quarta-feira, dezembro 07, 2011

Muito triste - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 07/12/11


Aldo Rebelo não quis comentar a saída de João Havelange do COI, acusado de receber suborno de US$1 milhão da ISL, ex-parceira de marketing da Fifa.

Mas, a um amigo, o ministro dos Esportes disse que se sente muito triste. Aldo lembrou que Havelange foi um dos principais responsáveis pelo sucesso do futebol na Ásia e na África.

Aliás...
Um amigo de Havelange diz que, na época em que comandava a Fifa, o cargo não era remunerado. Foi daí que surgiu a idéia de ele receber uma espécie de salário indireto, para custear suas despesas, pago pela ISL.

A conferir.

Frio na careca
Lula tem reclamado de frio na cabeça depois que ficou careca.

Já...
Dilma, que ontem, pela primeira vez, viu Lula de cabeça raspada, acha que o amigo ficou parecendo “muito mais novo”.

Feltro...
Lula tem usado um chapéu de feltro preto, uma gracinha.

A luta continua
A Global Editora, que adquiriu os direitos autorais de Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Orígenes Lessa, foi notificada por Maria Fernanda Meirelles Dias. É a filha de Cecília e “herdeira de um terço das obras da mãe”.
Maria Fernanda, que enfrenta uma guerra judicial com o sobrinho Alexandre Teixeira, considera “o fato de a Global conduzir esta negociação sem sua participação um verdadeiro ultraje”.

Todos em Paris
O coleguinha Sérgio Augusto lança semana que vem o livro “E foram todos para Paris” (Casa da Palavra).

É um guia da Cidade Luz inspirado nos lugares preferidos de gente como Hemingway, Fitzgerald e Gertrude Stein.

Divulgação
O VIADUTO NEGRÃO de Lima, que une os dois lados de Madureira separados pela via férrea, começa a ganhar nova forma. Repare na estrutura de concreto que é erguida a seu lado pela prefeitura do Rio. O viaduto será duplicado para receber o BRT TransCarioca. A obra, orçada em R$60 milhões, deve ficar pronta no primeiro semestre de 2012. Vamos torcer, vamos cobrar

Febre espanhola
Sexta, a carioca Alice Tosatto, 42 anos, foi deportada de Madri quando seguia para Lisboa, onde vive o marido, Elias Santana.

Ficou detida 24 horas numa sala, sem banho, com travestis e supostas prostitutas latinas.

Veja só...
O Brasil recebeu de braços abertos muitos trabalhadores espanhóis no século passado. E nova leva é esperada agora com a Espanha na UTI.

Mas a recíproca não é verdadeira. Esta turma quer o “venha a nós”. Ao “vosso reino”... nada.

Nudez castigada
Nana Gouvêa, a modelo, foi derrotada na 6ª Câmara Cível do Rio numa ação contra a revista “Sexy”. Pedia indenização por uso indevido de imagem.

A boa alega que uma foto sua, de 2005, ficou no site da editora após o previsto em contrato.
Não é o papai
A 10ª Câmara Cível do Rio condenou uma mulher a pagar R$10 mil ao ex-namorado.

É que, após o fim do romance, o rapaz foi procurado pela ex, grávida supostamente de um filho dele. Ele registrou a criança, mas, impedido de conviver com o bebê, foi à Justiça e fez um exame de DNA. Resultado: o miúdo é... do Ricardão.

UPP S/A
Sérgio Cabral enviou à Assembleia projeto de lei para abrir microcrédito nas comunidades pacificadas.

A Investe Rio será a gestora dos financiamentos.

Até tu, Sérgio
Cabral furou a fila da noite de autógrafos do livro de Eike.

Aliás...
Sempre Ele Batista recebeu 30 projetos e uma pilha de currículos de gente que entrou na fila de autógrafos de seu livro, segunda.

Muitas emoções
Produzida pela DC Set, de Dody Sirena, empresário de Roberto Carlos, a premiação dos melhores do Campeonato Brasileiro, segunda, em São Paulo, não primou pela organização.

Calma, gente
A rivalidade entre Rio e São Paulo não parou na vitória do Corinthians. Ontem, um carioca foi ao supermercado Prezunic, em Botafogo, no Rio, e chiou:

— Estes tomates estão horríveis!

Um vovozinho comentou:

— Sabe o que é? Os melhores eles mandam para São Paulo!

O PIB embala sonhos - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 07/12/11

O binômio PIB baixo-inflação acima da média anunciado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deixou os operadores políticos do governo Dilma Rousseff em estado de alerta máximo. A ordem entre eles é manter o que o dito popular chama de um olho no gato e outro no peixe. O peixe, no caso, os números da economia, que precisam de cuidados e de um ambiente estável e sem sobressaltos para que não piorem ainda mais. O gato ou os gatos em questão são os políticos que observam tudo, só esperando a hora de "fisgar" o poder.

O PIB nulo do último trimestre - e a perspectiva de um 2012 bom, mas não ao ponto do que foram 2009 e 2010 no Brasil em comparação ao dito primeiro mundo - leva vários atores políticos a prepararem jogos diferentes rumo às eleições municipais do ano que vem e à sucessão presidencial de 2014.

A primeira peça que se remexe quando o assunto é PIB é o ex-governador de São Paulo José Serra, que mantém as esperanças de concorrer à Presidência da República daqui a três anos. Em conversas reservadas, Serra tem avaliado que a economia fará com que Dilma chegue enfraquecida à própria sucessão e que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) terminará abrindo mão da candidatura. Nesse quadro, sobrará para ele, Serra, representar os tucanos.

Do ponto de vista gerencial, a aposta é a de que a administração em 2011 foi devagar quase parando - uma tese que o PIB corrobora. Além da série de escândalos, a oposição acredita que várias áreas estão um marasmo - por exemplo, há tempos não há rodadas de licitação para lavra de petróleo e a regulamentação da concessão de energia até agora não chegou ao Congresso.

A parte serrista do PSDB, entretanto, esquece de combinar o jogo com os demais atores. Dilma mantém uma boa avaliação perante o eleitorado e entende de economia. Não por acaso, seu governo baixou impostos da linha branca, com a esperança de desovar estoque e recuperar um pouquinho da atividade econômica. E ainda tem três anos pela frente. Vale lembrar que, em 2005, quando houve o escândalo do mensalão, todos davam Lula como liquidado. Para completar, Aécio Neves está cada vez mais candidato, o que não deixa a Serra outra opção a não ser concorrer à Prefeitura de São Paulo e torcer para que o atual quadro econômico prejudique o PT e seus aliados na eleição municipal.

Há ainda outros atores nessa história. Ainda que Serra tente anular a novidade Aécio dentro do PSDB, nem o governo nem o ex-presidente Lula estão parados esperando o gato fisgar o peixe do seu aquário. Assim como os tucanos, o petista tem consciência de que seu partido não governará o país para sempre. Por isso, tem trabalhado como um leão para evitar a fadiga de material petista - a própria candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República no ano passado e a de Fernando Haddad a prefeito de São Paulo são prova disso.

Mas a amigos Lula tem dito que o PT tem que se preparar para ser parte da vitória de alguém. E esse alguém, na visão do próprio Lula, pode ser o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Quem acompanhou com atenção o discurso de Eduardo Campos na última sexta-feira percebeu que ele falou muito de economia - não só da crise europeia, como dos reflexos no Brasil. Ele não tinha o dado do PIB. Mas, ontem mesmo, seus aliados diziam que ele já estava se preparando para passar o fim de semana estudando os números, como um aluno bastante aplicado.

Assim como o PT, o PSDB e o PSB, todos os partidos se debruçam hoje sobre o PIB nulo na tentativa de prever um futuro ainda incerto do ponto de vista econômico e político. O PT, para segurar o poder. Os outros, de olho em conquistar prefeituras e preparar uma carreira solo rumo a 2014. Até o DEM, que reuniu sua comissão executiva ontem, planeja concorrer à Presidência da República embalado no sonho de oferecer um futuro melhor do que o PIB nulo desse trimestre - afinal, se do ponto de vista social, muitos se julgam incapazes de bater o time de Lula, o segredo talvez esteja mesmo na economia. Essa novela começa agora.

Vidas secas - MARTHA MEDEIROS


ZERO HORA - 07/12/11
Não é Graciliano Ramos, não é sobre o sertão, mas o filme francês O Garoto da Bicicleta também tem na aridez a sua força. Nada é úmido, nada é aguado, nada transborda no filme dos irmãos Jean Pierre e Luc Dardenne.

O garoto Cyrill, interpretado magnificamente pelo ator Thomas Doret, corre ou pedala em quase todas as cenas. Corre atrás de um pai que não o ama, corre atrás de uma infância que lhe foi interditada, corre atrás de promessas de afeto, corre atrás de si mesmo sem nem saber por onde começar a procurar-se.

