segunda-feira, agosto 15, 2011

ANCELMO GÓIS - Calma, gente


Calma, gente
ANCELMO GOIS  
O Globo - 15/08/2011

O Movimento pela Legalização da Maconha do Rio convoca, através das redes sociais, para sábado, uma campanha de doação de sangue no Hemorio. Segundo Renato Cinco, a doação se baseia na portaria 1.353 do Ministério da Saúde, de junho, “que permite ao usuário ficar apenas doze horas sem consumir a droga para doar sangue”. Mas o pessoal da maconha diz que o Hemorio estaria criando dificuldades.

Uma vez Lobão 
Aliás, sábado, no começo de seu show no Circo Voador, no Rio, o roqueiro Lobão perguntou à plateia quem tinha maconha. Muita gente levantou a mão, e o roqueiro aceitou um cigarro.

Todo cuidado é pouco 
O Ministério da Cultura vem cancelando desde 2010 convênios assinados irregularmente. Trinta projetos já dançaram, gerando uma economia de R$ 15 milhões para o MinC.

Autor não é relógio 
O poeta Afonso Romano de Santana pôs em seu blog protesto contra a empresa FAGGA que organiza feiras/bienais no país: — Os escritores convidados não ganham remuneração. Não acredito que a FAGGA trabalhe de graça, por puro idealismo.

‘Drive-thru da fé’ 
A Igreja Universal da Av. Domingos de Moraes, em São Paulo, criou uma espécie de “drive-thru da oração”. Fiéis estendem na via uma faixa para conter os motoristas. Depois, cercam o carro, fazem oração e, em seguida, pedem doação.

Auto do compadecido 
Francisco Alves, o guardador de carros que fica em frente ao antigo Hotel das Paineiras, no Rio, é grato a Eike Sempre Ele Batista: — Quando ele vem aqui sempre deixa R$ 50.

Segue 
Sábado, ao ser avisado por um parceiro da coluna que as empresas do grupo EBX perderam na bolsa R$ 32 bilhões, o guardador ficou compadecido: — Acho que da próxima vez vou aceitar só R$ 25. Não é fofo?

É dia de comemorar 
O Biquini Cavadão foi ovacionado sábado no SmuKFest, o maior festival de rock da Dinamarca. O grupo se apresentou ao lado da cantora americana Beth Hart. Entre as canções, tocou “É dia de comemorar”, nova música da banda feita para as torcidas de futebol brasileiras.

Papa no samba 
Dom Orani João Tempesta, o arcebispo carioca que estabeleceu relações diplomáticas da igreja com o samba, está organizando uma apresentação de uma escola de samba para a visita do Papa Bento XVI. O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, confirmou que o Papa visitará o Rio Janeiro em 2013 para participar da Jornada Mundial da Juventude Católica.

Cota na comida 
Quem for cotista da Uerj vai pagar mais barato, R$ 2, por um prato de comida no Restaurante Universitário, que será inaugurado dia 6 de setembro no campus da universidade estadual. Os não cotistas pagarão R$ 3. Serão servidas cinco mil refeições por dia.

Como uma deusa
Rosana, aquela cantora do sucesso “O amor e o poder”, de Cláudio Rabello, lembra?, é a nova frequentadora da Igreja Batista do Recreio, no Rio. Tornou-se irmã em Cristo.

Livros em favela
Cabral vai ganhar o Prêmio José Olympio, na Bienal do Livro, dia 1o- , pela criação da biblioteca de Manguinhos. Em um ano de funcionamento, foram emprestados 20 mil livros. E todos foram devolvidos.

China na moda O Departamento de Letras da PUC do Rio abre dia 31 o primeiro instituto de ensino e difusão da cultura chinesa no estado. Será ministrado por três professoras chinesas que adotaram nomes ocidentais: Ana, Rebeca e Eva.

O ministro entrou na festa - Revista Época


O ministro entrou na festa
Revista Época 

As investigações da PF sobre corrupção no Ministério do Turismo incluem uma obra que recebeu milhões liberados por Pedro Novais

Andrei Meireles, Marcelo Rocha e Murilo Ramos Com Leandro Loyola

Há algum tempo não se via coisa parecida. Na semana passada, a Polícia Federal (PF) prendeu 35 pessoas na Operação Voucher, suspeitas de participar de desvio de recursos no Ministério do Turismo. Entre os presos está o secretário executivo do ministério, Frederico Silva da Costa (leia o quadro). A investigação se concentra em um convênio que liberou R$ 4 milhões para o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi). No papel, o Ibrasi deveria treinar pessoas no Amapá para trabalhar no setor turístico. Na realidade, segundo a PF, o dinheiro foi desviado para empresas de fachada, montadas por servidores, políticos e empresários. Nas investigações, surgiu outro grande negócio com ingredientes para um novo escândalo. É comum que conversas gravadas com autorização captem diversos assuntos tratados pelos investigados. Foi assim que os policiais esbarraram no nome da empresa Warre Engenharia, de Goiânia. Os desdobramentos podem criar problemas para o atual ministro, Pedro Novais, do PMDB.A Warre foi contratada pela prefeitura de Goiânia para revitalizar o Parque Mutirama, a principal área de lazer na área central da capital de Goiás. O dinheiro para a obra – R$ 45 milhões – é do Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur), que tem recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e é administrado pelo Ministério do Turismo. Na época em que foi firmado o convênio entre prefeitura e ministério, Frederico Silva da Costa era o responsável pelo Prodetur. A escolha da empresa Warre não foi uma surpresa para o setor da construção civil em Goiás, segundo ÉPOCA ouviu de empresários de Goiânia. Antes mesmo da realização da concorrência pública no 001/2010, executivos do mercado comentaram que a obra estava destinada à Warre. Essas versões eram alimentadas por causa da relação de amizade entre as famílias de Frederico Costa, o responsável pela liberação dos recursos, e dos empresários Paulo Daher e Paulo Daher Filho, os donos da Warre.

Nove empresas se inscreveram para participar da licitação para a reforma do Parque Mutirama. Seis foram desclassificadas pela prefeitura. Das três que continuaram na disputa, duas desistiram às vésperas da abertura de propostas. Sobrou apenas a Warre. Denúncias feitas na Câmara Municipal de Goiânia pelo vereador Elias Vaz (PSOL) fizeram com que o prefeito Paulo Garcia (PT) anunciasse o cancelamento da concorrência e a abertura de uma nova licitação. Garcia sondou então o Ministério do Turismo e soube que, se revogasse a licitação vencida pela Warre, os recursos federais seriam suspensos. "A prefeitura recebeu um ofício do Ministério do Turismo em novembro de 2010. O documento dizia que o recurso estava liberado para a execução da obra e que, se ela não fosse iniciada até 31 de dezembro, o município perderia o dinheiro. Os recursos voltariam para o Orçamento Geral da União", diz Andrey Azeredo, secretário de Licitações da prefeitura de Goiânia. "O ato de revogação da licitação do Mutirama foi até confeccionado. Mas, por problemas internos, o ato não foi publicado e ficou sem validade."

O prefeito de Goiânia iria revogar a licitação, mas desistiu depois de aviso do Ministério do Turismo

Como a revogação não foi publicada, o contrato com a Warre Engenharia foi firmado. O Ministério Público Federal entrou no caso. Para os procuradores, tudo leva a crer que a licitação foi um jogo de cartas marcadas. Em janeiro, o procurador da República Marcello Santiago Wolff considerou ter indícios suficientes para abrir um inquérito para apurar fraude na concorrência. Mesmo depois de o Ministério Público ter oficialmente informado o Ministério do Turismo sobre a investigação, o ministro Pedro Novais foi a Goiânia no final de abril. Novais participou de uma solenidade festiva em que anunciou a liberação dos "primeiros R$ 10 milhões" para as obras. Novais sabia das irregularidades. "Houve realmente alguns questionamentos, mas que já foram solucionados", afirmou Novais, em discurso.

Segundo o Ministério Público, não há nada solucionado no caso. Na semana passada, a pedido dos procuradores, a Polícia Federal também abriu inquérito para investigar irregularidades na licitação para as obras no Mutirama. O empresário Paulo Daher, dono da Warre, afirmou que são "infundadas" as alegações do Ministério Público Federal. Daher enviou uma nota técnica da prefeitura de Goiânia, na qual se baseia para alegar que a licitação foi legal. Daher não quis comentar sua relação pessoal com Frederico Silva da Costa. Em resposta a ÉPOCA, o ministro Novais disse que, por causa das investigações do Ministério Público, passará a ser mais "cauteloso" nos repasses de dinheiro para a obra do Parque Mutirama. Ele disse também que se confundiu na hora de anunciar os recursos liberados em Goiânia. Novais diz que ele mesmo só autorizou a liberação de R$ 4 milhões.

Em janeiro, ÉPOCA já mostrara que Costa era uma fonte potencial de grandes problemas para o governo Dilma. Um dos motivos era sua gestão à frente do Prodetur. Com Frederico no comando, o governo de Goiás teve acesso a R$ 13 milhões do programa e construiu uma rodovia que favoreceu o acesso ao Rio Quente Resorts, na região de Rio Quente, um dos principais pontos turísticos de Goiás. Outro programa do ministério, o Fundo Geral de Turismo, também concedeu um financiamento ao Rio Quente Resorts. Seria uma operação legítima, se o resort não pertencesse à família de Costa. Além da suspeita de dar uma força aos negócios da família com dinheiro de todos os brasileiros, Costa também é alvo de outra investigação. Ele, o pai e o irmão são acusados de desvio de recursos públicos da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) nos anos 1990. Seus bens estão bloqueados pela Justiça por causa da investigação. Apesar dos fatos desabonadores para sua nomeação para o segundo cargo no Ministério do Turismo, Costa foi mantido no governo por pressão do PMDB, acolhida pelo então chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.

Na semana passada, as investigações da PF mostraram que Frederico Silva da Costa não atuou apenas em Goiás. Segundo a PF, Costa, na prática o verdadeiro ministro da pasta, foi fundamental para a liberação de verbas para o Ibrasi. Tudo começou com uma emenda ao Orçamento proposta pela deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP), que destinou R$ 4 milhões para o treinamento de trabalhadores no setor turístico no Amapá. A PF afirma que Costa atuou não só para liberar a emenda de Fátima, como garantiu o escoamento do dinheiro dos cofres públicos para entidades fajutas. Em uma das gravações captadas pela Polícia Federal, Costa ensina o empresário Fábio Mello a montar uma entidade de fachada para receber o dinheiro liberado pelo ministério – e que seria desviado depois. "O importante é a fachada e tem de ser uma coisa moderna, que inspira confiança em relação ao tamanho das coisas que vocês estão fazendo", diz Costa. "Pega um negócio aí para chamar a atenção, assim, de porte, por três meses. Mas é para ontem! Que, se alguém aparecer para tirar uma foto lá nos próximos dias, as chances são altas!"

