotam uma indesejável dependência da demanda externa por alguns poucos itens primários. Voa pela atração de investimentos produtivos estrangeiros, que bateram em 65 bilhões de dólares no ano passado, parte disso glória da nossa conquista da estabilidade, parte consequência do tropeço das economias avançadas. Enfim, a economia brasileira mantém-se no ar menos por suas virtudes aerodinâmicas e mais pelo superavitário front externo, que produziu um saldo de 30 bilhões de dólares em 2011.

Nossas distorções paralisantes continuam na legislação tributária selvagem; nos desperdícios do setor público, que gasta muito, gasta mal e quando faz cortes economiza em investimentos sem diminuir o tamanho da máquina burocrática; na legislação trabalhista, que engessa e encarece a criação de empregos; e na educação universalizada, mas ainda de péssimo nível. Essas mazelas precisam ser fortemente atacadas em 2012, para que o Brasil possa crescer em um ritmo que permita dobrar a renda per capita em pouco mais de uma década. Isso significa crescer cerca de 6% ao ano, consistentemente, nesse período, para podermos nos sentar ao lado de Portugal e da Coreia do Sul no último vagão do comboio dos países com alta qualidade de vida. Para tanto, temos de deixar de ser um tijolo voador e adquirir os contornos leves, eficientes e modernos das economias sustentáveis e dinâmicas.

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