quinta-feira, outubro 20, 2011

REGINA ALVAREZ - Pior dos mundos

Pior dos mundos
 REGINA ALVAREZ
O GLOBO - 20/10/11

A decisão do Banco Central de cortar a taxa básica em meio ponto percentual não surpreendeu o mercado porque era a expectativa dos agentes. Ao contrário da reunião de agosto, que pegou todo mundo no contrapé e gerou todo tipo de especulação, agora o BC deu sinais mais claros de que vai mesmo manter a curva dos juros apontada para baixo. O que não convence é a promessa de atingir o centro da meta de inflação em 2012.

O mercado não acredita que isso seja possível e alguns analistas estão convencidos de que, a despeito do discurso, a própria autoridade monetária abandonou essa meta. Está claro para todo mundo que trazer a inflação para a meta em 2012 exigiria uma retração muito grande da economia e não é isso que o governo Dilma deseja.

- Valeria a pena buscar os 4,5% no ano que vem com PIB de 2%? Acho que não - opina Luiz Otávio Leal, do banco ABC Brasil. Pelos seus cálculos, esse seria o tamanho do sacrifício.

São muitas as interrogações sobre as variáveis que influenciarão a inflação em 2012. A principal é o cenário externo, no qual o BC se baseia para alardear que o retorno ao centro da meta acontecerá em dezembro.

- O cenário internacional com crescimento baixo joga a favor, mas não o suficiente para trazer a inflação para a meta em 2012 - afirma o economista Elson Teles.

O jogo das variáveis está indefinido. A retração da economia global conta a favor, assim como alguns preços internos. Os preços administrados podem trazer a inflação para baixo, prevê Teles. Em ano eleitoral não se aumenta tarifa de ônibus, deve haver revisão para baixo dos preços da energia e o etanol não ficará nas alturas.

Do outro lado, puxando a inflação para cima, temos os preços dos serviços, que estão crescendo a uma taxa de 9% ao ano; o impacto do reajuste de 14% no salário mínimo; o mercado de trabalho aquecido; o imposto sobre os carros importados, que vai tirar os chineses baratinhos do mercado. Ou seja, é um jogo que ninguém arrisca o placar com um razoável grau de segurança.

Fechando as contas

A temporada de balanços das empresas brasileiras com resultados do terceiro trimestre começa na semana que vem. A expectativa é que os setores ligados ao mercado interno continuem apresentando bons desempenhos, como varejo, financeiro, telefonia e energia.

Já os setores que dependem de demanda externa, como siderurgia e papel e celulose, devem seguir decepcionando.

Crise de confiança

A crise fiscal na Europa está fazendo com que os bancos europeus optem por deixar mais dinheiro parado no Banco Central Europeu, com baixíssima rentabilidade, reduzindo operações entre si. O volume depositado no BCE disparou de 38 bi, em julho, para 142 bi, em setembro. Em tempos de tormenta mais vale um porto seguro.

FAVAS CONTADAS: O Bank of America ouviu 286 investidores do mundo todo e 85% apostam que a Grécia dará o calote na dívida.

ESPERANÇA: A construção de casas novas nos EUA deu um salto de 15% entre agosto e setembro.

O problema é que para o controle da inflação o pior dos mundos é a incerteza. Quando os agentes desconfiam, a tendência é ajustar previsões para cima. Isso acontece com as empresas quando fecham planos de negócios e até com pequenos comerciantes. É assim que se alimenta o dragão.

A redução dos juros no meio de tanta incerteza é sinal claro de que o BC não quer seguir o manual de instruções do regime de metas. Mas o que preocupa mais os agentes é a perda de parâmetros. Na visão do mercado, seria mais crível o BC perseguir uma meta de 5,5% em 2012, convergindo para 4,5% em 2013. Como ninguém sabe exatamente o que se passa na cabeça da autoridade monetária, a insegurança aumenta e pioram as expectativas.

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