Dono da Conectur, que recebeu dinheiro público pelo Ibrasi e deveria treinar trabalhadores, o petista Errolflynn Paixão disse, em depoimento à PF, que seu sócio na empresa "chegou a dizer que o dinheiro seria devolvido à deputada (Fátima Pelaes)". Secretário nacional de Desenvolvimento do Turismo até a semana passada, o ex-deputado federal Colbert Martins (PMDB-BA) foi preso porque assinou a liberação da verba com base em um documento falso. Em um diálogo com sua chefe de gabinete, captado pela polícia, Colbert demonstra preocupação com a emenda de Fátima Pelaes, pois ela seria de interesse do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). "E tem de ver aquela obra lá do Amapá, aquela lá da Fátima Pelaes, daquela confusão do mundo todo, que é de interesse do Sarney. Tá certo?", diz Colbert. "Que se cancelar aquilo, aquilo tá na bica de cancelamento, enfim algumas que eu sei de cabeça, assim. Cancela aquela, pega Sarney pela proa, vai ser mais confusão ainda, o.k.?" A deputada Fátima Pelaes nega as acusações.

Colbert e Frederico Silva da Costa têm algo em comum – além de ambos trabalharem no mesmo ministério, terem tratado da emenda de Fátima Pelaes e terem sido presos na semana passada. Eles chegaram a seus cargos indicados por Francisco Bruzzi, assessor da liderança do PMDB na Câmara dos Deputados. Bruzzi trabalha em uma sala minúscula, com espaço apenas para sua mesa e de sua secretária. Economista de 62 anos, com longa carreira em cargos públicos no Executivo e no Legislativo, Bruzzi é chefe de gabinete do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN). Ele é especialista nos trâmites do Orçamento Geral da União. Pelas mãos de Bruzzi, passam as sugestões de gastos do PMDB que ultrapassam R$ 1 bilhão por ano. Sugestões de Bruzzi para os ministérios do Turismo e da Agricultura foram acolhidas pelo PMDB e transformadas em atos publicados no Diário Oficial.

A aproximação de Bruzzi com Frederico Silva da Costa foi motivada pelo interesse comum pelas emendas parlamentares. Ao receber os repórteres de ÉPOCA em sua sala, na semana passada, Bruzzi disse que, de tanto tratar de emendas com o então secretário de Infraestrutura do Ministério do Turismo, o partido achou que promover Costa a secretário executivo seria uma boa opção para atender aos anseios do PMDB na gestão do ministro Pedro Novais. "Ele (Frederico) sempre atendeu com eficiência às demandas do PMDB e às solicitações da liderança do PMDB", afirma Bruzzi. Ele convenceu o então líder Henrique Eduardo Alves a bancar a indicação de Costa para a função. Costa prestava contas a Bruzzi do que se passava no ministério. Apesar de ser o número dois da pasta, Costa se deslocava até a pequena sala de Bruzzi na Câmara. "O líder chama sempre os secretários executivos aqui. "Vem cá, que tem um deputado aqui querendo resolver um problema." E (o secretário executivo) vem. O ministério não é do partido? Então, vem", afirma Bruzzi.

A operação da Polícia Federal da semana passada causou problemas entre o PT e o PMDB. Os líderes do PMDB se revoltaram não só com a prisão de Colbert Martins, mas com o fato de ele ter sido algemado. Eles reclamaram à presidente Dilma Rousseff. De acordo com assessores próximos, Dilma teria sido surpreendida pela operação, deflagrada na última terça-feira. Pouco depois das 8 horas da manhã, Dilma mandou chamar o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e perguntou o que era a Operação Voucher. Desde 2008, a Polícia Federal estava comedida não só no número, como na maneira de conduzir suas operações. Àquela altura do dia, Cardozo sabia pouco e Colbert Martins já havia sido preso em São Paulo, enquanto esperava pelo ministro Pedro Novais. O carro com Novais passaria para pegá-lo e os dois iriam ao aeroporto de Congonhas e voariam para Brasília. Ao ser avisado da prisão, Novais voltou para o hotel.

Por volta das 11 horas, Dilma soube que o ex-ministro do Turismo Luiz Barreto estava no P"alácio para uma solenidade. Barreto era o ministro em 2009, quando o convênio com o Ibrasi foi celebrado e um de seus principais colaboradores era Frederico Silva da Costa. Dilma mandou chamar Barreto e o interrogou. Como tinha de ir à solenidade, Dilma repassou então a tarefa de interrogar Barreto ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Ao meio-dia, o deputado Henrique Eduardo Alves convocou a bancada de deputados do PMDB na Câmara para receber o vice-presidente, Michel Temer. Na versão que chegou ao Palácio do Planalto, Alves defendeu a saída do ministro do Turismo, Pedro Novais, e o afastamento de políticos indicados pelo PMDB. O risco de um racha no governo foi contornado porque Dilma ligou para Temer e avisou que a operação nada tinha a ver com o ministro Pedro Novais. A pedido de Dilma, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, também telefonou para Novais. Mantido no cargo, Novais poderá agora explicar a liberação do dinheiro público para a reforma do Parque Mutirama, em Goiânia, cercada de suspeitas.

Editorial - REVISTA ÉPOCA - O papel das instituições no combate à corrupção


Editorial - O papel das instituições no combate à corrupção
Revista Época

Carta do diretor de redação Helio Gurovitz

A operação da Polícia Federal que prendeu na semana passada funcionários do Ministério do Turismo, acusados de pilotar um esquema de desvio de recursos públicos, foi o último de uma série de escândalos que têm ocupado o noticiário nas últimas semanas – e já atingiu os ministérios da Casa Civil, dos Transportes, da Agricultura, das Cidades e a Agência Nacional do Petróleo. Ao contrário do que ocorreu quase sistematicamente no governo anterior, a presidente Dilma Rousseff tem demonstrado, pelo menos por enquanto, determinação ao afastar os envolvidos nessas acusações, embora ainda não esteja claro o preço político que ela pode ter de pagar.

Ninguém deve se enganar, porém. Por maior que seja a determinação da presidente, uma democracia precisa que todas as instituições funcionem para desbaratar a corrupção, sobretudo a polícia, o judiciário – e a própria imprensa. O caso do Ministério do Turismo é, sob esse ponto de vista, exemplar. Mal Dilma tomara posse, ÉPOCA publicou, logo na primeira semana de janeiro, uma reportagem levantando diversas suspeitas que pesavam contra Frederico Costa, recém-nomeado secretário executivo da pasta e o principal alvo da operação da PF na semana passada.

A reportagem revelava que o currículo de Costa era incompatível com o cargo. Durante o governo Lula, quando secretário nacional do Desenvolvimento do Turismo, ele liberara R$ 13 milhões para a construção de uma estrada em Goiás cujo principal beneficiário era um empreendimento turístico de que sua família era sócia. A reportagem também contava que os bens de Costa estavam bloqueados desde fevereiro de 2010, por acusações de fraudes cometidas dez anos antes, e que ele era citado num relatório do Tribunal de Contas da União que apontava irregularidades em convênios do ministério com várias ONGs.

A importância da reportagem de ÉPOCA para as investigações posteriores da polícia pode ser atestada por um trecho do despacho em que o juiz federal Anselmo Gonçalves da Silva, do Amapá, dava a ordem para as prisões na semana passada: "Frederico Silva da Costa é citado em reportagem da revista ÉPOCA, sob o título "A ficha suja do executivo do Turismo", que o aponta como suspeito de desvio de recursos públicos". Numa democracia, o combate à corrupção tem de funcionar assim: a imprensa denuncia, a polícia investiga e a Justiça manda prender – e, depois, deve julgar e, se for o caso, condenar. Atingir um amadurecimento institucional capaz de tornar norma casos como esse é mais importante do que contar com a determinação política de quem ocupa cargos no Executivo para levar a cabo faxinas de ocasião.

ENTREVISTA - ANDRÉ LARA RESENDE

ENTREVISTA - ANDRÉ LARA RESENDE
Cristiano Romero
VALOR ECONÔMICO - 15/08/11

"CRISE DE 2008 AINDA NÃO TERMINOU"

Para Lara Resende, medidas adotadas no pós-crise recuperaram mercados, mas não a economia real

O estresse vivido pelos mercados nas últimas semanas não representa uma nova crise financeira mundial, mas, sim, um desdobramento da crise de 2008. O que está ocorrendo nas bolsas é uma forte correção de preços das ações de bancos e empresas, em função da frustração do crescimento das principais economias desenvolvidas, especialmente da americana.

As medidas adotadas pelos governos no pós-crise recuperaram rapidamente os mercados acionários, mas não a economia real. Empresas e consumidores no mundo rico estão reduzindo seus níveis de endividamento e aumentando a poupança, e isso provoca contração da atividade econômica. No caso dos Estados Unidos, esse processo pode durar cinco anos.

As avaliações são do economista André Lara Resende, um dos pais do Plano Real, hoje sócio da Lanx Capital, uma das maiores gestoras de recursos do país. "Não houve nenhum dado novo, não é uma nova crise. Acho que é de fato um desdobramento da mesma crise. Ela apenas não acabou", diz Lara Resende nesta entrevista ao Valor.

No caso do Brasil, ele faz uma crítica dura à reação do governo à crise de 2008. Diz que, ali, foi perdida uma oportunidade histórica para derrubar a taxa de juros de forma agressiva. O país, que, na sua avaliação, caiu numa "armadilha" ao adotar o binômio juros altos-câmbio sobrevalorizado para atrair poupança externa e aumentar os gastos públicos, deveria ter mantido a austeridade das contas públicas, em vez de forçar a recuperação da demanda com estímulos fiscais.

Agora, se houver uma nova desaceleração mundial, a chance de reduzir os juros reaparecerá. Mas, para tirar proveito dela, diz Lara Resende, o governo deve fortalecer as contas fiscais.

Valor: Qual é a gravidade dessa crise que se anuncia nas economias centrais?

André Lara Resende: O que ocorreu agora foi a queda das bolsas, a desvalorização de ativos de risco, principalmente no mercado acionário. Não houve nenhum fato novo. Quando o impasse sobre a elevação do teto da dívida dos EUA foi resolvido, imaginou-se que isso deveria dar um alívio ao mercado. O problema é que veio o rebaixamento dos EUA pela Standard and Poor's. Como as coisas foram logo em seguida e a bolsa teve uma grande queda, deu uma certa sensação de que estávamos tendo uma nova rodada de crise como houve em 2008. Não é o caso.

Valor: Por quê?

Resende: Porque a questão dos ratings é, no fundo, burocrática. As agências de rating não deveriam ter a credibilidade que têm. Existem porque a regulamentação exige que alguns investidores institucionais tenham que ter em suas carteiras títulos de bom rating. Por causa disso, as agências têm um poder de oráculo que, na verdade, elas não possuem. Tanto que se equivocaram nos anos que antecederam a crise. Elas estão, de fato, desmoralizadas, mas acho que esse é um problema menor.

Valor: O que causou, então, esse estresse nos mercados nas últimas duas semanas?

Resende: Houve apenas uma revisão das expectativas de crescimento, especialmente da economia americana. Isso não me surpreende porque numa crise da gravidade da de 2008, em que um país como os EUA estava sobre-endividado, há um período longo em que os agentes vão tentar reduzir o endividamento. Ao fazer isso, aumentam muito a poupança e reduzem, portanto, a demanda. E isso é recessivo. Nos EUA, o super endividamento privado foi transferido para o setor público. Logo, os americanos estão tendo um problema de dívida pública que eles não tinham. E estão fazendo, com grande ambiguidade, uma política keynesiana de expansão.

