segunda-feira, janeiro 09, 2012

Ano imprevisível? - GEORGE VIDOR


O Globo - 09/01/12


O ano de 2011 contrariou as expectativas em relação ao desempenho das exportações. Ninguém previu um saldo de quase US$30 bilhões na balança comercial. As projeções para o comércio exterior em 2012 também andam desencontradas, variando de um superávit de US$20 bilhões a um minguado saldo de US$3 bilhões, sem que se descarte até mesmo a possibilidade de déficit.

A razão desse desencontro é o comportamento do mercado de matérias-primas e outros produtos básicos. Em 2011, a maioria das cotações das chamadas commodities atingiu patamares recordes. O agravamento da crise na Europa fez com que a Ásia tirasse o pé do acelerador e os preços recuaram, com exceção do petróleo. Mas ainda assim encontram-se em níveis jamais sonhados por agricultores, pecuaristas, industriais do agronegócio e mineradores.

Por causa dos acontecimentos de 2011, as previsões sobre o que poderá ocorrer na Europa em 2012 são sombrias. No entanto, a recuperação na Alemanha e na Grã-Bretanha começa a surpreender. Ambas já podem estar sentindo algum efeito positivo do sopro de vida nos Estados Unidos.

A economia britânica é altamente dependente dos EUA. Como está fora do euro, o centro financeiro de Londres sentiu menos a crise europeia que seus congêneres no Velho Continente. A Alemanha, por sua vez, parece estar se recuperando da concorrência dos asiáticos na produção de máquinas e equipamentos.

O comportamento das commodities será fundamental para a trajetória de economias emergentes em 2012, o que tem alimentado uma certa visão pessimista em relação ao que poderá acontecer no Brasil este ano. Mas há no horizonte fatores positivos também. Talvez seja uma precipitação sentir, desde já, saudades de 2011.

O pré-sal começa a transformar uma região do município do Rio, no fundo da Baía de Guanabara, por onde passa a Linha Vermelha, quase na confluência com a BR-040 (rodovia Washington Luiz) e a Avenida Brasil. A Petrobras arrendou parte dessa área para servir de armazenagem a equipamentos que serão utilizados tanto na exploração como na produção dos campos de petróleo. Nas áreas ao ar livre, poderão ser armazenados vários tipos de tubos, por exemplo.

Esses equipamentos deverão ser embarcados em navios de apoio no Porto do Rio, onde em determinado trecho o cais avançará cinco metros para ficar com o calado necessário à atracação das embarcações. Em cinco anos, o Porto do Rio poderá receber, simultaneamente, 12 navios de apoio. Para se ter ideia do que isso representa, em Macaé o terminal marítimo permite a atracação simultânea de seis navios de apoio.

Todo o acesso ao Porto do Rio está sendo repensado para que caminhões (em 2015 poderão ser 320 por dia só para atendimento das empresas de petróleo) transitem por ali com facilidade, prevendo-se até mesmo a construção de um pequeno túnel que evite o cruzamento dos veículos pelas atuais vias que o circundam.

Enquanto os novos acessos por terra não se concretizam, os equipamentos deverão sair da área de armazenagem arrendada pela Petrobras, embarcarão em um atracadouro no Rio Irajá e seguirão por chatas e barcaças pela Baía de Guanabara até o porto. O Irajá, hoje assoreado, o que contribui para inundações em áreas vizinhas na época de chuvas fortes, precisará de alguma dragagem.

Como o movimento de caminhões tende a crescer na Região Metropolitana do Rio, várias soluções estão em fase adiantada de estudos. Uma delas prevê a criação de um centro de redistribuição de cargas rodoviárias no quilômetro zero da Via Dutra, em local hoje ocupado em parte pelo Dnit e que em breve abrigará também um parque olímpico. Nesse centro de redistribuição, as cargas poderão ser transferidas de caminhões grandes para pequenos e vice-versa, racionalizando-se os fretes entre Rio e São Paulo (não são poucos os casos em que os veículos retornam a seus destinos quase vazios). Uma segunda rodoviária da cidade também seria vizinha a esse centro, assim como uma variante da linha 2 do metrô, partindo da atual estação de Colégio.

Nos próximos dias serão cravadas as primeiras estacas de uma ponte de concreto que acompanhará uma das margens do canal das Flexas, na Barra do Furado, entre os municípios de Quissamã e Campos, no Norte Fluminense. Sob essa ponte ficará parte de um sistema, concebido na Austrália, que reproduz um movimento similar ao que a natureza faria sem a existência do canal. Esse movimento promove uma espécie de dragagem natural e nesse caso o canal não corre risco de assoreamento. É o que falta para lá se instalarem empresas de apoio marítimo a plataformas de petróleo e estaleiros de reparo naval, que atenderão, principalmente, embarcações que navegam pela Bacia de Campos (e que, hoje, para serem reparadas, precisam se deslocar até a Baía de Guanabara).

O professor Carlos Alberto Cosenza, de quem tive a honra de ser aluno em breve curso de extensão na UFRJ no fim dos anos 70, aproveita a mensagem de Ano Novo para fazer algumas observações sobre o uso inadequado da renda média por habitante em economias de países continentais, como os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Ele considera mais útil, para efeito de análise, o uso da renda média por faixa orçamentária. No caso das classes A e B no Brasil, por exemplo, a renda média pode se equiparar a de muitos países europeus. O tamanho do país faz com que a economia brasileira tenha vários pólos de desenvolvimento em contraste com muitas regiões deprimidas.

As observações do professor foram motivadas por discussões que ocorreram a partir da previsão que a economia brasileira teria ultrapassado a da Grã-Bretanha no ranking mundial, ocupando o sexto lugar, embora a renda per capita aqui fique muito abaixo da britânica.

Segundo ele, se a média fosse um bom indicador, o clima no deserto do Saara apareceria como agradável, embora a temperatura possa variar de zero grau à noite para 50 graus durante o dia.

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