Em cerca de 90 minutos de projeção, ele dá apenas dois meios sorrisos, o que equivale a um só, e contido. No resto do tempo, carranca, seriedade, perplexidade com um mundo que lhe virou as costas. Só quando enfim aceita a ideia de que tem um pai imprestável que nunca lhe dará os cuidados e o amor necessários, é que percebe que existe um anjo a seu lado.

O mais curioso no filme é o comportamento desse anjo: uma cabeleireira bonitona que poderia estar tocando sua vida sem nenhuma responsabilidade maior a não ser trabalhar e namorar, mas que se compromete a cuidar de um guri surgido do nada, que nem parente é. Por que ela topa abrir mão da sua tranquilidade para ser guardiã de um menino-problema?

Porque sim. Só por isso.

Poderia ser uma história sentimentaloide, mas não há meio segundo de sentimentalismo no filme. Muito estranho. Não estamos acostumados com essa escassez de drama, ao menos não aqui, abaixo da linha do Equador, onde vivemos tudo entre lágrimas e sangue, amores e ódios líquidos.

O filme mostra um menino de prováveis 11 anos, talvez 12, não mais que 13, levando todas as bordoadas que a vida pode lhe dar e mais algumas, e uma moça segurando a barra dele como se fosse uma questão de destino apenas, e não de uma escolha. Ninguém chora, ninguém berra, ninguém reclama, ninguém se exalta. E nessa economia de demonstração externa dos sentimentos, saltam no filme as dores silenciosas.

Elas. As dores silenciosas. As mais contundentes.

É um filme amparado por dois personagens extremamente raçudos. E eu fico me perguntando: quantos raçudos há entre nós? Quantas crianças que tiveram amor sonegado, que levaram essa recusa de afeto como se fosse uma pedrada na cabeça, que se deixaram cair pelo desânimo, cansaço e frustração, mas que tiveram que levantar, mesmo alquebrados, e seguir vivendo do jeito que era possível?

A maior sacanagem do mundo é não dar amor a quem não espera outra coisa. Um filho não espera outra coisa dos pais.

A maior bênção do mundo é receber amor de quem a gente menos espera. E esse amor pode vir de qualquer um.

Conselhos de um doidão - MARCELO COELHO


FOLHA DE SP - 07/12/11


Uma compreensão dos erros talvez seja essencial para a recuperação de todo alcoólatra ou drogado


Terapeutas, médicos, professores e sacerdotes que se cuidem. Acaba de sair um livro de alto impacto para adolescentes com problemas de drogas, alimentação, sexo e relacionamento.

Sua maior qualidade está em evitar aquele ar de "estou-entendendo-tudo-mas-na-verdade-não-estou-entendendo-nada", que parece tão comum quando adultos civilizados tentam conversar com adolescentes.
O autor não é criança (tem mais de 60 anos), mas sua capacidade de falar palavrões, inconveniências e maluquices manteve-se intocada.

Trata-se do roqueiro Ozzy Osbourne, que aparece na capa eufórico, vestido de médico, injetando substâncias suspeitas na própria cabeça.

"Confie em Mim, Eu Sou o Dr. Ozzy" (editora Benvirá; R$ 39,90, 264 págs.) reúne os textos que o vocalista da banda Black Sabbath escreveu para uma coluna de aconselhamento no "Sunday Times", com a colaboração do jornalista Chris Ayres. Ayres cobriu a guerra do Iraque e é autor de um guia sobre como escrever textos jornalísticos em áreas de conflito.

Pelo título do livro, "Reportagem de Guerra para Covardes", pode-se ter ideia de sua contribuição, em termos de autodeboche e originalidade, para os textos de Osbourne.
Mas o roqueiro é a estrela, é claro, desse engraçado e sábio manual de ajuda para adolescentes de todas as idades.

"Provavelmente, há ratos nos laboratórios do Exército dos Estados Unidos que viram menos substâncias tóxicas do que eu", diz Ozzy -e completa: "É incrível que nenhuma dessas merdas todas tenha me matado".

Ele chegou a dar positivo num exame de HIV, tão baixa a sua imunidade. Movido a drogas e álcool, tentou assassinar a própria mulher.

Recebeu tratamento antirrábico por ter devorado um morcego no palco. Fez tais e tantas que terminou sendo expulso de sua banda, que não era propriamente especializada em música evangélica.
Está em plena forma, assim, para escrever sobre o assunto com grande intimidade e descontração. Sua experiência com vexames e bebedeiras também o ajuda a tratar de outros assuntos.

Tome-se, por exemplo, o caso do sr. Leo, de Maryland, nos Estados Unidos. Ele escreve a Ozzy porque se preocupa com um início de calvície. Não é um problema que atinja o célebre roqueiro (que declara tingir a cabeleira). Em todo caso, ele dá sua opinião.

"Embora seja possível comprar ótimas perucas hoje em dia, a maioria delas é ridícula. Uma vez, num bar em Nova York, sentei ao lado de um sujeito com a pior peruca que eu já tinha visto na vida. Parecia que um gato tinha morrido em cima da cabeça dele."

Nada sóbrio naquela ocasião, Ozzy não teve dúvidas. "Arranquei a peruca e a usei para enxugar a cerveja que eu tinha derramado. O cara ficou pê da vida. Mas, se isso o ensinou a ser careca e a ter orgulho disso, eu fiz um favor a ele."

Vê-se, pelo trecho, que Rodrigo Leite fez um bom trabalho na tradução. Seria fácil estragar a torrente de coloquialismos e palavrões que confere tanta graça e naturalidade ao texto.

Uma compreensão amistosa dos próprios erros (que não se confunde com a complacência) talvez seja essencial para a recuperação de todo alcoólatra ou drogado. Não é à toa que os grupos de ajuda, reunindo adictos para conversarem entre si, fazem tanto sucesso.

Osbourne não faz pouco de seus erros e dos enormes riscos por que passou. Mas o caso do homem da peruca dá ideia de uma atitude essencialmente saudável de sua parte. Ele vê a loucura em si mesmo mas também o ridículo dos outros, e conclui pela possibilidade de que tudo, afinal, pode se converter em aprendizado, se as pessoas não se levarem muito a sério.

Com todo o humor anárquico, o livro nunca ultrapassa o sinal: sempre repetirá, página depois de página, que o importante é abandonar o consumo das drogas e não abusar de álcool.

Sua sabedoria não se confunde, todavia, com pregação. A um pai preocupado com as roupas escandalosas da filha adolescente, Ozzy responde que "infelizmente, todos os pais de meninas precisam passar por esse estágio na vida" e que, provavelmente, a garota de fato quer atenção masculina... sendo que precisará descobrir sozinha a diferenciar os tipos certos dos errados.

Lições de respeito desse tipo não faltam no livro; talvez só quem tenha se desrespeitado tanto seja capaz de apresentá-las sem parecer ter nascido em outro planeta.

