segunda-feira, outubro 03, 2011

GRAHAM BOWLEY e LIZ ALDERMAN - Não há solução rápida para crise europeia



Não há solução rápida para crise europeia
GRAHAM BOWLEY e LIZ ALDERMAN
O GLOBO - 03/10/11



Aconteceu mais de uma vez nos últimos meses durante a crise europeia. Ações iniciam um forte movimento de alta diante de expectativas de que uma solução tenha sido encontrada. Mas retomam sua queda à medida que a esperança se dissipa, deixando investidores confusos e esgotados.

O que está acontecendo? O problema, dizem observadores da crise financeira da subprime, em 2008, e da crise de endividamento europeia de hoje, é que muitos investidores acreditam haver uma solução rápida e fácil se os governos se puserem de acordo e atuarem de forma decisiva.

Na realidade, pode não existir. O último pacote europeu foi aprovado no Parlamento alemão semana passada, depois que a chanceler Angela Merkel jogou o peso financeiro da maior economia do continente em apoio ao resgate, que obteve sinal verde também do Parlamento austríaco.

Mas o resgate não elimina os elevados débitos que se acumularam ao longo dos anos - assim como a salvação dos bancos americanos em 2008 não eliminou o enorme volume de dívidas de subprimes que os donos de imóveis contraíram, mas não puderam pagar.

O problema - dívida demais e crescimento de menos para aliviar a carga - pode levar muitos anos para ser resolvido.

"Todos estão vivendo além de suas possibilidades na última década. O ajuste será doloroso e longo e testará a resistência das sociedades, política e socialmente", opinou Nicolas Véron, da Bruegel, empresa de pesquisas de Bruxelas.

Isto não quer dizer que as discussões na Europa sejam irrelevantes. Se os governos não puderem concordar em como resgatar a Grécia de sua dívida debilitante, alguns temem que o pior possa ocorrer - um colapso do sistema financeiro parecido com o de 2008 que ricochetearia em todo o mundo, condenando a Europa, mas também os EUA e os países emergentes a uma retração prolongada, ou pior.

Assim como os EUA, a Europa acumulou dívidas de trilhões nas últimas décadas. A diferença é que muitos dos tomadores de recursos nos EUA foram consumidores e empresas, enquanto na Europa foram principalmente governos, em operações em que bancos compraram títulos da dívida soberana.

Agora, enquanto nos EUA a economia está retida por consumidores cuja dívida hipotecária supera o valor do imóvel, e que não começarão a consumir de novo até que tenham reduzido seu débito, a Europa não pode reiniciar seu crescimento enquanto seus países não aprenderem a viver dentro de suas possibilidades.

Em resumo, isto significa anos de doloroso ajustamento.

"Devemos nos ajustar a um crescimento menor. É óbvio que será muito doloroso. Mas os líderes têm de falar francamente com seus povos", disse Thomas Mirow, presidente do Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento, referindo-se tanto à Europa como aos EUA.

A incerteza sobre o futuro da Europa tem causado a instabilidade dos mercados financeiros desde o verão (boreal).

Há dias, as ações subiram diante da euforia de que um novo e mais poderoso pacote de resgate estava próximo, mas o mercado esfriou de novo quando começaram a aparecer fissuras entre os países europeus sobre os termos dempréstimos à Grécia.

Na quinta-feira, os mercados estavam otimistas novamente depois de a Alemanha aprovar o fundo de resgate de C 440 bilhões, destinado a impedir que a crise passe da Grécia e Portugal para outros países europeus. Na sexta foi a vez da Áustria. Outras nações ainda precisam ratificar o acordo, mas agora parece provável que ele esteja em vigor até o fim de outubro.

Até este fundo, contudo, é visto como inadequado. Alguns temem que não seja o bastante para uma das necessidades mais prementes da Europa: recapitalizar totalmente seus bancos.

Circula agora a hipótese de reforçar o poder de fogo do fundo permitindo que o Banco Central Europeu alavanque seus ativos para comprar títulos governamentais problemáticos que estão no sistema financeiro.

Com isto, a dívida seria em grande parte passada dos bancos europeus para os contribuintes.

Nem todo mundo pensa assim. Alguns argumentam que a Europa está de fato em situação melhor que os EUA. O nível da dívida está muito alto em países como Itália, Irlanda e Grécia, mas no total a dívida da zona do euro como percentagem do PIB é de 85%, abaixo dos 93% dos EUA. Os consumidores europeus não embarcaram na mesma festa de endividamento, assim suas necessidades não são tão severas.

A solução da crise pode aumentar a confiança em economias surradas e trazer de volta o crescimento. Mas o perigo é que as medidas estritas de austeridade que estão sendo adotadas apenas agravarão as retrações econômicas que alguns acreditam que se arrastarão por pelo menos uma década em Grécia, Portugal e Espanha. Estagnação econômica torna mais difícil para os governos amortizar suas dívidas.

A Alemanha passou alguns anos como o doente europeu, com alto desemprego e baixo crescimento. No início de 2000, enquanto os países do Sul da Europa gastavam além de seus recursos, o governo alemão iniciou uma série de reformas estruturais, desregulamentação e ajustes salariais que ajudaram o país a se tornar uma potência econômica.

Não está claro como outras nações europeias, como Portugal e Espanha, conseguirão reformas similares. O resgate de C 440 bilhões, mesmo se reforçado, representa apenas um remendo, segundo Carmen Reinhart, do Instituto Peterson para a Economia Internacional.

Num prazo mais longo, alguns líderes e economistas defendem uma união econômica, fiscal e política mais integrada na Europa - o que consideram a única solução real.

"Não considero pequenos passos dignos de crédito. É preciso criar os Estados Unidos da Europa no fim disso, e eles podem não incluir todos na zona do euro. Eles pensavam que teriam 20 anos para chegar lá, mas têm apenas 20 semanas", na opinião de Kenneth Rogoff, economista de Harvard que coescreveu um livro sobre a crise da dívida, com Carmen Reinhart.

GRAHAM BOWLEY e LIZ ALDERMAN são jornalistas.

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