terça-feira, outubro 11, 2011

JAIRO MARQUES - Meus queridos professores


Meus queridos professores
JAIRO MARQUES
FOLHA DE SP - 11/10/11

Um mestre que repita o mantra "acredite que vai dar tudo certo, vá em frente" faz toda a diferença

Durante toda a minha trajetória escolar, nunca vi nos professores apenas um caminho para ganhar algum conhecimento em matemática, geografia, literatura. Para mim, eles eram muito mais.

Na menor brecha que abriam, eu sugava de meus mestres formas de compreender os momentos embaçados da vida, formas de fazer a minha realidade melhor. Professor é o mundo todo sintetizado em giz, apagador e tutano.

Na adolescência, uma professora marcou minhas lembranças para sempre ao me emprestar, juro, apenas emprestar, a antologia poética do Drummond, que tinha capa dura verde e páginas em um papel tão fino que parecia que a qualquer momento iria se desintegrar. Li quase inteira, aprendi de um tudo.

"É para você se inspirar para o amor, refletir sobre a dureza da existência, engrossar o couro para o futuro. O poeta foi comedor de arroz com feijão igual a nós todos, mas deixou a alma viajar por grandes banquetes", dizia um bilhete da professora.

Talvez não seja muito pedagógico para os que ensinam estreitar laços com os que devem aprender, pois isso poderia gerar conflitos de autoridade, confusão com as tarefas atribuídas aos pais. Mas as batalhas abertas atualmente no ambiente escolar trazem a mim uma nostalgia danada daquele tempo em que a mesa do professor era coberta de flores do campo -muito mais campo do que flores-, doce caseiro, desenhos, poesias e outros mimos levados pela criançada.

Para mim, o professor foi um bálsamo salvador das pequenas e grandes angústias de ser um menino incomum fisicamente na escola. E, para isso, não era preciso grandes sessões de diálogos lamuriosos.

Bastava um exemplo, algumas palavras seguras, uma recomendação de um livro. Um mestre que repita o mantra "acredite que vai dar tudo certo, vá em frente, que é possível" faz toda a diferença.

Em outra situação estudantil, fui atrevido a ponto de ir à casa de um dos mestres (no interior do país, tem dessas coisas). Eu precisava como em uma emergência sufocante saber até quando eu teria de esperar para viver um grande amor, afinal, eu "já" tinha 16 anos. O professor me recebeu, levou totalmente a sério a minha dúvida e recomendou o melhor remédio de todos para os desesperados: "Tenha paciência. Seu tempo vai chegar".

Professor é para ser admirado enquanto explica a intrigante lógica do teorema de Pitágoras, é para ser fonte de inspiração quando se recebe aquele tema "affmaria" da redação da USP, é para instigar o gosto de descobrir com a própria sola do sapato que a história das civilizações tende a se repetir cada vez que se cometem as mesmas falhas. Professor é para ser querido, pois é ele que ensina que a crase não é um acento, mas, sim, um encontro entre o artigo e a preposição.







Lá no blog, coloquei um punhado de fotos de professores interagindo com alunos de um projeto "maraviwonderful" chamado Guri, da Secretaria da Cultura de São Paulo. Nele, os moleques prejudicada dos movimentos ou dos sentidos aprendem, cada um à sua maneira, a tocar um instrumento musical. Como diria meu amigo Wadê, "aí eu pirei"!

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