Região inquieta - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 07/12/11

Encerrado ontem o segundo turno da primeira de três fases das eleições parlamentares, o Egito se vê diante de uma realidade política inesperada: os partidos islâmicos começaram o processo eleitoral recebendo cerca de 60% dos votos, proporção que deve ser confirmada nas próximas etapas, mesmo com uma participação menor do eleitorado.
O fato de o partido Al-Nour, líder do bloco ultraconservador salafista ter recebido cerca de 25% dos votos foi mais surpreendente que a votação do Partido Justiça e Liberdade, braço político da Irmandade Muçulmana, já previsto como o favorito das eleições.
O que se esperava, no entanto, é que os liberais ficariam em segundo lugar e poderiam compor um governo de coalizão com PJL, colocando em minoria os salafistas radicais, como aconteceu, por exemplo, na Tunísia, onde os salafistas tiveram baixa votação e procuram ganhar influência política na Constituinte através de ações radicais nas ruas e nas universidades.
O partido islâmico moderado Ennahda, que saiu vitorioso na eleição tunisiana, comanda os trabalhos da Constituinte tendo que fazer acordos com os partidos moderados, e não tem força política para impor suas decisões, mesmo tendo sido o mais votado.
Ao contrário, o partido da Irmandade Muçulmana no Egito teve uma votação que lhe dá amplo domínio de uma futura coligação partidária - se a votação de cerca de 40% for confirmada nas próximas etapas -, não havendo necessidade de buscar o apoio dos salafistas, dos quais até o momento o PJL procura se afastar publicamente.
O receio dos meios políticos não apenas egípcios, mas de toda a região, é que a Irmandade Muçulmana acabe fazendo um acordo com os salafistas, relegando a segundo plano os liberais e moderados.
Com cerca de 60% ou mais do futuro Congresso, os islâmicos poderiam montar um governo que seria o contrário dos ideais democráticos que mobilizaram as massas da Praça Tahir e derrubaram o governo Mubarak.
Aliás, os partidos islâmicos que venceram as eleições no Marrocos, na Tunísia e no Egito, por mais moderados que sejam, não estiveram à frente dos movimentos populares da Primavera Árabe, mas tiveram organização para se mobilizar na campanha eleitoral e se impor nas urnas, oportunidade que lhes foi dada pela democracia laica que se pretende implantar na região, e que eles podem vir a ameaçar.
Os analistas do islamismo político advertem que a unidade que demonstravam nos anos em que foram reprimidos pelos governos ditatoriais da região não existe na realidade.
De fato, eles atuam em várias correntes: o nacional-islamismo das Irmandades Muçulmanas, espalhadas por todo o mundo árabe e muito fortemente entranhada na população, em especial no Egito, como indicam os resultados eleitorais de um partido que estava na clandestinidade há anos; o movimento salafista, ultraconservador, que por sua vez se divide em correntes que não querem fazer política eleitoral; os reformistas que querem participar da política partidária, e o dijhaistas, a corrente mais radicalizada.
Os Estados Unidos e Israel acompanham com cautela os acontecimentos do Egito, país que irradia sua influência na região.
O temor é que os salafistas, em uma aliança política com a Irmandade Muçulmana, consigam impor alguns de seus conceitos com respeito aos direitos humanos, especialmente às mulheres.
Caso isso venha a acontecer, o retrocesso pode se alastrar por toda a região, dando força política mesmo às correntes minoritárias como as da Tunísia, que não tiveram resultado eleitoral expressivo, mas tentam impor nas discussões da Constituinte temas como a separação de homens e mulheres nas universidade.
A influência dos salafistas, por exemplo, está fazendo com que os cristãos coptas temam por seu futuro no Egito. Nesta terça-feira mesmo, o jornal estatal egípcio Al-Ahram publicou uma entrevista com Yasser Burhami, líder do Chamado Salafista, grupo de onde saiu o partido Al-Nour, dizendo que só aceitaria que os coptas (cristãos) concorressem a cargos públicos se "Estados Unidos, Reino Unido e Israel" aceitassem presidentes muçulmanos.
O governo salafista também proibiria que bancos cobrassem juros e imporia regras para turistas, proibindo nudez e álcool.
Embora seja improvável que esse grupo tenha condições de impor tais ideias em um futuro governo egípcio, especialmente devido às pressões do Ocidente, o radicalismo pode fazer com que as Forças Armadas, que no momento detêm o poder no Egito e não dão mostras de querer abrir mão de seus privilégios, encontrem justificativas para controlar as rédeas políticas, terminando com o sonho democrático da Primavera Árabe.
Na Tunísia, as Forças Armadas estão completamente fora do poder, assumindo suas funções constitucionais, e esse perigo praticamente não existe.
Para colocar mais lenha ainda na fogueira, há análises militares que temem um conflito armado na região com base em recentes atitudes de governantes de Israel e da Síria.
Apesar de pressionada pela Liga Árabe e pela ONU, a Síria dá mostras de resistência militar, e fez no último dia 3 manobras militares ao Sul de Palmira, testando mísseis de longo alcance "para confrontar possíveis ataques", de acordo com nota oficial.
Vinte e quatro horas depois, o primeiro-ministro de Israel, Netanyahu, em uma homenagem em memória do fundador de Israel, David Ben-Gurion, disse uma frase que para muitos quer dizer que Israel se prepara para a guerra com o Irã, embora ele não tenha sido direto.
Garantiu que Israel sempre terá a "coragem" para tomar as decisões certas para "salvaguardar nosso futuro e segurança".
Num movimento político de surpresa, ele anunciou que seu partido, o Likud, fará eleições antes de janeiro próximo, dois anos antes do marcado.
Como Netanyahu não está sob pressão interna nem da opinião pública, a interpretação é que de ele quer dar uma demonstração de força política para respaldar uma decisão dramática para compensar uma eventual falta de apoio dos Estados Unidos.
Para completar o quadro, há informações de que tanto Estados Unidos quanto Rússia têm uma anormal força naval próxima a Síria e ao Irã.

Último desejo - SONIA RACY

O Estado de S.Paulo - 07/12/11

Pode ter confusão caso Dilma resolva privatizar o aeroporto de Guarulhos. O terreno foi doado pela família Guinle à União, em plena Segunda Guerra, com a condição de ser construído, ali, um aeroporto militar. O que foi feito em parte da área. O restante foi transferido à Infraero, em 1972.

Tudo certo, até aí.

Desejo 2
Este ano, Dilma promulgou lei desvinculando a Infraero da Aeronáutica, cabendo agora à Secretaria de Aviação Civil, órgão da Presidência, atribuir as novas funções da estatal.

Portanto, sai Aeronáutica, entra União, o que já desfiguraria a doação. Se privatizar.

Desejo 3
A Secretaria de Aviação Civil não comenta o caso. A Infraero garante que a condição imposta pela família Guinle era de que o terreno fosse usado para fins aeronáuticos. Apesar de a Aeronáutica ter saído, os fins continuariam os mesmos. A Aeronáutica, por sua vez, informa que a questão deve ser resolvida pela Presidência da República.

Luzes, elas
Volta à baila a venda do Grupo Rede, de Jorge Queiroz de Moraes, por meio do Bradesco. Interessados? Light e CPFL.

A Rede nega.

Timing poético
Depois do discurso deSerra, no jantar de arrecadação de fundos para o PSDB, anteontem,Zé Aníbalatacou em versos. “Não faz mal que amanheça devagar. As flores não têm pressa, nem os frutos. Sabem que a vagarosa dos minutos adoça mais o outono por chegar”.

Corrida eleitoral
Bruno Covas, Zé Anibal, Matarazzoe Tripolid evem participar de mais três debates eleitorais em janeiro, organizados pelo tucanato paulista.

Também estão em tratativas para levar a discussão à Record News, com mediação de Heródoto Barbeiro, e à TV Cultura.

Oportunidade
Após desistência da El Al em voar do Brasil para Israel, quem estuda entrar na rota é a TAM.

Questão elementar
O documentário Belo Monte, O Anúncio de uma Guerra, de André D’Elia, bateu recordes na internet esta semana.

Como? Estabelecendo-se como maior projeto de crowdfunding do Brasil. Arrecadou R$ 115 mil por meio de 2.822 doadores em 15 dias. Desbancando a Banda Mais Bonita da Cidade. Aliás, James Cameron gostou tanto do trailer, que o postou no site de sua ONG, Amazon Watch.

Eu e eu mesmo
Luan Santanae as duplas Zezé di Camargo& Lucianoe Victor & Leoforam escolhidos para estrelar companha da Friboi (ver ao lado). Passaram a tarde de anteontem gravando em açougue de Moema. Com direito a “dublê”.

Eu mesmo 2
Sim. Para cada sertanejo foi criado um bonequinho à sua imagem e semelhança. O de Victor tinha cabelos brancos, mas o cantor não gostou. “Pedi castanho, não queria ser o vovô da turma”.

Luciano, que não come carne vermelha, ficou “a cara de um personagem de O Auto da Compadecida”, brincaram.

Eu mesmo 3
Zezé, olhos vermelhos de cansaço, usou colírio antes de gravar. E ironizou: “Falei que aquela coisa de maconha não ia dar certo”.

Na porta, fãs se esgoelavam. Ainda mais quando uma ratazana quis invadir o set. O bicho saiu mais assustado do que os presentes.

Alto astral
Gilberto Gil, ministro de Lula de 2003 a 2008, ainda não falou com o ex-chefe desde a notícia do câncer. Mas tenta contribuir, bem a seu estilo, para sua recuperação: “Mando energia positiva todos os dias, ao fazer minha ginástica matinal”, disse.

Vida real
Além da quimioterapia, Lula fará exames, no começo da semana que vem, para saber como está reagindo o tumor.

Grandeza
A Casa Imagem, inaugurada pela Secretaria de Cultura, guarda um segredo: painel fotográfico de 18m x 2,8m de altura.

Clicada em 1918 por Valério Vieira, é uma panorâmica de Sampa – medalha de ouro na Feira Internacional de Saint Louis, em 1922, como maior impressão fotográfica do mundo.

Ética e poder = papéis e atores ROBERTO DaMATTA


O Globo - 07/12/11

Recebi de uma grande atriz, Arlete Salles, uma mensagem lembrando que, ao classificar como ator um ministro mentiroso, eu ofendia a classe artística. Ela teria razão caso não tivéssemos em mente que as artes foram engendradas pela vida e não o contrário. Como diz Ferreira Gullar: a vida não é suficiente (e por isso precisamos das artes).