Valor: Isso pode durar quanto tempo?

Resende: Nós sabemos que a experiência mais recente de sobre-endividamento é a japonesa. O Japão está há 17 anos em estagnação, depois de passar por uma crise de endividamento e de sobrevalorização de ativos.

Valor: Os EUA podem viver situação parecida com a japonesa?

Resende: A economia americana é mais flexível que a japonesa, então, não seria de se esperar que os EUA também tivessem um período tão longo, de mais de uma década, de estagnação, mas eu sempre disse, a partir da crise de 2008, que os EUA passariam por, pelo menos, cinco anos de estagnação. Aquela crise não foi uma recessão comum, em que se tem um recuperação rápida depois de um ano, 1,5 ano no máximo, de contração.

Valor: Era essa a expectativa do mercado?

Resende: O mercado passou um pouco a acreditar nisso. Houve uma recuperação grande dos mercados acionários, muito turbinados pela política do banco central americano de manter a taxa de juros extraordinariamente baixa. Mas o mercado acionário só não via que esses níveis exigiam que a recuperação da economia americana se confirmasse. Agora, ficou claro que a recuperação está muito mais lenta do que parecia. Então, houve nos mercados uma correção em relação às expectativas de crescimento da economia americana e de resultado das empresas. Mas há três problemas para a recuperação da economia mundial hoje.

Valor: Quais são?

Resende: Do lado americano, a situação está muito complicada do ponto de vista político. É evidente que há um impasse pelo menos até o fim do governo Obama [janeiro de 2013]. Não se pode, portanto, contar com estímulos à economia mundial vindo dos EUA. Os americanos demonstraram que vivem uma situação de semi-paralisia.

Valor: Isso piorou com o acordo para o aumento do teto da dívida?

Resende: O Obama foi chantageado pelo Tea Party, a ala radical do Partido Republicano, e cedeu. Isso mostrou a fraqueza do governo. Acho sempre difícil fazer previsões, mas não imagino que, dos EUA, venham novidades negativas.

Valor: O senhor mencionou três problemas. Quais são os outros dois?

Resende: O primeiro é a China, que está super aquecendo sua economia há alguns anos e, agora, está com a inflação bastante alta. Está fazendo neste momento um esforço de desaceleração gradual. Se der uma engasgada mais brusca, isso terá repercussões muito sérias sobre a economia mundial, especialmente quando a principal locomotiva, que até pouco tempo sempre foi a americana, vai estar estagnada.

Valor: Qual é o terceiro problema?

Resende: É a Europa. Este é o ponto mais frágil de todo esse cenário da economia global. A Europa sofreu do mesmo problema americano de super valorização de ativos, especialmente no mercado imobiliário. Alguns países mais, outros menos, mas todos foram vítimas da doença da bolha de ativos. A Europa vinha com uma experiência que considero a mais importante da nossa época moderna - o euro e a União Europeia.

Valor: Não se trata de uma experiência bem-sucedida?

Resende: O problema é que todos os economistas sabem que uma união monetária, sem algum tipo de união fiscal, é frágil. A Europa fez um movimento audacioso de permitir o livre trânsito de pessoas e de ter uma moeda única. O passo seguinte que com certeza ia ser feito em algum momento é a união fiscal, a criação de uma orçamento fiscal europeu, ainda que, evidentemente, preservando os orçamentos nacionais. O que poderia ser feito com calma e com sucesso pode acabar sendo feito obrigado pela crise.

Valor: Como?

Resende: Começou com a deficiência fiscal da Grécia, que claramente tinha falsificado suas contas e apareceu com um problema muito maior do que se imaginava. Foi criado um fundo de estabilidade financeira europeu, primeiro com mais de € 70 bilhões, e que já foi aumentado duas vezes, na última para cerca de € 400 bilhões. Isso, de certa forma, já é o primeiro passo de um orçamento fiscal europeu.

Valor: Há consenso na Europa em torno de um orçamento unificado?

Resende: Não. A união fiscal ainda enfrenta extraordinárias resistências políticas, especialmente, dos países mais superavitários e conservadores fiscalmente, como Alemanha e Holanda. A população desses países diz: 'Não estamos aqui para pagar impostos pelos excessos dos nossos sócios que foram irresponsáveis'. Isso é um clássico, um problema político muito complicado.

Valor: Por que a situação na Europa segue se deteriorando, apesar das medidas adotadas?

Resende: O que ocorreu nas últimas semanas é que a crise, que inicialmente parecia limitada aos países menores e periféricos, como Grécia, Portugal e Irlanda, começou a atingir a Espanha e, surpreendentemente, a Itália. Quando as taxas de dívida soberana desses países começam a crescer, significa dizer que os preços dos títulos em carteira começam a cair. Os bancos italianos, por exemplo, são muito frágeis, estão carregando papéis da dívida italiana que estão se desvalorizando, então, isso pode botar o sistema bancário novamente sob pressão.

Valor: A forte queda nas ações dos bancos reflete essa percepção?

Resende: Há uma perfeita simetria. O aumento das taxas dos títulos de dívida soberana é acompanhado, desde o início do ano, pela queda do valor das ações dos bancos. Esse processo já vem de algum tempo e se intensificou na semana passada. Não houve nenhum dado novo, portanto, não é uma nova crise. Acho que é de fato um desdobramento da mesma crise, ela apenas não acabou.

Valor: O senhor acha que há risco de uma nova crise bancária, como a de 2008?

Resende: Sempre há. Os bancos ainda estão muito fragilizados. Eles foram recapitalizados, boa parte de seus ativos, especialmente nos EUA com o "quantitative easing" [política em que o banco central compra papéis dos bancos para aumentar a liquidez da economia], foi transferida para o Federal Reserve [o BC americano]. Os bancos na Europa também foram recapitalizados, mas não estão no melhor da sua saúde.

Valor: Por quê?

Resende: Porque a desconfiança hoje passou a ser sobre a saúde dos bancos que estão carregando parte dos títulos de dívida soberana. Antes, havia um excesso de endividamento privado, então, você tinha dívida privada carregada pelos bancos. Com a crise de 2008, os ativos se desvalorizaram muito e parte disso foi transferida para o setor público. Agora, há uma percepção de que há um excesso de endividamento público, especialmente, em alguns países da Europa.

Valor: O Brasil, como sustenta o governo, está preparado para enfrentar uma nova crise?

Resende: A crise de 2008 foi uma crise bancária e financeira muito séria e interrompeu completamente os financiamentos do mercado internacional de crédito. O Brasil é um país que poupa pouco - menos de 17% do PIB -, enquanto a Índia poupa pouco mais de 30% do PIB e a China, mais de 50% do PIB. As razões da baixa poupança no Brasil são controversas, mas é um dado. O Brasil tem ambiciosas metas de investimento, especialmente de gastos públicos. Se essas metas são justificáveis ou não é outra questão, mas o fato é que esse quadro cria uma insuficiência de poupança.

Valor: Como o país enfrentou essa insuficiência ao longo do tempo?

Resende: Uma maneira foi criar poupança forçada através da inflação, usada pelo governo para financiar o excesso de investimentos e de gastos públicos. Esse modelo foi adotado desde o fim da Segunda Guerra Mundial e se esgotou quando a inflação subiu e ameaçou caminhar para uma hiperinflação. Com a estabilização promovida pelo Plano Real, a ideia de usar poupança forçada via inflação tornou-se disfuncional.

Valor: O que foi feito a partir daí?

Resende: Em vez de usar poupança forçada, o país passou a usar poupança externa, que é outro nome para déficit externo ou déficit em conta corrente. Como estabilizou a inflação e estava com as contas públicas relativamente estabilizadas, surgiu um espaço de confiança muito grande e, assim, o Brasil teve acesso a financiamento externo. O país caiu, no entanto, numa armadilha.

Valor: Qual?

Resende: É o que chamo de 'armadilha brasileira', que é o juro real muito alto e o câmbio sobrevalorizado para viabilizar o acesso à poupança externa. O Brasil está amordaçado numa taxa de juros elevada porque essa é a forma de viabilizar o uso de poupança externa. Substituíram-se a inflação e a poupança forçada pelo juro alto com câmbio valorizado e poupança externa. O que ocorreu no Brasil em 2008 é que o financiamento externo se interrompeu temporariamente, o real se desvalorizou subitamente e a economia parou. A reação de política econômica brasileira foi totalmente equivocada. O país perdeu uma oportunidade de sair da armadilha.

Valor: O que deveria ter sido feito?

Resende: O Brasil deveria ter reagido com uma política monetária muito mais folgada, mantendo a política fiscal restritiva. O que o país fez foi totalmente equivocado. Adotou uma política fiscal expansionista, elevando os gastos correntes do governo. Se tivesse fortalecido a situação fiscal e reduzido os juros de forma mais agressiva, poderia ter terminado a crise com nível de juros mais baixo e câmbio mais desvalorizado do que no período pré-crise. O governo reagiu, no entanto, como se o país tivesse um problema de insuficiência de demanda keynesiana, que é o caso dos EUA, mas não do Brasil.

Valor: Por quê?

Resende: Porque o Brasil não estava com sobre-endividamento, não tinha esse problema de demanda doméstica, as pessoas aqui não estavam poupando para reduzir o endividamento. É o contrário! O que houve foi uma certa desculpa. Afinal, no Brasil, sempre se gosta de aumentar o gasto público. À medida que a economia mundial se recuperou um pouco, houve pressões cada vez maiores tanto de aumento do déficit externo quanto inflacionárias. Por quê? Porque, para que o Brasil pudesse não ter pressão inflacionária, teria que deixar o déficit em conta corrente aumentar mais e a moeda se valorizar mais ainda, mas isso é intolerável porque provoca pressões sobre a indústria doméstica inteira. O governo acabou reagindo.

Valor: De que forma?

Resende: Começou a dizer: 'Eu boto um teto na valorização do real ou um piso na desvalorização do dólar'. Ao fazer isso, começa a acumular reservas, mas, como está com a taxa de juros muito alta, fica oneroso para o Estado. Acho que o momento atual não é igual ao de 2008, mas, se a coisa se agravar e houver de fato uma nova desaceleração da economia mundial, que afete o Brasil, a reação correta é baixar os juros e apertar a política fiscal, desfazer o que foi feito em 2008.

Valor: O governo alegou naquela época que, sem o afrouxamento da política fiscal, a recessão teria sido mais forte. Além disso, a taxa de juros foi reduzida (de 13,75% para 8,75% ao ano).

Resende: Poderia ter caído muito mais. Poderia ter usado aquele momento para sair da armadilha.

Valor: O governo, agora, anunciou que preservará a situação fiscal, dando a entender que a resposta, para enfrentar uma nova crise, será monetária.

Resende: Está corretíssimo. Este é o caminho. Se você quer pôr um piso na queda do dólar, deve baixar a taxa de juros. Agora, se você quer manter a taxa de juros alta, tem que aceitar a valorização do real.

Valor: Mas, se baixar os juros, não vai ter inflação?

Resende: Então, tem que usar a política fiscal para enfrentar a inflação. É o excesso de política monetária apertada, dado que a política fiscal é folgada, que está provocando a valorização da moeda.

ROSANE OLIVEIRA - Afago e pressão


Afago e pressão
ROSANE OLIVEIRA
ZERO HORA - 15/08/11

O Brasil assistirá hoje a mais um dos paradoxos do PMDB. No Senado, o Senador Pedro Simon, líder histórico do partido, autodefinido como independente e sem indicados seus para cargos no governo, subirá à tribuna para defender a presidente Dilma Rouseff, pressionada pela ala do PMDB que ocupa posições de destaque na Esplanada dos Ministérios. Simon sabe que seu poder no partido é zero, mas quer atrair a atenção dos cidadãos cansados da corrupção para que Dilma não corra o risco de ficar sozinha nessa empreitada.
O ato organizado por Simon, e que já tem a adesão de outros Senadores, coincide com um momento particularmente delicado para o PMDB. O fim de semana, como têm sido todos os últimos, foi tenso por conta de novas denúncias de irregularidades no Ministério da Agricultura. O ministro Wagner Rossi age como se estivesse naquele jogo conhecido como "caçador", em que o sujeito precisa se defender o tempo todo da bola para "não morrer". Até aqui, tem conseguido, embora as denúncias se avolumem. A última, de pagamento de R$ 6,5 milhões feito pelo Ministério da Agricultura a uma empresa de fachada, deve ser o tema da oposição nesta segunda-feira.
O Ministério do Turismo, também comandado pelo PMDB, segue na berlinda, embora o foco tenha saído um pouco das denúncias de desvios de recursos para a forma como foram tratados os presos na Operação Voucher.
Dilma precisa do PMDB para governar, como Lula e Fernando Henrique precisaram. Ela conhece bem a história do Brasil e sabe que nenhum presidente sem maioria no Congresso conseguiu chegar ao fim do mandato. Por mais que deseje fazer nos ministérios ocupados pelo PMDB uma faxina semelhante à que fez nos Transportes, quando era seara do PR, existem limites.
Os institutos de pesquisa ouvem os eleitores em geral, incluindo aqueles que têm parentes nas filas de espera.

ALIÁS
Com um pé fora do governo, magoados pela forma como foram tratados, os parlamentares do PR planejam boicotar o depoimento do ministro Paulo Passos para deixar claro que, embora filiado, ele não representa o partido.

Garagem subterrânea
A partir de amanhã, empresários dispostos a investir na construção de garagens subterrâneas em espaços públicos de Porto Alegre poderão apresentar a manifestação de interesse à prefeitura. A largada para os dois primeiros projetos " sob a praça Parobé, no Centro Histórico, e embaixo do Parque Ramiro Souto, na Redenção " será dada amanhã, às 10h.
As manifestações de interesse com os elementos básicos do projeto, como número de vagas, previsão de faturamento e tempo necessário de concessão para pagar os investimentos serão recebidas nos próximos 45 dias. O edital de licitação deve ser lançado até o final do ano, com perspectiva de assinar os contratos em fevereiro de 2012.
As empresas também poderão apontar outras áreas que podem ter garagens subterrâneas. Duas já estão nos planos da prefeitura para tirar os estacionamentos da rua e liberar o trânsito: no bairro Moinhos de Vento e na Estação Rodoviária.

NA TERRA NATAL
Escolhida pelo PP para ser a protagonista da eleição de 2012 sem concorrer a nenhuma prefeitura, a Senadora Ana Amélia Lemos deu uma demonstração de força em sua terra natal, no fim de semana: mais de mil pessoas participaram do almoço em que foi celebrada a filiação do ex-prefeito Moacir Volpato (E) e de mais 200 pessoas.
Volpato era do PDT, migrou para o DEM e agora deve concorrer a prefeito pelo PP. Atrair filiados é uma das missões de Ana Amélia no partido.
A Senadora confirmou que hoje estará entre os Senadores que ocuparão a tribuna do Senado para falar das ações da presidente Dilma Rousseff no combate à corrupção, uma manifestação capitaneada pelo Senador Pedro Simon.
" A presidente Dilma vem mexendo com interesses sensíveis da sua base de apoio e, embora eu seja uma Senadora independente dentro de um partido da base, acredito que essa é a hora de dar a ela o suporte político necessário " disse Ana Amélia.

Pesquisa e diagnóstico
Vem do presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, Paulo de Argollo Mendes, a melhor explicação para o descompasso entre as pesquisas de opinião sobre a avaliação do governo na área da saúde e o que os pacientes dizem do SUS nos questionários a que respondem:
" Essa alegada aprovação seria de quem conseguiu acessar os serviços públicos, do parto ao transplante de medula e tratamento de câncer. O problema é que a maioria não chega nem perto do que precisa.

Divisão no PP
Indignado com a destituição do líder Nelson Meurer por um grupo que se autodenomina a "jovem guarda do PP", o deputado Vilson Covatti acusa os 22 deputados que aderiram ao movimento de estarem dando um golpe no colega.
" Deram um golpe em pleno 2011. O Nelson é um homem probo, honrado, com cinco mandatos. Podiam ter esperado até o final do ano. Isso enfraquece o partido " reclama Covatti.
O deputado ameaça entrar com representação na Comissão de Ética da sigla contra o grupo que derrubou o líder.

Contestação
Em nome do grupo que ganhou a queda de braço na bancada do PP, o deputado Jerônimo Goergen, agora vice-líder, sustenta que não houve golpe:
" Fizemos o que o regimento prevê. O líder nunca reuniu a bancada. Decidia tudo no grupinho dele. A partir de agora, tudo será decidido no voto.
Jerônimo atribui a indignação de Covatti ao fato de que com Meurer na liderança ele seria indicado para concorrer a uma vaga de ministro do Tribunal de Contas da União. Agora, o candidato do PP será definido no voto.

MIRANTE
- São remotas as chances de o PP emplacar o novo ministro do TCU. O favorito é o deputado Aldo Rebelo (PC do B).
- Dez dias antes de o Senador Pedro Simon organizar a manifestação em favor da presidente Dilma Rousseff, a Câmara de Caxias aprovou moção de autoria do vereador Mauro Pereira , apoiando as ações do Planalto contra a corrupção.
- Correção: O Escritório B-720 foi contratado pelos espanhóis que venceram a licitação para a revitalização do Cais Mauá, mas não integra o consórcio.

CARTA AO LEITOR - Toda a força à presidente - REVISTA VEJA



Toda a força à presidente
CARTA AO LEITOR
REVISTA VEJA 

Desde junho, a presidente Dilma Rousseff vem enfrentando com determinação a série de denúncias sobre esquemas de corrupção no ministério que se viu obrigada a montar sob os auspícios de seu antecessor e aliados políticos. O primeiro a cair foi o então ministro-chefe da Casa Civil Antonio Palocci, que não soube explicar a origem da dinheirama que lhe permitiu comprar apartamentos de luxo em São Paulo - um deles revelado por esta revista. Em seguida, foi a vez do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. Ele e outros 26 funcionários que comandava foram exonerados, depois que VEJA mostrou o superfaturamento em obras inacabadas e cobranças de propina na pasta. Na semana passada, também por meio de uma reportagem desta revista, o país foi informado de lambanças promovidas no Ministério da Agricultura, atualmente sob a batuta de Wagner Rossí. No curso da apuração, o editor Rodrigo Rangel foi covardemente agredido por um meliante que se movimentava com liberdade dentro do ministério, para subornar servidores e manipular licitações. O meliante está foragido e o número 2 na hierarquia da repartição foi demitido. Na mesma semana, a Polícia Federal estourou uma quadrilha que agia dentro do Ministério do Turismo desde a gestão anterior. Trinta e seis pessoas foram presas.

Nesta edição, VEJA traz outra reportagem envolvendo o ministro Wagner Rossi. Quando comandava a Companhia Nacional de Abastecimento, ligada à Agricultura, ele ajudou a jogar no lixo 8 toneladas de feijão, para encobrir uma fraude eleitoral. Na condição de presidente da Companhia Docas doEstado de São Paulo, quitou à sorrelfa dívidas previdenciárias de noventa empresas fornecedoras do Porto de Santos. Com Rossi à frente da Agricultura, de acordo com um funcionário da pasta que falou à revista, empresas conseguiram obter facilidades em licitações mediante pagamento. Evidentemente, acusações não são provas, mas, corno o ministro é do PMDB, a presidente Dilma sofre chantagem explícita da chamada base aliada, para que evite tomar providências compatíveis com as graves denúncias contra Rossi. Ameaçam retirar-lhe o apoio no Congresso, entre outras demonstrações de espírito cívico. Assim como todos os brasileiros honestos, pagadores de impostos, VEJA está ao lado da presidente. Sua popularidade subiu graças à faxina que ela vem conduzindo, a despeito dos obstáculos. Cansamos todos de ver o dinheiro público escoar para as contas bancárias dos beneficiados pelo loteamento político na Esplanada dos Ministérios, praga da qual decorrem todos os malfeitos verificados até o momento na esfera federal. Esses milhões de cidadãos têm na presidente uma referência de força e coragem. Que Dilma Rousseff continue a fazer sua faxina e que seu exemplo se espalhe por todos os níveis da administração pública.

CARLOS ALBERTO SARDENBERG - O Brasil ficou muito caro


O Brasil ficou muito caro
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O Estado de S. Paulo - 15/08/2011

Por todo lugar onde passo, ouço histórias de indústrias brasileiras que perdem mercado para concorrentes chineses. Trata-se de uma dupla perda. De um lado, há companhias locais que não resistem à entrada dos produtos importados. Na outra ponta - e talvez seja o caso mais dramático -, empresas exportadoras são deslocadas pelos chineses de mercados na América Latina, nos Estados Unidos e na Europa.

São situações bem diferentes, a exigir respostas diferentes. No caso da concorrência dos importados, é até mais fácil. No limite, e sem discutir, por ora, o mérito dessa política, o governo brasileiro pode impor severas restrições à importação, combinando-as com medidas de favorecimento ao produto nacional. Como, aliás, já começa a fazer.

Mas como fazer para equilibrar a concorrência com os chineses no mercado de ônibus urbanos no Peru? Pode-se até conseguir alguma coisa por meio da diplomacia - Hugo Chávez, por exemplo, a um dado momento, deu preferência a produtos e serviços brasileiros, como na construção de obras públicas. Mas está claro que isso é episódico. Governos estrangeiros, em regra, não vão conceder proteção às mercadorias brasileiras.

Que fazer? Executivos envolvidos nessas histórias têm suas explicações e propostas.

O real valorizado e o yuan, moeda chinesa, desvalorizado são, claro, parte importante do problema. Mas tenho ouvido cada vez mais outras interpretações, que colocam a questão da competitividade geral das duas economias.

