sexta-feira, setembro 23, 2011

BARBARA GANCIA - Dá-lhe, Dilmão!


Dá-lhe, Dilmão!
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SP - 23/09/11

Credibilidade é uma área que as mulheres dominam e a presidente Dilma está sabendo capitalizar 


A ESTA altura dos acontecimentos, entrando pelo nono mês do seu mandato, praticamente uma gestação completada com direito a festa no berçário, já se pode afirmar com segurança que Dilma é de casa.
Quando a presidente chegou ao Planalto pontuando frases com suspiros claudicantes, eu disse, xi, ferrou-se. Essa não aguenta esquentar a cadeira do homem enquanto ele vai até ali e volta.
Depois vieram as nomeações de ministros que precisaram ser trocados por encenadores de Sarney de bufê de festa de criança, que vexame. E a Dilma ali, sem ser do PT nem da turma da Berenice, às vezes dando a impressão de não pertencer a lugar nenhum, toda travada naqueles tailleurs com manga 3/4 que eu nunca tinha visto em lugar nenhum.
Era o próprio ET de Varginha habitando o Alvorada com a mãe recém-saída do casting da novela sentada no sofá, que cena.
Eu sei o que a Dilma passa, me identifico com essa coisa de levar a vida deslocadona, querendo se esconder atrás da cortina.
Só que agora o pessoal está lá para vê-la, não dá mais para jogar o holofote na direção da mãe classuda, do ex-marido com pretensões políticas que fala, fala, fala, do netinho, que bonitinho.
Agora a maré mudou e navega de desconforto em desconforto, do evento ao discurso ao jantar sendo ela sempre o centro das atenções. Vai carregando nas costas a responsabilidade e o sacrifício como saco de batatas.
E chegamos à paradinha no meio da frase, para dar um reset na máquina que carrega a Duracell programada para durar até dezembro de 2014, conjunto criado pelo gênio da comunicação João Santana.
Houve um momento nestes últimos nove meses em que o ar de honestidade que Dilma faz transparecer superou tudo o que a presidente possa ter feito de bom e de ruim em seu governo até agora.
Sinto muito se sou perigosamente ingênua ao dizer isto. Mas a impressão de integridade que ela passa é um atributo raro e bem desejável aos políticos.
Por causa dele Dilma, o fantoche, virou "Dilma dinamite" na "Newsweek" (dirão os céticos que a revista está coberta de anúncios de estatais tapuias) e ultrapassou a barreira partidária para conquistar claudetes e troianos.
Em seu discurso na abertura nesta semana da Assembleia-Geral da ONU, Dilma colocou o Brasil como país absolutamente moderno e preparado para encarar um novo paradigma, ao mesmo tempo em que jogou fora aquele ranço insuportável de nos ufanarmos de nossa dimensão continental. 
É pulso cobrar a China em sua política cambial e, no mesmo discurso, puxar a orelha dos EUA como se fossem moleques, para dizer que agora chega de prejudicar o mundo com picuinhas partidárias que são só deles. E fazer isso tudo e ainda ser levada em alta estima por tudo que é jornal e site financeiro. Quando foi mesmo que FHC e Lula tiveram essa repercussão?
Credibilidade é uma seara das mulheres e Dilma está capitalizando. É claro que isso faz com que os escândalos, que não são poucos em seu governo, fiquem automaticamente descolados da sua imagem.
Mas, convenhamos, esse é o verdadeiro milagre brasileiro. Nunca vimos uma mulher que não soa como uma típica populista sul-americana com as velhas artimanhas de sempre abrir a Assembleia-Geral da ONU.

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