A "vida real", com seus papéis (e funções) bem marcados, como o de rei, rainha, bispo, plebeu, pai, mãe, trabalhador, ministro, marido, político, professor etc... existe como o "aqui e o agora" do qual não podemos escapar. Esse foi o "princípio de realidade" que simultaneamente desenvolveu a dança, a musica, e toda a dramaturgia que permite ver a vida como ficção: como alguma coisa que permite renascimento, compaixão, redenção e plenitude. No teatro, mente-se quando se representa um papel; mas um ministro mentir, um presidente abusar do seu cargo ou um delegado mandar matar não ocorre num palco onde a peça se repete todo dia e na qual os mortos (que fingem morrer) voltam a viver porque aquilo não é coisa de verdade, mas de novela. No drama, há um inicio, um meio e um fim; mas a vida só termina para os mortos: os que deixam o palco definitivamente.

Insisto em falar de atores e papéis para focalizar um tema fundamental da democracia. A velha oposição entre esquerda e direita acabou; a segmentação petista clássica entre nós, os do bem, e eles, os do mal, liquidou-se com o mensalão e toda essa mentirada ministerial envolvendo as ONGs como indústria. Hoje, o desafio é superar o muro entre transparência e obscuridade; entre o legal e o moral; entre a ética que enobrece e o poder que brutaliza. Entre o estado e a sociedade para fazer com que ambos tenham como referência exclusiva o Brasil como um todo, transcendo vaidades pessoais e escusos interesses partidários.

Estamos fartos de testemunhar picuinhas do poder, motivos do poder, desculpas e blindagens partidárias do poder que secam oceanos de dinheiro e tornam inimputáveis certas pessoas e cargos. O que dizer quando a presidente decide bater de frente com a sua Comissão de Ética?

Queremos uma coletividade integrada e íntegra. Nela, o Estado fala com a sociedade por meio de uma maquina administrativa, guiando-a nos seus projetos e conflitos; mas ele também ouve a sociedade quando ela quer legislações (Ficha Limpa, por exemplo), deseja apurar custos e, acima de tudo, quando ele demanda bom-senso.

Queremos que sociedade e estado estejam submetidos a um mesmo código de ética. Não é mais possível conviver com uma máquina estatal cujas engrenagens e atores estão acima do bem e do mal. Não precisamos de pais e mães, exigimos um governo de presidentes, senadores, deputados, governadores, magistrados, prefeitos, procuradores, policiais, ministros e corregedores responsáveis - conscientes dos seus papéis e enredos.

O Brasil precisa mais de um projeto que integre pessoas e papéis do que de planos mirabolantes e óbvios porque são inexequíveis. Um país rico é, sem dúvida, um país sem pobres e famintos, mas é sobretudo um país no qual as instituições destinadas a liquidar com a indigência e a fome trabalhem com afinco e sejam dirigidas por gente honesta.

Estou falando no deserto? De modo algum. Numa importante entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" (em 28 de novembro), José Eduardo Martins Cardozo, nosso ministro da Justiça, toca em alguns destes pontos com claridade e veemência, quando se refere - entre outras coisas - a um alegado conluio das corregedorias. O corporativismo que "blinda" e eventualmente produz corrupção nada mais é do que a apropriação pelos atores de papéis que pertencem ao estado e à sociedade à qual ele deveria servir.

O segredo do bom desempenho de um papel está na consciência dos seus limites. Não se pode "fazer" Julio Cesar usando um relógio de pulso. O papel não pertence ao ator, mas ao autor e ao drama. Por isso a observação feita pelo ministro Cardozo segundo a qual "é mais fácil modificar um governo do que uma cultura" é não somente correta, mas importante como um tema a ser profundamente debatido.

Do mesmo modo, o papel de ministro não é de X, Y ou Z, mas do governo e do Brasil. Todo mundo distingue teatro de política, embora haja teatro na política e vice-versa. Mas quando Hitler manda exterminar judeus ou um governo autoritário persegue opositores, isso não é teatro. No teatro, salvo acidente, ninguém morre de verdade.

Papéis sociais permitem muitas inovações. Mas aqueles que são corporativos e outorgados através de uma investidura (ou investimento - aquilo que "veste" seus ocupantes que não são atores), sobretudo os que são obtidos por nomeação ou eleição competitiva e liberal, esses fazem com seus ocupantes sejam seus "cavalos" e não os seus cavaleiros. Numa sociedade de massa, globalizada, na qual a informação circula em tempo real; numa democracia cuja bandeira é liberdade e igualdade, exige-se um mínimo de coerência institucional, e essa coerência é regulada pelo ajustamento entre as demandas dos papéis e as capacidades das pessoas que os ocupam.

A abolição da hereditariedade de papéis públicos é o fato mais básico das democracias modernas. O outro, é a sujeição à regra da lei de todos os seus membros. Não são as pessoas que mandam nos papéis, mas o justo oposto.

Sem distinguir papéis e atores ficamos prisioneiros de maquinações. A pior foi mencionada pelo ministro da Justiça. É, de fato, impossível acabar com a corrupção, desde que não se abandone a luta contra ela. No centro deste combate está a obrigação de não confundir pessoas com papéis.

Por baixo do pano - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 07/12/11


A votação da DRU não é a principal preocupação do governo Dilma na reta final de votações no Congresso. A tensão maior está relacionada à aprovação, em tempos de crise internacional, de aumento salarial para o Poder Judiciário. O problema é que os principais líderes da base aliada, inclusive do PT, têm simpatia pelo reajuste, que pode gerar movimentos de reivindicação em cascata. Os envolvidos na negociação querem dar um reajuste de cerca de R$ 1 
bilhão para o Judiciário.

SAINDO DO FORNO. 
Está pronto o novo plano de combate ao crack e ao crime organizado. O plano do ministro José Eduardo Cardoso (Justiça) será lançado pela presidente Dilma, e prevê a criação de um sistema nacional integrado de identificação digital, que poderá ser acessado em qualquer estado do país. Será anunciado também uma nova fórmula para agilizar a venda de bens móveis e imóveis que estão em nome de traficantes.

Carteiraço
Antes da votação do Código Florestal ontem, no Senado, a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) leu pronunciamento do Bispo de Jales (SP), Dom Demétrio Valentini, contestando a CNBB e defendendo a aprovação do novo Código.

Caos aéreo
A mala do deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ) desapareceu a caminho da Conferência do Clima, em Durban. Já a do deputado Mendes Thame (PSDB-SP) foi arrombada e saqueada. Os dois saíram do Aeroporto Internacional de Cumbica (SP).

Sinceridade
O senador Fernando Collor (PTB-AL) sugeriu ontem à ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), em reunião do PTB, que ela pedisse ao governo para fazer projeções de aumento de gastos com a Saúde, já que, se depender da equipe econômica, segundo ele, nunca vai haver dinheiro. A ministra respondeu que não havia chance de ela levantar essa discussão no governo. “Então pelo menos leve a sugestão em meu nome”, disse Collor.

Arremate
Na condição de porta-voz do Movimento Leonel Brizola, o ex-deputado Vivaldo Barbosa agora quer apear o ex-ministro Carlos Lupi da presidência do PDT. Ele diz: “A volta dele seria o o fim do partido e a degradação moral do PDT”.

Um símbolo
A juíza Patrícia Acioli, assassinada em agosto, será agraciada com o Prêmio dos Direitos Humanos. A filha receberá a homenagem in memoriam das mãos da presidenta Dilma Rousseff e da ministra Maria do Rosário, na próxima sexta-feira.

DISPUTA no DEM para suceder o deputado ACM Neto (BA) na liderança da bancada na Câmara. Estão na corrida os deputados Pauderney Avelino (AM) e Mendonça Filho (PE).

CRIADA nova tendência no PT. Seu nome de batismo é pomposo: “Esquerda Popular Socialista”. Sua bancada tem um deputado: Valmir Assunção (BA).

A DEPUTADA tucana que é contra o fim da Secretaria das Mulheres, com status de ministério, e a fusão com outras pastas, chama-se Telma de Oliveira (MT).

Tecla 'fogo amigo' - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 07/12/11
Em resposta às recentes revelações sobre sua atividade de consultor, Fernando Pimentel disse a Dilma Rousseff que na origem das denúncias estão seus adversários no PT de Minas, interessados em lançar Roberto Carvalho à Prefeitura de Belo Horizonte, em detrimento da reeleição de Márcio Lacerda (PSB), aliado do ministro do Desenvolvimento.

Quem acompanha de perto o modo de funcionamento da presidente faz duas observações: a) a despeito da proximidade de longa data com Dilma, Pimentel não deve dar seu cargo como assegurado; b) Carvalho caiu em desgraça no Palácio do Planalto.