Os salários chineses, por exemplo. Já não são baixos, pelo menos não nos setores mais avançados, como eletrônicos, informática e tecnologia da comunicação - contam executivos que lidam com essa concorrência. Dizem que os salários têm subido de maneira expressiva nos últimos anos e, mesmo assim, os produtos deles preservam preços competitivos no mundo todo.

Mas os impostos sobre a folha de salários fazem muita diferença. Ou seja, em diversos setores econômicos, o dinheiro que o trabalhador brasileiro leva para casa não é mais do que o obtido pelo chinês. A diferença efetiva está no imposto cobrado sobre a folha de salários: aqui, algo como 35%; lá, quase nada.

Na verdade, o peso dos impostos brasileiros fica cada vez mais evidente. Ouço frequentes relatos de executivos brasileiros que têm na ponta da língua a sequência infinita de impostos, taxas e contribuições que pagam desde o início da produção até colocar a mercadoria no navio.

Todo mundo sabe disso, a começar pelo governo. Tanto que todas as políticas industriais incluem como peça essencial a desoneração de impostos para setores e empresas. Mas não funciona, porque só podem ser beneficiados alguns poucos escolhidos, uma vez que o governo continua precisando de arrecadação para financiar gastos crescentes. Este ou aquele setor ganha uma competitividade extra, e dependente das autoridades de plantão, mas o geral da economia continua pagando caro.

O outro problema cada vez mais evidente é o custo de capital - a taxa de juros.

A empresa brasileira se financia a juros muito, mas muito maiores que a chinesa. De novo, a política industrial concede financiamentos a juros baixinhos via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mas poucos têm acesso a esse dinheiro barato. Quer dizer, barato para o tomador, mas caro para o governo, que o subsidia.

Acrescente o custo da infraestrutura - a gente não faz um aeroporto novo há décadas, os chineses fizeram uma rede - e se tem a história toda.

Nada disso é novo. O que me parece novo é o aparecimento frequente desse tema na bronca dos executivos. Antes, quase só se reclamava da taxa de câmbio. Hoje se fala mais do custo Brasil, antes do câmbio.

Essa é a abordagem correta. Claro que um real bem desvalorizado - a R$ 3 por dólar, digamos - tornaria mais competitivos os produtos brasileiros lá fora. Mas provocaria uma forte inflação local, ao encarecer os importados e os produtos locais comercializáveis internacionalmente. Seria um novo tipo de custo Brasil.

Por outro lado, a proteção ao produto brasileiro no mercado brasileiro também vai encarecer o preço, sem representar ajuda para a exportação.

Eis o ponto: produzir no Brasil ficou muito caro - pelos impostos e juros e pelo ambiente de negócios (custos burocráticos, de licenciamento, etc.) - e não há mais real desvalorizado que resolva.

Bobeamos nisso. Há anos que a carga tributária aumenta todos os anos - e isso tem passado quase sem oposição. Não digo que devemos importar os republicanos americanos, mas vamos reparar: a gente paga mais imposto que os americanos.

Há anos pagamos juros elevadíssimos e parece que está tudo bem. Até acreditamos quando nos dizem que sai em seis vezes no cartão sem juros. Ora, pessoal, essa autoenganação está passando do limite.

O que atrapalha o Brasil, o que impede o crescimento mais rápido, o que nos derrota na concorrência com os chineses é o governo - que arrecada demais, gasta demais, e mal, e ainda por cima deve muito, toma muito dinheiro emprestado, forçando os juros para a Lua.

SUZANA M. PADUA, CLAUDIO PADUA, EDUARDO DITT e THOMAZ ALMEIDA - Do Código Florestal à água da torneira


Do Código Florestal à água da torneira
SUZANA M. PADUA, CLAUDIO PADUA, EDUARDO DITT e THOMAZ ALMEIDA
Folha de S. Paulo - 15/08/2011

Para muita gente pode ser difícil perceber que as perdas de florestas decorrentes da mudança no Código Florestal vão afetar nosso bem-estar. Estamos falando de perdas fundamentais, como a água.
Desmatamento em nascentes, cursos d'água e reservatórios afetarão a disponibilidade da água, e a tendência é que isso aconteça exponencialmente se o código sofrer as mudanças em discussão.
Vamos usar um exemplo que conhecemos amiúde. O reservatório do rio Atibainha, localizado em Nazaré Paulista, São Paulo, é uma das represas que compõem o sistema Cantareira. Construído entre as décadas de 1960 e 1970, o sistema visava atender à demanda crescente por água decorrente do aumento da população da Grande São Paulo.
Hoje, o sistema fornece mais de 50% da água de São Paulo, 95% da água de Campinas e quase a totalidade das cidades da região, com mais de 9 milhões de habitantes-consumidores.
Aproximadamente 50% das terras no entorno do Atibainha são ocupadas por remanescentes de mata atlântica. Uma proporção extraordinária. É essa riqueza ambiental que torna a região uma verdadeira produtora de águas. As matas garantem a proteção das nascentes dos rios, a qualidade dos cursos d'água e sua produção, e o reservatório funciona como uma grande caixa d'água.
O desmatamento, se permitido legalmente pelas mudanças propostas no Código Florestal, causará um efeito direto que pode ameaçar a quantidade e a qualidade de água disponível em um dos maiores conglomerados humanos do país. Estudos do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas) quantificam o efeito dos usos do solo.
Uma área de 7.000 hectares ao redor do reservatório tem sedimentação quase inexistente se ocupada por floresta nativa. Se substituída por pastagem, nosso cálculo é que seja como um carregamento de 1.470 toneladas de sedimentos entrando na represa por ano -equivalente a 270 caminhões de terra-, o que o encherá até não haver espaço para a água, comprometendo sua disponibilidade para consumo.
Desde que o reservatório Atibainha foi construído, as pressões têm aumentado, como em outras regiões do país. É um exemplo de local com riqueza natural e desafios sociais, o que pode dar a impressão de que para ter progresso é preciso destruir a natureza.
Mas o mundo mudou, e os valores precisam ser atualizados para que haja chance de um futuro de bem-estar para todos. A natureza não deveria mais ser computada como um "presente", sem valor nas equações econômicas.
O IPÊ há mais de 15 anos vem tornando a região um laboratório de pesquisa e ação, desenvolvendo metodologias de reflorestamento e restauração da paisagem. Melhorias sociais, no entanto, podem levar mais tempo.
Se o Código Florestal for alterado, os desmatamentos serão permitidos por lei e trarão impactos que incluem a água produzida na região do Atibainha, que sai nas torneiras de milhares de pessoas.

SUZANA M. PADUA, 60, doutora em educação ambiental pela UnB, é presidente do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas) e vencedora do Prêmio Empreendedor Social 2009.
CLAUDIO B. V. PADUA, 62, doutor em ecologia pela Universidade da Flórida (EUA), é reitor da Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (Escas) e vencedor do Prêmio Empreendedor Social 2009.
EDUARDO H. DITT, 40, doutor em ciência ambiental pelo Imperial College London, é diretor da empresa Arvorar Soluções Florestais.
THOMAZ ALMEIDA, 27, biólogo, é pesquisador do IPÊ e mestrando na Escas

GUSTAVO PATU - Nem multiplicando por três


Nem multiplicando por três
GUSTAVO PATU
FOLHA DE SP - 15/08/11

BRASÍLIA - Como os demais escândalos de corrupção das últimas décadas, os recentes muito provavelmente produzirão mais catarse do que vergonha genuína, daquelas capazes de evitar a repetição posterior dos vícios.
Mas pode haver consequências, sim, para a agenda mais consensual do país hoje: a urgente expansão do investimento, público e privado -ou, em português mais claro, das obras e projetos destinados a ampliar a infraestrutura e a capacidade produtiva (embora a retórica do poder brasiliense trate o termo como sinônimo de gasto, porque parece soar melhor).
Apoiada por situação e oposição, direita e esquerda, neoliberais e desenvolvimentistas, a agenda se arrasta entre resultados que mantêm o Brasil na pior posição entre as economias não vitimadas por guerras, fome ou irrelevância.
O segundo governo Lula contou com boa vontade geral na tentativa de deixar para trás a imagem de desperdício e malversação associada às obras públicas. A visão noventista de que o setor privado poderia dar conta sozinho do recado morreu. Acabou também o problema ou a desculpa da falta de dinheiro do Tesouro Nacional.
E, no entanto, o investimento apenas passou de baixíssimo para muito baixo -com o agravante de que os números seriam ainda menores se alguns empresários não multiplicassem por três os valores cobrados do governo, como relata um deles, flagrado em grampo.
As ideias em prática e em estudo para a aceleração das obras se concentram na redução de obstáculos legais, procedimentos de controle, exigências das licitações, rigores do TCU. Daqui para a frente, vai ser mais difícil insistir nessa via.
Afinal, o PAC não falhou apenas na entrega completa de suas promessas publicitárias. Ainda está por ser formatado um modelo para obras que combine em doses mínimas planejamento, gerenciamento, transparência e fiscalização.

MARCO ANTONIO ROCHA - Já é mais do que hora de mudar tudo o que está aí


Já é mais do que hora de mudar tudo o que está aí
MARCO ANTONIO ROCHA
O Estado de S. Paulo - 15/08/2011

Lá fora, lavra solta a especulação. Aqui dentro, a corrupção é que lavra solta.


A especulação financeira mundial chegou aonde muitos chefes de governo sérios, e muitos economistas, prognosticaram: ela ameaça a estabilidade das bolsas, dos bancos, dos títulos dos governos, dos fundos de aposentadoria, dos financiamentos imobiliários, das poupanças individuais. E, por tabela, ataca a economia real, decretando falências de empresas produtivas, gerando recessão, desemprego, cortes de investimentos públicos, desespero nas famílias e sobressalto quanto ao futuro. Efeitos que, por sua vez, desencadeiam a fúria das multidões, os protestos, o quebra-quebra, os riots, como na Espanha, na Grécia, na Irlanda, em Londres e, talvez ainda, na França e até na Alemanha.

Só nos Estados Unidos não se vê quebra-quebra e arruaça, embora o desemprego seja elevado e desanimadoras as perspectivas para a economia. Desespero e desconsolo explodem ali em atos individuais de selvageria: tiroteios a esmo, nas escolas e nas lanchonetes. Estranho, não? Por que será? Não sei. Os sociólogos que tentem responder.

Aqui dentro, o avanço despudorado da corrupção é que desconcerta e desacorçoa. Tira o entusiasmo pela democracia que levamos quase 500 anos para conquistar. Sim, porque, na verdade, só começamos a conquistá-la a partir de 1985. Em toda a nossa história houvera apenas uma tentativa, de curta duração e fracassada, de 1945 a 1964.

E essa onda de corrupção desenfreada, que de endêmica passou a epidêmica, justamente no período em que melhor se poderia combatê-la, o da estabilidade monetária em que entramos desde 1994 - fato estranho esse também, não? Por que será? -, traz como efeito óbvio, em primeiro lugar, a dilapidação de recursos públicos ultranecessários num país de grandes carências como o nosso. É a corrupção lavrando solta na Saúde, na Educação, nas creches municipais, no recolhimento do lixo, na alimentação escolar, nas obras públicas, no Bolsa-Família, no Turismo, nos Transportes, na Agricultura, ou seja, onde quer que haja dinheiro dos governos - federal, estadual ou municipal - a ser alcançado pelas destruidoras saúvas da política brasileira.

