segunda-feira, dezembro 19, 2011

A encruzilhada de José - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 19/12/2011


Serra nunca esteve tão emparedado na política. Se não for candidato a prefeito, será acusado de ter dado as costas ao PSDB. Se concorrer e vencer  estará "preso" em 2014. Se perder, permanece no fim da fila presidencial



Nos bastidores da política, nunca se falou tanto do ex-governador de São Paulo, José Serra. Uns dizem que ele precisava fazer uma terapia para parar de reclamar de tudo e de todos. Outros consideram um absurdo a forma como o PSDB o trata. Para completar, apareceu o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., colega do tempo de escola, jogando mais lenha na fogueira com denúncias do tempo da privatização.

Ora, livros-reportagens sempre foram publicados sobre um ou outro assunto. Só na época em que Fernando Collor sofreu um processo de impeachment foram pelo menos três com as peripécias de seu governo. José Sarney, Antonio Carlos Magalhães, Lula, todos já foram personagens de livros que não eram necessariamente uma biografia.

O que está em jogo dentro do PSDB não é um livro, é o futuro, independentemente de livros de quem quer que seja. Afinal, fala sério: a maioria do eleitorado vive no Brasil real e não nas redes sociais. Embora sejam uma ferramenta importante, ainda não são o fator preponderante nas eleições. E, para este futuro, o caminho na maioria das conversas partidárias é buscar o novo. E, no caso dos tucanos, o novo, dizem eles, é o senador Aécio Neves (MG). Muitos se arrependeram de não ter dado a Aécio a candidatura à Presidência da República em 2010, deixando a Serra o papel de representar o partido no governo de São Paulo, como candidato a reeleição.

Serra, entretanto, não pensa assim. Tem dito a amigos que parte de suas agruras se devem ao seu partido que não o apoiou como deveria em 2010. Agora, quer um espaço para percorrer o Brasil e voltar a ser candidato a presidente em 2014. Sua aposta tem sido a de que a economia dará sinais de fadiga, assim como o governo do PT, apesar da alta popularidade da presidente Dilma Rousseff. Aécio, na visão de Serra, não conseguirá se tornar um nome nacional. Aí, a candidatura cairá no colo dele como um presente de papai Noel.

Ocorre que, para convencer o comando tucano dessa perspectiva, Serra teria que jogar para o time. Ser humilde como foi o jovem Neymar ontem ao final do jogo contra o Barcelona. Serra cresceu na derrota de 2002, quando ninguém esperava que ele chegasse ao segundo turno e chegou. Cresceu na prefeitura de São Paulo, no governo estadual. Mas, saiu menor da última campanha presidencial, onde, na reta final, deixou de discutir o Brasil.

Hoje, Serra tem alta rejeição entre os paulistanos e, dentro do PSDB, é visto como alguém que, em campanha, não ouve os aliados. Dia desses, em Brasília, o primeiro-secretário da Câmara, deputado Eduardo Gomes, brincou que o slogan está pronto: "vote no Serra, só ele vai reclamar".

Atualmente, Serra tem mesmo do que reclamar. Nunca esteve tão emparedado na política. É a encruzilhada. Se deixar de ser candidato a prefeito, pode ser acusado lá na frente de ter dado as costas ao partido. Se concorrer, estará fadado a permanecer na prefeitura por quatro anos, se vencer; e liquidado, se perder. Por isso, quer ficar fora dessa disputa e aguardar a próxima, onde as opções de cenário nacional são maiores. Faz sentido.

Serra se mira no exemplo de Lula que ficava sem mandato entre uma eleição presidencial e outra. Mas há uma grande diferença aí: Lula era — e ainda é — chamado por todo o PT para as campanhas municipais, era alavancado e alavancava seu partido. No palanque, ao falar com as pessoas, conquistava corações, ia para o meio do povo.

O PSDB não se mostra disposto a dar a Serra tantos palanques pelo Brasil no ano da sucessão municipal. O partido prefere aproveitar essa fase para testar e tentar popularizar Aécio. E, de mais a mais, há um sentimento entre os tucanos de que, se continuarem jogando sua força na disputa interna, alguém pode ultrapassá-los. Hoje, os tucanos ocupam o segundo lugar, mas muitos deles não esquecem do desempenho de Marina Silva, do PV, na eleição passada. Se vier alguém com mais musculatura política, podem perder a posição.

O primeiro lugar hoje é do PT, dada a popularidade da presidente Dilma Rousseff, melhor do que a de Lula e a de Fernando Henrique Cardoso ao final do primeiro ano de mandato. Se nada mudar, é bem provável que o fim da encruzilhada de Serra seja mesmo ficar em São Paulo e encerrar a sua carreira na província.

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