Paredão Sob ameaça de virar a "bola da vez" após a queda de Carlos Lupi, Mário Negromonte (Cidades) busca respaldo nos Estados para permanecer no posto. Deputados relatam ter recebido telefonemas de governadores pedindo uma forcinha pela manutenção do ministro.

Pensando bem De um observador da ofensiva de Negromonte: "Para quem disse não ter apego ao cargo, ele até que está indo bem".

É com vocês Procurados pelo Planalto para garantir que suas bancadas não assinem emendas protelatórias da tramitação da DRU, líderes partidários devolvem a bola ao governo: lembram dos compromissos firmados desde a mobilização para evitar as CPIs da Corrupção e do Dnit, até hoje não atendidos.

Ampulheta O ministro Marcelo Ribeiro (TSE) quer ouvir todas as siglas prejudicadas caso seja atendido o pleito do PSD por fatia maior do Fundo Partidário. Na prática, a medida atrasará a definição sobre o tamanho da parcela dada à nova legenda.

Ah, é? Ao tomar conhecimento do lobby de Clésio Andrade (PR-MG) e Zezé Perrella (PDT-MG) para, em troca da aprovação da DRU, emplacar a mineira Assusete Magalhães no STJ, Dilma disse, em privado, que as chances da candidata evaporaram.

Cracolândia O plano que Dilma anunciará hoje contra o crack terá R$ 45 milhões para turbinar o serviço de abordagem de dependentes, feito pelo Ministério de Desenvolvimento Social. Serão montadas 308 equipes, inclusive em São Paulo.

View facts Após acompanhar do Bandeirantes, via internet, o seminário Folha/UOL com os quatro pré-candidatos do PSDB à prefeitura paulistana, Geraldo Alckmin avaliou que o secretário Andrea Matarazzo (Cultura) foi o mais convincente.

Mídia golpista Alberto Goldman optou por ler seu pronunciamento no jantar de 23 anos do PSDB, anteontem. O ex-governador disse que sua fala, quando feita de improviso, é incompreendida e deturpada pela imprensa.

No papel O presidente reeleito do DEM, José Agripino (RN), redigiu ontem carta em que reafirma a pré-candidatura de Rodrigo Garcia em SP. O documento é subscrito por Jorge Tadeu Mudalen e Alexandre de Moraes, respectivamente dirigentes estadual e municipal da sigla.

Visitas à Folha Samuel Seibel, proprietário da Livraria da Vila, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço.

Charles Eisendrath, diretor do programa Knight-Wallace da Universidade de Michigan (EUA), e Birgit Rieck, diretora-assistente, visitaram ontem a Folha e o centro gráfico do jornal, onde foram recebidos em almoço. Estavam acompanhados de 17 jornalistas internacionais, participantes do programa de estudos.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

Tiroteio

"Pelos indícios colhidos, há muitas semelhanças entre as consultorias feitas por Palocci e por Pimentel. Resta agora saber quem é o aluno e quem é o professor."

DO LÍDER DO PSDB NO SENADO, ÁLVARO DIAS (PR), sobre a revelação de que o ministro do Desenvolvimento recebeu R$ 2 milhões como consultor entre sua saída da Prefeitura de Belo Horizonte e o ingresso no governo Dilma.

Contraponto

Cantiga de roda


Na segunda-feira, véspera da sabatina de Rosa Weber na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, governistas conversaram com Demóstenes Torres (DEM-GO), pois rumores davam conta de que ele estaria disposto a pegar pesado com a escolhida por Dilma Rousseff para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal.

Na tentativa de afastar essa perspectiva, um aliado da presidente provocou o oposicionista:

-O senhor não é cravo para brigar com a rosa...

Em tempo: Demóstenes "brigou", mas não muito.

As ilusões da lei penal - ANTONIO CLÁUDIO MARIZ DE OLIVEIRA


O Estado de S.Paulo - 07/12/11

Alguns senadores e deputados se especializaram no oferecimento de projetos de emergência, que estão criando o que se pode chamar de direito penal do pronto-socorro, que na realidade a nada socorre. O seu objetivo é afagar os eleitores, mostrando a sua preocupação para com situações que põem em risco bens e valores de grande relevância social. Assim, não se aprofundam na análise de tais situações, dos fatores desencadeadores do crime nem procuram mecanismos que possam coibir a prática delituosa, mas, sim, elegem o caminho cômodo e enganoso das leis penais.

Em regra são projetos de lei que criminalizam condutas, agravam penas de crimes já existentes, estendem o alcance de tipos penais a novas situações e reduzem direitos e garantias individuais. Em duas décadas, aproximadamente, 200 novos delitos foram incluídos no nosso DireitoPenal Positivo.

A previsão legal de condutas como criminosas, acompanhada das respectivas sanções, é providência considerada por esses parlamentares como panaceia para a aflitiva questão da criminalidade. Não extraem lições do fato delituoso. Não se importam em encontrar meios para remover os fatores criminógenos e evitar o crime. Limitam-se a lançar uma cortina de fumaça para embaçar a visão da sociedade.

A mídia, por sua vez, estimula essa cultura repressiva. O crime não é tratado como verdadeira tragédia que é. Ele é visto, sim, como um espetáculo, com destaque para os aspectos mais chocantes e impactantes, que se imagina serem os de maior apelo para a sociedade. Já o Congresso serve como caixa de ressonância desses apelos meramente demagógicos e, portanto, ineficazes. Dentre esses aspectos, um que está ligado às consequências do delito é a pena de prisão, considerada a única resposta possível para o crime.

A teatralização do fato criminoso impede que a sociedade aprenda com o próprio crime a adotar comportamentos adequados que possam evitar ou diminuir sua incidência e minimizar seus efeitos. A análise do crime, das suas circunstâncias e, especialmente, das suas causas não consta da pauta da mídia e das preocupações da sociedade. Parece que o relevante é punir, e não evitar o crime.

Deve-se ter presente que a previsão legal de sanções penais não tem o condão de evitar a prática criminosa. A ameaça de prisão, a mais grave das sanções em nosso Direito, não inibe a prática delituosa. Fosse a prisão eficiente instrumento de intimidação, a lei penal teria estancado o aumento da criminalidade em nosso país. É, no entanto, vertiginoso e assustador o seu crescimento, não obstante a edição constante de leis punitivas.

Assim é no mundo. Nem sequer nos países onde a pena de morte é prevista e aplicada a escalada criminosa diminuiu.

As razões da falta de eficácia inibitória da lei penal ainda não foram devidamente detectadas. Mas é fato incontestável haver uma reação às leis que, de uma ou de outra forma, se divorciam da realidade e se distanciam do próprio querer social. Ademais, observa-se acentuada desobediência àquelas leis que apresentam grande desproporção entre a desvalia da conduta proibida e a sanção prevista.

Um exemplo recente de lei dissonante da realidade é a que pune o motorista que estiver dirigindo após ter ingerido determinada quantidade de álcool. Veio ela acompanhada de regulares bloqueios da Polícia Militar, prisões em flagrante, revistas pessoais, que contaram com ampla cobertura da televisão e de intenso noticiário jornalístico para dar ampla divulgação da repressão. No entanto, e não obstante, houve um considerável aumento dos acidentes de carro provocados por motoristas embriagados. Assim, toda a parafernália não serviu de exemplo nem intimidou os infratores.

Pois bem, em face do aumento desses acidentes, outros iluminados legisladores apresentam agora novo projeto, desta feita prevendo penas elevadas, sem a previsão de dosagem mínima de teor alcoólico. Será a lei da tolerância zero para o álcool. Vale dizer, qualquer ingestão, mesmo insignificante, sujeitará o motorista à prisão. Assim, tanto o licor num bombom ou uma única taça de champanhe quanto uma elevada dose de ingestão de bebida conduzirão da mesma forma ao cárcere. Irão todos para a vala comum dos criminosos, tendo ou não provocado acidente. E serão presos com ou sem a prova da embriaguez. Com efeito, ainda que não haja o exame de bafômetro, o mero testemunho de um transeunte de que alguém lhe pareceu estar alcoolizado será suficiente como prova. Demagogia barata, irracionalidade, irresponsabilidade de legisladores que, infelizmente, contam com o apoio e o aplauso de autoridades não menos descomprometidas com o bom senso, com os princípios de direito e com os ideais de justiça.

Como afirmou com muita propriedade o editorial Álcool zero para motoristas (16/11, A3), do Estado, trata-se de "um projeto draconiano que não terá condições de tramitação e de ser afinal sancionado". O mesmo texto alerta para o fato de que no ano de 2010 se assistiu ao maior índice de acidentes fatais no trânsito em 15 anos, o que não teria decorrido da leniência da lei, mas da carência de adequada fiscalização. Lembre-se que essa lei, em vigor há três anos, já é excessivamente rigorosa.

Há uma grande dificuldade em entender que a lei não muda condutas, mas sim a educação. E educação em seu sentido mais amplo: ser educado é ser ético, é saber distinguir o certo do errado, o justo do injusto, o moral do imoral, é ter compromissos com a sociedade, é ser solidário, é ainda conhecer os limites de sua liberdade, que residem no respeito aos direitos alheios. Esses valores antecedem a lei e dificilmente são praticados por imposição legal.

O medo da lei é insuficiente para que ela seja respeitada. É preciso que ela seja acatada por conter no seu bojo o que é eticamente adequado como reflexo do querer social.

O desafio é o longo prazo - ROLF KUNTZ

O ESTADÃO - 07/12/11

A boa notícia do terceiro trimestre foi a contribuição do comércio exterior para a formação do produto interno bruto (PIB), como observou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. A exportação de bens e serviços cresceu 1,8%, enquanto a importação diminuiu 0,4%. Isso impediu um resultado pior que o crescimento zero do PIB. Não se pode menosprezar esse dado, mas o Brasil continuou - e ainda continua- dependendo principalmente dos produtos básicos e do mercado chinês para faturar dólares. A balança comercial não é um problema isolado. Seus números mostram os pontos fracos e fortes da economia nacional e esses dados não são apenas conjunturais. O governo deve examiná-los com mais atenção se quiser garantir algo mais que uma boa reativação do mercado interno em 2012. Os desafios mais sérios estão no longo prazo, embora a grande promessa do governo, neste momento, seja um crescimento entre 4% e 5% em 2012.

Os números do comércio são uma boa janela para se observar a economia brasileira. De janeiro a setembro, o volume total exportado foi apenas 3,8% maior que o de um ano antes, mas o preço médio ficou 26,2% acimado recebido em igual período de 2010. Houve aumento de cotações e de volume em todos os grandes grupos de produtos, mas os maiores ganhos de preço ocorreram nas commodities - 38,1% para os básicos e 22,8% para os semimanufaturados. Mesmo com valorização dos produtos, o conjunto da indústria continuou no vermelho. Medidas protecionistas podem ter impedido um resultado pior, mas não eliminaram os problemas fundamentais.

O padrão do intercâmbio tem-se mantido pelo menos em parte. O superávit comercial, US$ 26 bilhões em 11 meses, continua garantido pelas exportações de commodities. De janeiro a novembro, os embarques de produtos básicos proporcionaram 47,9% da receita comercial. Juntando os semimanufaturados - itens como açúcar em bruto, celulose, ferro fundido e alumínioembruto - chega-se a 61,1%.

Tem havido algumas novidades interessantes nos últimos meses. O valor total exportado voltou a crescer mais que o importado - 28,7% ante 24,6% em 11 meses - e, além disso, a receita das commodities voltou a depender mais da quantidade que do preço. Na comparação dos números de novembro com os de um ano antes , o aumento dos volumes de soja e derivados, celulose,alumínio, carnes de boi e de frango, minério de ferro, óleos combustíveis, etanol e algodão foi bem maior que o dos preços.

Isso pode indicar alguma alteração no mercado, mas a externa ainda vigorosa, graças à China e a outros emergentes. Mas é arriscado depender desse fator. Falta saber como ficarão esses números se a economia chinesa perder impulso e se a reativação da demanda interna pressionar de novo as importações.

Segundo o ministro da Fazenda, o governo brasileiro tem controle da situação e isso o diferencia dos governos de várias economias em crise. As autoridades brasileiras podem, argumentou o ministro, reverter as medidas de contenção fiscal e de crédito adotadas neste ano e, assim, reativar os negócios. Isso é verdadeiro apenas em parte.

Brasília não tem controle sobre as decisões econômicas de Pequim, nem sobre as cotações das commodities. Também não pode evitar um novo aumento das importações se a demanda interna voltar a crescer, ou se uma onda de capitais estrangeiros valorizar o real. Nenhuma dessas possibilidades é remota.

Além disso, a expansão das importações foi um dos principais freios da inflação nos últimos anos, quando os componentes da demanda interna - consumo privado, investimento privado e gastos do governo - cresceram muito mais que oferta doméstica. É otimismo, portanto, considerar liquidado o problema da inflação. Da mesma forma, é irrealismo dar como resolvido o problema da indústria com algumas medidas protecionistas e um estímulo fiscal passageiro, o prometido crédito de 3% do valor da exportação de manufaturados.

Em vez de se concentrarem medidas conjunturais, necessárias, mas insuficientes, o governo deveria tentar, pela primeira vez, um diagnóstico sério dos entraves à produção industrial e de suas deficiências diante dos competidores estrangeiros. A Confederação Nacional da Indústria pesquisou a participação de produtos importados no mercado nacional.

Essa participação, hoje pouco superior a 20%, aumentou de forma quase contínua desde 2003. Isso não se explica só pelo câmbio e pela abertura da economia. É preciso levarem conta, ao mesmo tempo, a dificuldade crescente de competição nos mercados externos. Nenhuma das medidas empacotadas com o rótulo de "política industrial" ataca seriamente esses problemas. Sem cuidar do assunto, o governo será incapaz de promover crescimento duradouro.

A economia avançará em 2012, mas está despreparada para a corrida de longa distância

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 07/12/11


HSBC transfere sede latina para São Paulo e anuncia novos investimentos

"Não viria para um lugar que vai ser vendido", diz o argentino Antonio Losada, que será o novo executivo-chefe do HSBC para a América Latina, a partir de fevereiro.

Depois de rumores em outubro de que a instituição se desfaria de parte de sua unidade brasileira, o HSBC reafirma seu interesse no país ao transferir a sua sede para a região latina do México para São Paulo, segundo o executivo.

Losada, hoje responsável pela operação do HSBC na Argentina, substituirá o brasileiro Emilson Alonso, no cargo desde 2006, que vai se aposentar e deixar o banco em fevereiro.

A operação brasileira é o quarto resultado do HSBC no mundo. Responde por mais da metade do lucro da instituição na região latina.

O HSBC prepara também outros investimentos no Brasil. "Serão contratadas 500 pessoas para a área de pequenas e médias empresas, além da de mercado de capitais, que pode crescer muito ainda no país", diz Losada.

Esse novo aporte se soma a outros investimentos feitos neste ano, quando já foram contratadas 900 pessoas.

"Com os investimentos nessas áreas, em três anos, esperamos crescer em US$ 4,7 bilhões", afirma o presidente do HSBC Bank Brasil, Conrado Engel.

O impacto da crise para os emergentes poderá vir mais pela redução de financiamento do que por queda da demanda da China por commodities, afirma Engel.

"Tenho certeza de que, se isso ocorrer, o Banco Central usará reservas para prover dólares para o mercado, além de adotar outras medidas, como a do IPI, já tomadas em 2008 e 2009."

NATAL MAIS CARO

A carga tributária dos principais produtos consumidos pelos brasileiros no final do ano pode chegar a 59,5%, segundo a empresa de consultoria e auditoria BDO RCS.

O elevado consumo de artigos como panetones permite que os fabricantes não se preocupem com o preço cobrado nas lojas, de acordo com José Santiago da Luz, sócio da companhia.

"Há algumas exceções, como os enfeites de Natal, que passaram a ser reutilizados por vários anos."

As bebidas alcoólicas estão entre os itens mais taxados. Os impostos representam 59,5%, 55,6% e 54,7% dos preços das garrafas de espumante, cerveja e vinho, respectivamente.

Cresce procura de investidores estrangeiros por emergentes

Os três principais mercados emergentes (China, Índia e Brasil) ficaram nos primeiros lugares dos países que mais recebem investimentos estrangeiros diretos, segundo pesquisa de 2011 da consultoria A.T. Kearney que será divulgada hoje em todo o mundo

O Brasil passou da quarta para a terceira posição e hoje atrai mais da metade dos investimentos destinados à América Latina. A China é o principal investidor no país.

"Além dos setores de commodities e energia, os mercados automotivo e de varejo chamam a atenção internacional", diz o sócio da consultoria Dario Gaspar.

Entre os principais motivos que fizeram os EUA caírem no ranking está a demora para o governo decidir qual rumo econômico tomar diante da crise, segundo Gaspar.

A pesquisa também mostra que, para 20% dos entrevistados, os investimentos estrangeiros diretos não voltarão aos níveis pré-crise antes de 2014.

ORÇAMENTO PÚBLICO

O Rio de Janeiro foi a capital que registrou maior alta no volume de recursos públicos investidos em 2010 (217,6%), segundo o anuário de finanças da Frente Nacional de Prefeitos.

Grandes crescimentos nos valores investidos são sempre registrados no segundo ano dos mandatos dos prefeitos.

São Paulo foi a cidade brasileira que mais investiu no total -R$ 3,1 bilhões. Comparado com o ano anterior, porém, não houve grande expansão no valor (36,5%).

Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, foi a cidade do país que teve a maior injeção de recursos per capita (R$ 1.003,15).

Passos A marca carioca de sapatos City Shoes abrirá duas lojas em SP ainda neste ano. A marca tem hoje cem unidades no país. Para 2012, a previsão é inaugurar mais 20 lojas.

Pano O segmento atacadista de tecidos da região da 25 de Março aumentou suas vendas em 15% em novembro, ante mesmo período de 2010, segundo o sindicato do setor.

HOTELARIA CORPORATIVA

O Transamérica Hospitality Group deve anunciar a construção de dois hotéis, um no interior de São Paulo e outro na Grande Brasília, até fevereiro de 2012.

O investimento nas duas novas unidades, que serão voltadas para o mercado corporativo, será feito por incorporadoras e chegará a cerca de R$ 40 milhões.

"Até o fim do próximo ano, pretendemos fechar outros três contratos para o interior de São Paulo", diz Heber Garrido, diretor da companhia.

Na capital paulista, o grupo também tem planos de expansão, por meio da troca de bandeira de hotéis que já estão em funcionamento.

"É o único jeito de crescer na cidade, porque não há mais espaço para construir em São Paulo", diz Garrido.

O faturamento estimado da companhia para este ano é de R$ 144 milhões, alta superior a 40% ante 2010.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

O custo da dívida pública - FABIO GIAMBIAGI


Valor Econômico - 07/12/2011

O custo da dívida pública voltou a ser objeto de debate, em função dos altos e baixos da Selic ao longo de 2011. Já expliquei neste espaço que a despesa de juros não pode ser objeto do mesmo tratamento que outros gastos do Orçamento. Muitas vezes, o cidadão comum julga que o governo pode definir "gastar menos com juros e gastar mais em tal rubrica", mas na prática não é assim que o mundo funciona. A realidade é que a despesa de juros é dada pela política monetária e, se o governo discutisse um teto para essa despesa, estaria abrindo o caminho para a reedição do Plano Collor, uma vez que deflagraria uma corrida para sacar recursos antes do governo aprovar se o limite que ele está disposto a pagar é de X ou de Y.

De qualquer forma, é natural que, se há uma maior despesa de juros, se eleve o tom das críticas à política econômica, como tinha ocorrido novamente este ano, antes da queda recente das taxas. Cabe lembrar que a despesa de juros chegou a um máximo da ordem de 9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2003, caindo depois, tanto pela redução dos juros como pela menor dívida pública, para 5% nos últimos três anos, esperando-se que no ano em curso se situe perto de 6%. É natural indagar que proporção tal despesa poderá ter nos próximos anos. É importante, porém, chamar a atenção para o fato de que a Selic não é a única variável que afeta a despesa de juros. Para entender isso, o leitor deve olhar a tabela.

Ela mostra os diferentes conceitos de taxa de juros relevantes na discussão do custo da dívida pública. A primeira taxa é a velha e conhecida Selic. A segunda é a remuneração acumulada em 12 meses do estoque de Letras do Tesouro Nacional (LTN), que são tipicamente títulos prefixados de curto prazo, sensíveis à Selic. A continuação, mostram-se as taxas das Notas do Tesouro Nacional (NTN) das séries B e F, títulos esses que correspondem respectivamente às remunerações pós-fixada em função da evolução do IPCA (NTN-B) e prefixada (NTN-F), no caso destes com prazo longo - nos últimos anos, o papel mais longo tem sido o título de 2021. Posteriormente, apresenta-se a taxa ponderada da dívida pública mobiliária federal interna em poder do público e, finalmente, a taxa de juros implícita da dívida líquida do setor público - interna e total.

O leitor atento terá percebido que nos últimos anos houve uma tendência de que o custo médio da dívida mobiliária excedesse o da Selic. A razão pode ser visualizada na própria tabela: como a Selic indexa as Letras Financeiras do Tesouro (LFT), mas estas representam apenas uma parte da dívida pública, as parcelas prefixada e indexada a índices de preços da dívida pública pressionaram a composição do custo total. Em 2010, por exemplo, a Selic foi de 9,8%, mas as LTNs tiveram remuneração de 11,1%, as NTN-Fs de 12,5% e as NTN-Bs de 13,6%. Como resultado desse mix, o custo da dívida mobiliária foi de 11,8%, bastante superior ao da Selic.

É na comparação entre a Selic e o custo implícito da dívida líquida, porém, que se observa o diferencial maior. Note-se que em 2010 a taxa de juros implícita da dívida total foi de 14,9%, muito superior ao da dívida mobiliária. Para entender isso, vejamos o seguinte exemplo. Imaginemos que um governo tenha uma dívida bruta de 130 e ativos de 30 e, para facilitar, vamos supor inicialmente que tanto a taxa de juros que ele paga como a que recebe pelos ativos seja de 10%. Portanto, a despesa líquida de juros é de (13-3) = 10 e, como a dívida líquida é de 100, a taxa de juros implícita (10/100) também é de 10%. Vamos supor agora, porém, que a taxa de juros da dívida bruta continue sendo de 10%, mas a taxa que ele recebe pelos ativos seja de 5%. Agora o governo paga 13 de juros, mas recebe apenas 1,5, o que significa que a despesa líquida é de 11,5, implicando uma taxa de juros implícita de 11,5% e não mais de 10%.

Com nosso setor público, está ocorrendo algo parecido. O governo já tinha dois ativos que rendiam pouco - reservas internacionais e FAT - e nos últimos tempos aconteceram três coisas. Primeiro, adicionou-se a eles um terceiro ativo importante - o crédito às instituições financeiras oficiais - que era irrelevante até 2007 e soma hoje mais de 7% do PIB. Segundo, as reservas aumentaram muito. E terceiro, a remuneração das reservas passou a ser irrisória. Em consequência, o descasamento entre a Selic e o custo da dívida líquida tornou-se significativo, como mostra a tabela. Em resumo, a Selic é apenas uma parte da equação do custo da dívida.

Fabio Giambiagi, economista, coorganizador do livro "Economia Brasileira Contemporânea: 1945/2010" (Editora Campus)

Dentro do zero - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 07/12/11


O zero do crescimento brasileiro do terceiro trimestre confirma a descida da economia este ano e é explicado mais pelo contexto internacional do que pela situação interna. Os dados divulgados ontem pelo IBGE mostram que a agricultura cresceu pelo aumento da produtividade e o consumo é sustentado por salários e crédito. O pior dado é o da queda do investimento.

Diante da situação externa, o empresário parou de investir, mas não demitiu. Em relação ao terceiro trimestre do ano passado, houve aumento de 2,6% na massa salarial e os dados da Pesquisa Mensal de Emprego mostram baixo nível de desemprego em geral. Os analistas veem em alguns dados uma perda de fôlego do mercado de trabalho, mas a desaceleração do ano não levou a demissões.

O consumo das famílias teve ligeira queda, na margem, de 0,1%, mas fechou em alta de 2,8% em relação ao mesmo período do ano passado. O que o sustentou até agora foi principalmente o crescimento do crédito, de 18%. A expansão do endividamento não preocupa por enquanto porque o nível de emprego permanece alto, mas se houver demissões, as famílias terão dificuldades de cumprir seus compromissos.

Normalmente, o empresário num primeiro momento de crise suspende novos investimentos. É o que se vê agora nos números. A taxa de investimento do ano está em 20%, o que é bom, mas os dados trimestrais mostram forte desaceleração. Se as empresas acharem que o ambiente de estagnação permanecerá por muito tempo elas demitirão. Por enquanto, os empresários estão adiando investimentos, mas mantendo o seu quadro de funcionários, o que indica que eles acreditam que a economia retomará o crescimento em breve. Mas uma alta do crédito de 18% numa economia que chegou à estagnação no terceiro trimestre, e está com a inflação acima do teto da meta, não é um quadro brilhante.

Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, o PIB cresceu 2,1%. Isso é mais um degrau na descida do PIB, que no terceiro trimestre do ano passado cresceu 6,9% na mesma comparação. No quarto, o número foi de 5,3%; no primeiro de 2011 foi de 4,2%; no segundo, de 3,3%. Uma descida forte em cinco trimestres.

A agropecuária subiu 3,2%, a indústria teve uma queda de 0,9% e os serviços caíram 0,3%, na comparação de julho, agosto e setembro contra abril, maio e junho. Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, os dados são: agropecuária, 6,9%; indústria, 1%; serviços, 2%. O resultado do campo é mais interessante porque em algumas culturas a produção cresceu mesmo com queda de área, provando o ponto de que é com mais eficiência e produtividade que se fará agora a nova expansão agrícola. Laranja teve uma queda de área plantada de 9,8%, mas produziu 3,1% a mais. No caso da mandioca foi 11,8% menor a área ocupada para produzir 7,3% a mais do que no mesmo período do ano passado.

O mais importante é sempre saber o que os números nos contam. Os do PIB do terceiro trimestre dizem que o choque externo bateu aqui, desanimou empresários, afetou principalmente a indústria, mas o setor de produção de alimentos continuou forte. Dizem também que apesar de a indústria afirmar que o dólar baixo está provocando queda do setor, pela invasão do produto importado, a exportação cresceu no período: 1,8%. E as importações caíram 0,4% na comparação do terceiro contra o segundo trimestre.

O terceiro trimestre pode ter sido o vale, a parte mais baixa desta desaceleração. Não existe muita expectativa quanto a uma recuperação forte no quarto trimestre, mas ele deve ficar positivo em relação ao trimestre cujos dados foram divulgados ontem. Este foi o ano em que houve terremoto-tsunami-desastre nuclear no Japão, evento que levou a uma interrupção temporária de algumas cadeias produtivas globais; revolta na África, que elevou o preço do petróleo; desaceleração da economia americana, que começava a se recuperar e a alta do petróleo afetou a capacidade de compra das famílias, porque lá a cotação internacional é transferida imediatamente para as bombas; crise da dívida americana, que petrificou o mundo por algumas semanas; crise da dívida soberana na Zona do Euro, com a qual a economia internacional ainda se debate. Diante dessas circunstâncias, o país teria mesmo período de estagnação.

Mas, no trimestre, algumas economias estão melhores do que a brasileira. Na comparação feita pelo próprio IBGE, o Brasil cresceu zero como a Bélgica e a Espanha. Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido cresceram 0,5%; o Japão, 1,5%; México, 1,3%; Chile, 0,6%. Até a Zona do Euro como um todo ficou melhor, fechou em 0,2%.

Já se sabia que neste ano haveria queda de ritmo de crescimento em relação a 2010, quando o país deu um salto impulsionado por gastos públicos com objetivos eleitorais. A ideia era fazer um crescimento forte que ajudasse a eleger a presidente Dilma. Depois, foi a hora de pôr o pé no freio até porque a inflação estava subindo. Os juros foram elevados, a inflação resistiu no alto. Ainda está acima do teto da meta, mas o Banco Central há três reuniões tem reduzido as taxas de juros. Em 2012, se o mundo sair da encrenca em que está, o país deve recuperar o ritmo ao longo do ano.

Novos universos - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 07/12/11

RIO DE JANEIRO - Você os encontra em algumas clínicas de recuperação de dependentes químicos: homens e mulheres que entraram na droga muito cedo, levaram anos sob o seu domínio e, se tiveram a sorte de não morrer, conseguiram se recuperar e passaram a trabalhar nessas instituições como terapeutas. É bonito. Mas o fato é que, seja como usuários ou terapeutas, passaram a vida em função da droga. Não tiveram tempo para aprender outros prazeres, outros interesses -outra vida.Isso aumenta sua possibilidade de recaída. Conheci um, numa clínica perto de São Paulo, com esse exato perfil. Quando se soube que recaíra, as muitas pessoas que ele ajudou a tratar (e que o adoravam) ficaram mal -se um profissional com tanta experiência está sujeito a isto, significa que ninguém pode se sentir 100% a salvo. Inevitavelmente demitido, emburacou para valer.
Dois anos depois, conseguiu parar e ganhou nova oportunidade na mesma clínica. Mas, em pouco tempo, voltou a recair e, desta vez, não houve tempo para nada. Morreu. Tinha talvez 40 anos.
Os meninos que cresceram em torno do tráfico nas favelas cariocas interpretam papéis parecidos. Seja como usuários, "formiguinhas" (passadores de pequenas quantidades) ou trabalhando na segurança das gangues, só conheceram a realidade da droga. Com a vitoriosa implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), seu modo de vida foi subitamente desarticulado.
Eles podem ter abandonado o uso ou a venda de drogas, mas é importante que as UPPs Sociais, encarregadas de reencaminhar esses jovens, não custem a lhes oferecer oportunidades reais de aprendizado e trabalho -em departamentos que não tenham nada a ver com seu antigo universo. Não basta tirar a droga do sistema deles. Há que substituí-la por algo diferente e melhor.

FORA DO BANQUINHO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 07/12/11
Novo baque na turnê de João Gilberto: o show dele em Salvador, agendado para esta sexta-feira, está cancelado. Sem mais explicações. De acordo com os organizadores, nova data será definida, em janeiro.

BANQUINHO 2

O show na Bahia marcaria a estreia da turnê dos 80 anos do cantor. Os ingressos em várias praças, vendidos a até R$ 1.400, no entanto, encalharam. E seu estafe entrou em crise. Os shows de São Paulo e Rio, que ocorreriam em novembro, foram remarcados, para os dias 18 e 21 deste mês. Até ontem, estavam confirmados.

GRIPE TRISTE

No primeiro adiamento, a produção alegou que João Gilberto estava gripado. Amigos próximos do cantor dizem que ele está deprimido, triste com a sobra de entradas de seus shows.

PULGA

Assim como Fernando Haddad (PT-SP), também Gabriel Chalita (PMDB-SP) voltou a trabalhar com a hipótese de José Serra sair candidato a prefeito pelo PSDB.

TÁ ADMITIDO

E o empresário João Doria Jr., apresentador de "O Aprendiz", foi convidado a discursar no jantar do PSDB, anteontem, em SP. Ele tem sido estimulado a se inscrever nas prévias do partido para disputar a prefeitura. Diz que prefere aguardar pesquisa que está sendo feita pelo partido. "Se meu nome tiver alguma consistência eleitoral, posso levar isso adiante. Caso contrário, não faria sentido", diz.

PÁGINA VIRADA

Amigo de Geraldo Alckmin, Doria diz que o governador de SP tem "a mesma sensibilidade do Lula e do vice-presidente Michel Temer". Os dois lançaram candidatos novos para a eleição de 2012. "Geraldo acha que a campanha é de nomes novos, e não concentrada em lideranças que já ocuparam cargos de governo."

CAMINHO LIVRE

O Superior Tribunal de Justiça concedeu habeas corpus em favor de crianças e adolescentes de Cajuru (298 km de SP), onde um toque de recolher os impedia de andar nas ruas sem os pais depois das 23h. O recolhimento foi questionado pela Defensoria Pública.

ECONOMIA DE GALA

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, encomendou uma casaca ao alfaiate Vincenzo Severo para a cerimônia de entrega do Prêmio Nobel, no sábado, na Suécia. Vai pagar

R$ 7.000. Do próprio bolso, segundo sua assessoria.

VOADOR

J. Hawilla, dono da Traffic, classifica como "muito amadorismo" o fato de o Flamengo ter assinado patrocínio da Procter & Gamble com intermediação da agência 9ine, de Ronaldo. Desde então sua empresa, que trouxe Ronaldinho Gaúcho para o clube em troca de negociar espaços na camisa do rubro-negro, deixou de pagar os salários do meia. Ele não recebe há três meses.

REPESCAGEM

O presidente da Federação Paulista de Futebol, Marco Polo del Nero, pediu há 15 dias que o comitê paulista da Copa-14 envie pedido à Fifa para que o estádio do Morumbi abrigue partidas da Copa das Confederações, em 2013. São Paulo está fora da competição, porque o Itaquerão não ficará pronto até o torneio. A FPF encabeça movimento para incluir a arena são-paulina.

APITO FINAL
Dedé, do Vasco, foi o melhor zagueiro e o "craque da galera" no Prêmio Craque Brasileirão, entregue anteontem no Auditório Ibirapuera. O também vascaíno Diego Souza comemorou o troféu de melhor meia com a mulher, Luciana Iunes, grávida de sete meses. Lucas, do São Paulo, e Liedson, do Corinthians (na foto com a mulher, Gabriela Muniz), disputaram prêmios. Bia Antony e Ronaldo foram à festa.

BEIJA-MÃO

O ex-executivo da Globo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho lançou, anteontem, "O Livro do Boni", em São Paulo. Convidados como as apresentadoras Hebe Camargo e Marília Gabriela (com o filho Theodoro Cochrane) e os atores Irene Ravache, Lima Duarte e Regina Duarte pegaram autógrafos do autor, que lotou a Livraria Cultural do Conjunto Nacional. As personalidades tinham direito a fila exclusiva no evento.

CURTO-CIRCUITO
Washington Olivetto lança amanhã, a partir das 19h, o livro "Só os Patetas Jantam Mal na Disney" (Panda Books), na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na avenida Paulista.

Eros Grau lança hoje "Paris, Quartier Saint-Germain-des-Près". Às 19h, na Livraria da Vila da Lorena.

Serpui Marie inaugura hoje loja nos Jardins.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY