quinta-feira, setembro 15, 2011

GILLES LAPOUGE - Os países emergentes vão socorrer o euro?


Os países emergentes vão socorrer o euro?
GILLES LAPOUGE
O Estado de S.Paulo - 15/09/11

Para um continente como a Europa, cheio de orgulho e cansado de glórias, uma região que conduziu por tanto tempo e, às vezes, de maneira tão violenta a história do mundo, é o cúmulo da humilhação receber a ajuda de países exóticos, muitas vezes olhados com condescendência e, em certos casos, tratados quase como colônias ou como entrepostos comerciais. Mas é exatamente isto que está ocorrendo.

Ontem, o mundo todo se inclinava na beira do abismo no fundo do qual a Europa se debate. Mas agora mãos compassivas estendem-se para ajudar Bruxelas, Atenas, Roma ou Paris a se reerguer.

Na terça-feira, quando as bolsas europeias enlouqueceram, a China demonstrou que tem bom coração, enquanto Brasília, pela voz de Guido Mantega, anunciava que os países do grupo do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) se reunirão no dia 22 em Washington, a fim de avaliar de que modo poderão socorrer a Europa cujo corpo, asfixiado pelas dívidas, e exangue, está indo contra a corrente.

Foi o primeiro-ministro chinês em pessoa, Wen Jiabao, que se declarou disposto a "estender uma mão amiga".

Wen se mostrou generoso, compreensivo, indulgente. Mas, em todo caso, não perdeu a oportunidade para distribuir alguns conselhos aos europeus. Seu desejo é que eles "adotem políticas fiscais e monetárias responsáveis, administrem adequadamente as questões do endividamento, garantam a estabilidade das operações de investimento no mercado e preservem a confiança dos investidores em todo o mundo".

A Europa poderia ofender-se e irritar-se pelo fato de os chineses resolverem adotar a postura do mestre bondoso, do sábio que quer ajudar um moleque impertinente desde que este prometa fazer menos besteiras. E que também pede contrapartidas por sua benevolência.

No entanto, não disse nada. Ficou feliz demais com a possibilidade de a rica China correr em sua ajuda, ainda que ao preço de uma boa dose de humilhação.

A Europa teria até desejado que a China não se contentasse com palavras gentis, e que logo colocasse a mão no bolso. Um gesto concreto de Pequim teria, por exemplo, evitado que a Itália tivesse de propor um juro (enorme) de 5,6% para encontrar compradores dos 6,5 bilhões em títulos emitidos no mesmo dia.

O exemplo italiano não foi escolhido ao acaso. Na zona do euro, a Itália ocupa uma posição nevrálgica: ela corre um sério perigo, mas, ao mesmo tempo, é a terceira economia da zona do euro, ou seja, suas dívidas são muito superiores às da Grécia ou de Portugal. Segundo foi anunciado ontem, elas chegam a 1,911,8 trilhão, portanto o seu calote abalaria todo o continente. Um "doente" tão enorme que seria quase impossível salvá-lo, o que provocaria a agonia de toda a zona do euro.

Além disso, Roma tem cortejado os chineses. Uma delegação de Pequim se encontrou na terça-feira com o ministro de Finanças italiano para a aquisição de uma parte da dívida italiana.

Quanto ao Brics, também estudam uma possibilidade de comprar uma parte da dívida da zona do euro. No entanto, a fórmula é vaga e sua tradução na prática não está clara. De fato, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira já recorre à Ásia para grande parte de suas captações de recursos.

É por isso que o anúncio da próxima reunião do Brics em Washington está sendo interpretado aqui, principalmente, como uma mensagem política tranquilizadora. Portanto, não nos resta senão aguardar esse encontro crucial. / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA

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