Todas as semanas vemos na TV e nas fotos dos jornais as cenas da Polícia Federal prendendo corruptos na alta madrugada, carregando documentos e computadores, recolhendo maços de dinheiro, algemando facínoras lotados em cargos públicos, da administração direta ou indireta, e membros do baixo clero da política nacional.

Todas as semanas os Tribunais de Contas (da União, dos Estados, dos Municípios) embargam obras por irregularidades, desvios e descaminhos, enquanto algumas corregedorias que ainda se apegam a cumprir fielmente seu papel mandam prender policiais desonestos, promotores e até juízes de direito. Todas as semanas as câmaras especializadas dos Ministérios Públicos encaminham aos órgãos judiciais denúncias de bandalheiras nos três níveis da administração pública.

Não é possível conviver com o efeito deletério desse estado de coisas para o espírito da Nação e, principalmente, para a formação da consciência política dos jovens. Não é preciso ser sociólogo, nem politicólogo, nem filósofo para afirmar que nenhuma sociedade humana aperfeiçoa o seu clima de convívio e sua busca da felicidade e da dignidade num ambiente de indecência permanente, como o que estamos vivendo hoje no Brasil.

Eu sei qual vai ser o teor dos e-mails que uma certa ala de leitores "politizados" dos meus artigos vai enviar. Vão dizer que no tempo de FHC era pior, que no tempo do tucanato a corrupção lavrava solta. Desde já eu concordo, e digo que, muito antes, nos tempos de JK e de Getúlio, quando comecei esta infeliz profissão de observador sempre decepcionado dos acontecimentos, a coisa já era muito ruim.

Mas é exatamente por isso que temos a obrigação, todos nós - petistas, pessedistas, peemedebistas, comunistas, direitistas, socialistas, neoliberalistas ou o que for que sejamos -, de dizer que já "é hora de mudar tudo o que está aí", dar um basta nessa situação abjeta, em nome da faxina do nosso presente, mas, principalmente, da faxina do futuro dos nossos filhos, netos e bisnetos. Se já não for tarde demais, pois a aterrorizante característica de uma sociedade corrupta é sua capacidade de reprodução continuada.

O mais ignominioso sinal disso é o esforço que a banda podre do governo e da política nacional faz para "enquadrar" a presidente Dilma. Feridos em sua sensibilidade despudorada, seus membros exibem canalhice desmesurada ao falar dos "abusos" da PF, exigem a contenção dos "exageros", choram a sorte de colegas algemados e conduzidos em camburões. O objetivo é trazer a presidente para o redil da maracutaia, para o valhacouto da indecência, cevado com desfaçatez pelo antecessor. O inquietante é que a coitada permite que áulicos e sabujos divulguem que ela considerou um "acinte" o arrastão da PF sobre os falcatrueiros, quando o que ela precisa é ajudar os brasileiros a exorcizar a pouca-vergonha que tomou conta de muitos gabinetes governamentais pelo País afora.

Sim, pois o que está faltando, no Brasil e no mundo, contra a corrupção interna e contra a especulação externa, em prol da decência humana, é liderança corajosa, governança lúcida e firmeza de caráter que não se está vendo, nem aqui nem lá fora.

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO - Bem-vindo, Primeiro Mundo


Bem-vindo, Primeiro Mundo
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
O Estado de S. Paulo - 15/08/2011

Imagine viver em um país onde a polícia recebe vários telefonemas de um matador querendo se entregar e mesmo assim demora uma hora para chegar ao local da chacina porque o piloto do helicóptero está em férias. Ou em um reino onde o principal líder assiste, pela TV, sua capital pegar fogo durante três dias antes de interromper as férias e voltar a trabalhar. Melhor ainda, num lugar onde oposição e governo cogitam transformar o país em caloteiro apenas para extrair ganhos políticos de uma votação no Congresso.

Quem acompanhou as manchetes das últimas semanas sabe que esses exemplos vêm da Noruega, Inglaterra e Estados Unidos - respectivamente o líder mundial em desenvolvimento humano, o que sobrou do maior império da terra, e o país mais poderoso do planeta. Casos se multiplicam. Não dá para esquecer a imprevidência e inépcia das autoridades japonesas na crise nuclear de Fukushima.

Na relação dívida pública/PIB, países do Primeiro Mundo têm as maiores proporções de endividamento em relação ao que produzem suas economias - o dobro do que o Brasil. Gastam muito mais do que poderiam, não fosse a boa vontade do resto do mundo em emprestar-lhes dinheiro. Um comportamento tão esbanjador e repetitivo que ameaça jogar a economia global na sua segunda recessão em menos de quatro anos.

Seriam sinais de decadência? Ou apenas um incentivo a tomar empréstimos sem meios para pagá-los? Afinal, rico não parece ser quem ganha, mas quem deve.

Sejam quais forem as respostas, não escapam à constatação de que Noruega, Inglaterra e EUA conquistaram melhores condições de vida para a maioria de sua população apesar de também terem governantes e autoridades capazes de incompetência tão grande que nos evocam repúblicas bananeiras. E com tal frequência que a expressão "primeiro-mundice" pode se tornar um primo rico de "terceiro-mundismo".

Voz. Isso só reforça o óbvio: o Terceiro Mundo não tem o monopólio da incúria. Não há nada intrinsecamente errado com os povos ao sul do equador. É fato que por aqui se fuzilam juízes na rua e a chantagem é um instrumento político cotidiano. Mas nada impede sul-americanos, africanos e asiáticos de acelerarem seus avanços em matéria de renda, escolaridade e esperança de vida, a despeito de quem os governa.

Basta ver um dos infográficos animados de Hans Rosling na internet para perceber o quanto diminuiu nos últimos 50 anos a distância que separava os "desenvolvidos" dos "em desenvolvimento", seja em fertilidade e mortalidade infantil, seja em renda per capita. Na sua grande maioria, os países na rabeira avançaram mais rapidamente do que os da ponta.

O mundo, como o Brasil, está rapidamente transformando miseráveis em pobres, e pobres em classe média mais ou menos remediada. Sob novo status, essas pessoas têm novas demandas, mais autoconfiança e, finalmente, voz. São neoconsumidoras, e portanto, alvo de interesse do mercado. Onde impera a lógica do "consumo, logo existo", ser um consumidor é passaporte para a respeitabilidade.

Eixo. A economia parece ser vanguarda nos processos de mudança. Os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) viraram sigla e tiveram reconhecimento internacional primeiro do mercado financeiro. Depois vieram as lojas de marca e as turnês de artistas globais. Mas os ditos "emergentes" ainda brigam por espaço em fóruns e instituições políticas multilaterais.

Alguma coisa está mudando, não necessariamente para melhor ou pior. Apenas mudando. O Rio de Janeiro ganha a primeira página do The New York Times não como a capital do samba, futebol e violênica, mas como a cidade das Américas com mais alto preço para escritórios, onde um Martini custa US$ 35.

Uma das causas dessa inflação em dólar (fora a valorização do real), explica a reportagem do mais influente jornal do mundo, é a imigração de profissionais estrangeiros, principalmente norte-americanos, em busca de empregos mais bem pagos em bancos de investimento. Faz sentido: salários mais altos onde a economia está quente e onde há investimentos.

O eixo do poder econômico global está pendendo para o sul e para o oriente. Pode ser um fenômeno demográfico (populações mais jovens e força de trabalho mais ativa), mercadológico (novas hordas de consumidores), ou a combinação de ambos. As diferenças regionais ainda são grandes, mas menores do que as oportunidades para os emergentes.

O Brasil pode não ter chegado ao Primeiro Mundo, mas o Primeiro Mundo chegou ao Brasil.

GUSTAVO CERBASI - Decida sem analisar


Decida sem analisar
GUSTAVO CERBASI
Folha de S. Paulo - 15/08/2011

A segunda-feira passada foi o pior dia do índice Bovespa desde outubro de 2008. Excesso de vontade de vender e a falta de interesse em comprar fez muitos investidores de grande porte jogarem a toalha, gerando tumulto, pânico e um esperado efeito manada.
Por muito pouco não foi acionado o "circuit breaker" da Bolsa, que é a interrupção obrigatória das operações para dar aos negociadores uma oportunidade de pensar.
Lá pelo meio da tarde, quando a queda do índice superava 9% no dia, não resisti e deixei um pouco de lado minha necessária isenção, postando no Twitter a mensagem: "É hora de comprar. Se é a melhor hora? Impossível dizer".
O motivo do alerta não estava em uma análise, mas sim na falta dela. O investidor iniciante precisa entender que, todos os dias, milhões de análises, profissionais ou não, são feitas para que compras e vendas de ações sejam feitas.
Por esse motivo, raramente os preços das ações deveriam estar muito distantes de quanto elas realmente valem.
Também por esse motivo não se deve esperar grandes oscilações no índice da Bolsa, a não ser quando surgem fatos relevantes que mudam os rumos das empresas.
É a isso que se chama de mercado quase perfeito. E é isso que observamos em Bolsas mais tradicionais, como as da Alemanha, dos Estados Unidos e da Suíça.
Nesses países, uma queda de 1% equivale a um dia péssimo para o mercado, enquanto no Brasil esse número nem sequer vira notícia.
Desconfie, portanto, de qualquer análise feita quando ocorre uma oscilação muito forte no mercado, seja para cima ou para baixo.
Uma queda de 8% ou 9% em um só dia indica claramente que parte da manada entrou em desespero. Quando baixar a poeira, a tendência é que haja pelo menos o chamado repique, com uma recuperação das perdas ou com uma realização de lucros, caso o efeito manada tenha sido de alta.
Historicamente, quedas ou altas acima de 5% são muito raras - por isso não podem deixar de ser aproveitadas. Não importa se há análise confirmando ou dizendo o contrário: esses são bons dias para negociações, desde que sejam à vista - a aplicação em fundos geralmente é feita no fechamento do dia seguinte.
Em um dia de furacão no mercado, ninguém tem tempo de fazer análises consistentes. Cabe àqueles que estão com reservas financeiras e liquidez aproveitar a oportunidade e fazer negócio.
Curiosamente, depois de meu tuíte recebi diversos pedidos de entrevista, a maioria solicitando orientações para serem publicadas aos investidores no dia seguinte ou no final de semana.
Nesse caso, pouco teria a contribuir, pois seria necessário fazer uma análise dos ativos - e esse não é meu papel. Oportunidade certa era aquela do momento irracional.
Dez em dez especialistas recomendam que você faça investimentos regulares em ações, independentemente de o momento ser de alta ou de baixa. O motivo dessa recomendação é que você se mantenha envolvido com o mercado e atento regularmente às notícias, para que a esperada ansiedade decorrente desse envolvimento o faça perceber um dia de estresse antes que ele vire notícia nos jornais do dia seguinte. A hora de agir é aquela.
Se você comprar em um dia como a última segunda-feira e a Bolsa continuar caindo, seu espaço para perdas ficará reduzido. Se a Bolsa passar a ter alta, você desfrutará do bom sentimento de não ter perdido uma oportunidade.
Quem nunca fez diz que isso é ter sangue-frio. Quem, por outro lado, já investe e acompanha o mercado, sabe que isso é resultado do acompanhamento dos investimentos e da consciência de que, em algumas situações, os ativos ficam muito baratos. Mesmo que não seja o mais barato possível.
Baseie suas escolhas em análises diariamente, sejam essas análises técnicas ou fundamentalistas. Mas, nos momentos de falta de lucidez do mercado, deixe as análises de lado e simplesmente aja.
Não aproveitou? Então espere a próxima oportunidade. Quando? Impossível dizer. Mas virá.

JOSÉ GOLDEMBERG - Privatizações e interesse público


Privatizações e interesse público
JOSÉ GOLDEMBERG
 O Estado de S.Paulo - 15/08/11

Os frequentes "apagões" de eletricidade em São Paulo e no Rio de Janeiro trouxeram mais uma vez à tona uma velha discussão que parecia superada, mas ganhou agora nova vida: são eles uma consequência da privatização das empresas estatais? O sistema elétrico funcionava melhor quando as empresas pertenciam ao Estado? A resposta a essas indagações não é simples.

A estatização do setor elétrico brasileiro começou com a criação da Eletrobrás, há mais de 50 anos, quando ficou evidente que a Light se desinteressara tanto da expansão quanto da manutenção do sistema existente. Tal desinteresse se deveu à baixa remuneração dos seus investimentos, uma vez que o governo mantinha baixo o preço da eletricidade para os usuários.

Essa estatização - e o uso de recursos públicos e empréstimos do Banco Mundial - permitiu a expansão do sistema e a criação de empresas estatais com quadros técnicos competentes e de alto nível, como Furnas, Cemig e Cesp, que se concentraram, contudo, na geração de mais eletricidade. O setor de distribuição dessa energia sempre foi mais problemático, dados o rápido crescimento populacional e a necessidade - que se tornou prioritária - de ampliar a rede de distribuição, relegando a manutenção a segundo plano.

Sob esse ponto de vista, o sistema estatal tem grandes vantagens, porque permite um planejamento de longo prazo, tendo em vista o interesse público, definido pelo governo. Quando as empresas são privadas, a responsabilidade de seus dirigentes é proteger os interesses dos acionistas, maximizando o seu investimento. O interesse público é servido na medida em que não reduza a lucratividade da empresa.

O que empresas privadas fazem é obedecer aos termos dos contratos que assinaram quando da privatização, que não foram bem feitos - o que frequentemente é o caso -, e dificilmente mudarão o seu comportamento. Investimentos são feitos apenas quando sua rentabilidade é comprovada. Já o sistema estatal investe pesadamente, mesmo endividando-se, para atender às demandas sociais.

O que ocorreu, contudo, com o sistema de empresas estatais do setor elétrico do País é que, com o correr do tempo, orientações equivocadas dadas pelo governo (federal ou estadual) distorceram as suas prioridades. Exemplo dessa distorção é a situação calamitosa das estatais de vários Estados do Norte/Nordeste, em que as empresas não cobram - por motivos políticos - pela energia elétrica fornecida a inúmeras prefeituras e até a alguns privilegiados. Nesse aspecto, empresas privadas são mais eficientes, porque são menos sujeitas a pressões políticas e cortam o fornecimento dos que não pagam suas contas.

Outro problema é a influência desproporcional dos interesses corporativos dos funcionários nas empresas estatais. Durante muitos anos a legislação adotada foi a de garantir uma remuneração mínima às estatais, ou seja, a tarifa cobrada dos usuários tinha de cobrir todas as suas despesas mais uma margem de lucro. Com isso, ao longo dos anos, a pressão interna fez seus dirigentes concederem aos funcionários benefícios como atendimento médico-psicológico-odontológico, 14.º salário e outros que o restante dos assalariados do País não tem.

As empresas privatizadas, de modo geral, são mais bem administradas e mais eficientes, mas a sua prioridade é maximizar a remuneração dos acionistas, dentro dos limites da lei e das regras em vigor. Como conciliar esses interesses com o interesse público é o grande desafio.

Privatizações têm funcionado bem e redundaram em melhoria da eficiência das empresas em países industrializados estáveis, onde a população cresce pouco e as cidades já se estabilizaram há muitos anos. Em países em desenvolvimento com crescimento demográfico acelerado, e até caótico, a presença do Estado é essencial para dirigir investimentos a áreas carentes, nas quais as empresas privadas não se interessariam em investir. Exemplo disso é o Programa Luz para Todos, do governo federal, que tirou quase 10 milhões de pessoas da escuridão e não custou muito às empresas estatais que o tornaram viável. Do ponto de vista estritamente financeiro-contábil, ele deu prejuízo, mas o retorno dos investimentos virá a longo prazo, além da melhoria imediata das condições de vida dos beneficiados.

O governo Fernando Henrique Cardoso tentou resolver os problemas das privatizações, preservando o papel do Estado, com a criação das agências reguladoras, cujo desempenho, contudo, é discutível, sobretudo a partir do momento em que se esvaziou o seu papel, contingenciando recursos e fazendo indicações políticas para esses órgãos, que são de caráter essencialmente técnico. Combinando o papel das agências com os recursos do BNDES - que podem induzir ou facilitar investimentos numa dada direção -, as privatizações feitas no período 1992-2002 tinham todas as condições para funcionar bem, combinando a eficiência da gestão privada com o interesse público.

Nas condições atuais, no entanto, com agências reguladoras fracas, contratos de concessão malfeitos (copiados, em geral, de contratos feitos em países com baixo crescimento populacional), fica difícil garantir uma prestação de serviços satisfatória à população, sobretudo na área de manutenção preventiva.

Ainda assim, as leis e os regulamentos vigentes permitem uma ação mais enérgica de órgãos do governo. Um caso exemplar foi a aplicação pelo Operador Nacional do Sistema de uma multa de mais de R$ 50 milhões a Furnas, responsável pelo "apagão" que atingiu vários Estados do Nordeste há alguns meses - "apagão" esse que se originou de manutenção deficiente. Esse é o caminho a seguir, porque a aplicação de multas pesadas vai acabar convencendo as empresas (públicas e privadas) de que é mais barato melhorar o sistema do que pagar as multas.

DENIS LERRER ROSENFIELD - Princípios republicanos


Princípios republicanos
DENIS LERRER ROSENFIELD
O Estado de S.Paulo - 15/08/11

Já está mais do que passada a hora de o Brasil se organizar segundo princípios e valores republicanos, que se situam acima das disputas partidárias. Uma sociedade democrática não pode estar constantemente submetida a disputas entre partidos que chegam a atingir esses mesmos princípios e valores.

Talvez se possa dizer que o País atravessa um momento particularmente propício à afirmação desses princípios. Dentre eles, gostaria de ressaltar a ética na política, pois a moralização da vida pública é uma condição das democracias desenvolvidas. Nelas os cidadãos percebem a coisa pública como deles, e não como a coisa privada de alguns.

Os cidadãos podem, então, constatar que os infratores serão punidos, de tal maneira que haja um espelhamento moralmente positivo de todos nos seus representantes. Se isso não ocorrer, teremos, em seu lugar, o descolamento dos representantes em relação aos representados, em que os privilégios de alguns aparecerão como uma injustiça cometida contra todos. Sem comportamentos moralmente exemplares a política se torna um mero jogo de todos contra todos, sem nenhum princípio a norteá-la.

A presidente Dilma Rousseff partiu, com decisão, para uma faxina ética em diferentes ministérios, dentre os quais se destacam, por enquanto, Transportes, Agricultura e Turismo. Os números não deixam de ser impressionantes, pois, por exemplo, no Ministério dos Transportes mais de 20 pessoas foram demitidas ou exoneradas. E no Ministério do Turismo 35 pessoas foram presas. Sem nenhuma dúvida, trata-se de uma grande novidade, sobretudo se compararmos o atual governo com o anterior, pois neste infratores eram tratados com afago.

Nesse sentido, pode-se dizer que ela está conduzindo uma política republicana, situada acima dos partidos políticos. Observe-se que a faxina está atingindo os mais diferentes partidos políticos, tendo tudo começado com o PR, porém já alcançando o PMDB, o PTB e o próprio PT. Não se pode, portanto, dizer que ela não esteja seguindo a aplicação de um princípio. Ressalte-se, igualmente, a conduta impecável do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, na condução da Polícia Federal.

O "argumento" de que a presidente estaria pondo em perigo a "governabilidade" não deixa de ser um "pseudoargumento", pois ele expressa o descontentamento dos que foram atingidos ou dos que temem ser atingidos em futuro próximo. Ou seja, o dito argumento da governabilidade está sendo utilizado para a mera conservação do status quo, herdado do governo anterior.

A questão é bem outra. Trata-se de uma tentativa de instaurar uma nova forma de governabilidade, que possa seguir precisamente princípios republicanos, como o de que os recursos dos contribuintes não serão dilapidados ou desviados para os bolsos de alguns. O caminho que se está abrindo, e que será certamente espinhoso, é o de que a Nação possa trilhar o percurso do amadurecimento da democracia.

Corrupção e malversação de recursos públicos são extremamente nocivas para a democracia, pois degradam valores e corroem instituições. Se os valores morais não são seguidos pelos dirigentes, o exemplo dado à Nação é o de que ninguém a eles precisa obedecer. Se as instituições não são respeitadas, a própria organização social, institucional e política se torna precária. O recado seria, então, o seguinte: as regras nada valem.

No entanto, tal transformação política e institucional não pode ser levada a cabo por simples vontade presidencial se ela não vier acompanhada pelo apoio da opinião pública e, também, das oposições.

A opinião pública está sendo mobilizada pela ampla repercussão que a faxina vem tendo, atraindo setores que eram e são refratários ao PT e à falta de princípios e valores do governo anterior. Tampouco se deve descartar a hipótese de que boa parte dessas denúncias tenha tido origem no próprio Palácio do Planalto, com o intuito de que a ação de moralização pública fosse bem acolhida. O procedimento adotado foi o de formar a opinião pública.

Isso, porém, exige das oposições uma conduta responsável. Devem fazer frente comum com o governo, não procurando fustigá-lo partidariamente. As oposições não deveriam fazer oposição como têm feito durante os últimos nove anos, imitando o que o PT tinha de pior.

Aliás, para o PT daquele então, o que defendia a "ética na política" contra "tudo aquilo que estava aí", tal bandeira era ainda eficaz, pois ele não tinha, na esfera federal, a experiência de governar. Se hoje adotasse tal bandeira, depois dos descalabros éticos dos últimos anos, ninguém mais a tomaria a sério, nem os próprios militantes.

As oposições, por seu lado, nada aprenderam. Ao imitarem o PT, não se deram conta das limitações desse tipo de comportamento, além de se pautarem por uma forma de ação em franca contradição com o que faziam enquanto governo. O descrédito é a consequência inevitável. O resultado concreto é a sucessão de derrotas na esfera federal e a queda da representação parlamentar.

Isso significa que, no caso em questão, as oposições deveriam partir para um apoio ao governo Dilma em torno de princípios, abandonando até mesmo a ideia de CPI. Para que uma CPI, se os responsáveis foram punidos e as maiores falcatruas já apareceram? Na situação atual, trata-se apenas de uma forma partidária de fustigar o governo, fazendo o jogo dos descontentes com a faxina, o dos infratores. Apenas estes poderiam tornar viável uma CPI.

O jogo agora é outro: separar os interesses partidários dos republicanos, obrigando todos os atores, por convicção ou não, a atuar segundo uma noção suprapartidária de vida pública. O desafio é certamente enorme, mas não será enfrentado se não for tentado. A consolidação de nossas instituições democráticas disso depende.

MARCIA PELTIER - Progressão geométrica


Progressão geométrica
MARCIA PELTIER
JORNAL DO COMMÉRCIO - 15/08/11

A mais nova revisão do estudo sobre ativos dos fundos de pensão no período 2011-2021 traz três cenários distintos. Segundo o trabalho da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Privada, no cenário otimista, os fundos de pensão brasileiros poderão chegar ao ano de 2021 com um total de ativos de R$ 1,9 trilhão, algo equivalente a 32,1% do PIB estimado para daqui a uma década. No panorama conservador, é projetado um total de ativos de R$ 1,13 trilhão, que representará 19,1% do PIB estimado. Na visão mais pessimista, os ativos ficam em R$ 760 bilhões, ou 14% do PIB daquele ano.

Aposentadoria plena

Já o contingente de trabalhadores participantes dos fundos de pensão alcançará 8,6 milhões no primeiro cenário, 4,3 milhões no segundo e 2,1 milhões no último. Nos três casos o montante projetado de benefícios pagos no ano atingirá R$ 43,5 bilhões.

Pesca de arrastão

Fundador e CEO do Peixe Urbano, Júlio Vasconcelos dá festa, quarta-feira, no MAM, para festejar a marca conquistada de 10 mil parceiros do site de compras coletivas. Presente em 60 cidades brasileiras, a empresa, que conta entre seus sócios com Luciano Huck, chegou em março a cinco cidades da Argentina. Estima-se que os 12 milhões de usuários cadastrados já economizaram mais de R$ 600 milhões com as ofertas de desconto do site. A preferência dos cariocas é pelos serviços de beleza, saúde e estética.

Cinco estrelas

Rogério Fasano, que inaugura este mês um hotel na Fazenda Boa Vista, condomínio residencial em Porto Feliz, a 100km de São Paulo, pretende seguir investindo firme no setor hoteleiro. É o que ele revela à revista Poder que circula hoje. Fasano conta sobre seus próximos dois empreendimentos: um em Salvador, que funcionará em um antigo prédio no Pelourinho, que já passa por reformas, e outro em Belo Horizonte. “Queremos ter hotéis nas cinco maiores capitais brasileiras. Dessas, só não temos nada concreto ainda em Brasília”, afirma.

Professor Pardal

Dados do Instituto Nacional da Propriedade Industrial mostram que os registros de patentes cresceram 20% de 2009 para 2011, passando de 12.590 para 15.109. Ao que tudo indica, isso se deve ao aumento da conscientização das empresas sobre a importância das patentes e o interesse de investidores no país. O crescimento é em todas as áreas: eletrônica, farmacêutica e mecânica.

Jogos musicados

Sérgio Murilo Carvalho, o empresário que trouxe para o país o Video Games Live, evento no qual uma orquestra executa, em tempo real, trilhas para videogames, lança, em outubro, a primeira edição do Game Music Brasil. Já conseguiu até a adesão de Dado Villa-Lobos, que fez uma trilha para incentivar os participantes do festival. O ex-Legião Urbana, apesar de não ser um entusiasta de jogos violentos – quando seus dois filhos, Miranda e Nicolau, eram crianças, jogava no megadrive Aladdin e o Rei Leão - achou bacana a proposta. “É uma nova frente que se abre para o compositor brasileiro”, disse. O festival vai premiar a melhor trilha, a melhor banda e a melhor trilha para jogo indie.

Mulheres reais

Sucesso editorial absoluto, com 28 edições, o livro Chic, de Gloria Kalil, será relançado em setembro atualizado e com novo título: Chic – um guia de moda e estilo para o século XXI, pela editora Senac São Paulo. O capítulo Biotipo, por exemplo, foi todo reformulado: alunas do Senac, da área de moda, foram fotografadas e substituem as antigas ilustrações. E além dos quatro tipos básicos de biotipo foi acrescentado o da baixinha. “Mesmo no caso de um corpo bem proporcionado, é um tipo que costuma ser desfavorecido pela moda”, explica Glorinha.

Clientela sarada

Há dois meses no Leblon, a marca de frozen yogurt Snog – que dizem ser a preferida da Duquesa de Cambridge, Kate Middleton – vai distribuir 500 vales para os alunos mais assíduos, até o fim do mês, da academia que fica ao lado da loja. O frozen yogurt inglês é adoçado com néctar de agave orgânico, substituto do açúcar retirado de um cactus mexicano.

Livre Acesso

O convidado do programa Marcia Peltier Entrevista, de amanhã, é o secretário municipal de Conservação e Serviços Públicos, Carlos Roberto Osório. Carioca, Osório é apaixonado pelo Rio e está sempre preocupado com o desenvolvimento da cidade. A entrevista vai ao ar às 23h, pela rede CNT.

O capítulo São Paulo da International Coaching Federation irá promover, amanhã, às 17h, no Senac Vila Nova, encontro com o presidente mundial da entidade, Ed Modell, para debater sobre O Futuro da Profissão de Coach. A carreira de coaching, mesmo sem ser regulamentada, já movimenta R$ 20 milhões por ano no Brasil.

A Escola Politécnica da UFRJ, que abriu o primeiro curso de Energia Nuclear no Brasil, promove, de hoje a sexta, a I Semana de Engenharia Nuclear.

A Galeria Marcia Barrozo do Amaral e a Tramas Galeria de Arte, ambas no Cassino Atlântico, participam da 18ª edição do Salão de Artes que abre em São Paulo, no Clube Hebraica, hoje.

Atleta Pão de Açúcar desde 2000, o ex-maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima é presença confirmada no ABA Esportes 2011 – V Fórum Internacional de Marketing Esportivo, hoje, em um debate sobre a importância do patrocínio esportivo, no Sheraton Hotel, no Leblon.

Hoje, o coordenador do Programa de Legal Profession e vice-reitor para iniciativas globais da Universidade de Harvard, David Wilkins, visita a Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas. Em pauta, a discussão sobre o ambiente jurídico no mundo globalizado, tendo como foco a ascensão dos países que compõem o BRIC.

Com Marcia Bahia, Cristiane Rodrigues, Marcia Arbache e Gabriela Brito

MÔNICA BERGAMO - TEMPO MÍNIMO


TEMPO MÍNIMO
MÔNIVA BERGAMO 
FOLHA DE SP - 15/08/11

Os técnicos dos ministérios da Previdência e da Fazenda que estudam mudanças na aposentadoria do setor privado (INSS), com o fim do fator previdenciário, chegaram à fórmula que consideram ideal: o tempo mínimo de contribuição para requerer o benefício passaria de 35 anos para 42 anos, no caso dos homens, e de 30 para 37 anos, no caso das mulheres. Sem idade mínima.

BALANÇA
A fórmula já chegou à mesa do ministro Garibaldi Alves, que ainda tem sérias dúvidas sobre sua viabilidade política. Outras duas ideias estão em estudo: uma combinação de tempo de contribuição com idade, e o estabelecimento de idade mínima de 60 (mulheres) e 65 anos (homens) para se aposentar.

COMPASSO DE ESPERA
O Palácio do Planalto, de qualquer forma, ainda não deu sinal verde para a apresentação de propostas de mudança no INSS. A palavra final para o tema, polêmico, será da presidente Dilma Rousseff. Por enquanto, o assunto está em banho-maria.

PIANO
Paulo Maluf (PP-SP) vai comemorar os 80 anos com concerto para convidados na Sala São Paulo. E Arnaldo Cohen ao piano.

VISITA
Aécio Neves dá rasante nesta semana em SP. Deve jantar com o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), entre outros compromissos.

VOZ
Aécio, por sinal, prepara o segundo grande discurso no Senado. Vai falar agora sobre a crise econômica - e o que considera falhas do governo Dilma Rousseff em lidar com ela.

VEM PRA CÁ BALANÇAR
O vereador Netinho de Paula (PC do B-SP), pré-candidato à Prefeitura de SP, e o deputado Paulinho da Força (PDT-SP) marcaram para amanhã reuniões com líderes do PR e do PSC, em Brasília. Querem atrair os partidos para o palanque do cantor.

BELO & NETINHO
E o PC do B quer ter o cantor Belo como puxador de votos para vereador em 2012.

BATE E VOLTA
Wagner Moura conseguiu folga nas filmagens de seu primeiro longa internacional, "Elysium", em Vancouver, no Canadá. Desembarca no Brasil na quarta, para a pré-estreia de "O Homem do Futuro", de Claudio Torres, em Paulínia.

ALTA INFIDELIDADE
O número de brasileiros inscritos no site de encontros Ohhtel, que oferece sigilo e anonimato para quem procura namoro fora do casamento, já está em 150 mil. São 102 mil homens com média de idade de 39 anos e 48 mil mulheres, na casa dos 33. A maioria é de SP (36%), Minas Gerais (16%) e Rio (13%). A página está no ar há um mês.

DANÇA DO POSTE
Erasmo Carlos está cuidando do cenário de sua turnê "Sexo & Rock'n'Roll". Encomendou a uma fábrica de manequins no Rio bonecos que aparecerão no palco em pose de pole dance. Ele se apresenta em SP no dia 14.

ORGULHO EXPORTAÇÃO
O vereador Carlos Apolinário (DEM-SP) ainda surfa na repercussão do Dia do Orgulho Hétero. Anuncia que foi entrevistado por Steve Harrigan, da Fox News. A matéria, gravada perto da avenida Paulista - palco da Parada LGBT e de episódios de violência homofóbica -, deve ser exibida na quinta.


NOVELA DAS NOVE

Paula Giololito/Folhapress

Lilia Cabral

O elenco de ªFina Estampaº, próxima novela das nove da TV Globo, se reuniu no fim da semana no Espaço Lamartine, no Itanhangá, no Rio de Janeiro, para a festa de lançamento do folhetim. A trama, escrita por Aguinaldo Silva, estreia no dia 22 com direção de Wolf Maya. A atriz Lilia Cabralserá a protagonista.

CURTO-CIRCUITO

Ruy Dourado deixa o escritório Siqueira Castro para assumir a área de contencioso estratégico do Arap, Nishi & Uyeda.

O Itaú Cultural faz hoje e amanhã seminário sobre a visão política dos jovens.

A Tommy Hilfiger desfila hoje, às 19h30, sua coleção de verão, em Pinheiros.

Virgilio Gomes , um dos sequestradores do embaixador Charles Elbrick, recebe título de cidadão paulistano "in memorian".

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY