quinta-feira, julho 07, 2011

JOSIAS DE SOUZA - Crise expõe modelo de troca de cargos e recursos por apoio no Congresso

Crise expõe modelo de troca de cargos e recursos por apoio no Congresso 
JOSIAS DE SOUZA
FOLHA DE SP - 07/07/11
A PRESIDENTE DILMA LIVROU-SE DE NASCIMENTO, MAS NÃO DO PR, DONO DE 40 VOTOS NA CÂMARA E DE SEIS NO SENADO
DE BRASÍLIA
A presidente Dilma dispõe de uma espécie de "espião" no Ministério dos Transportes, o petista Hideraldo Caron. Engenheiro, Caron é diretor de Infraestrutura do Dnit, o departamento que cuida da manutenção das estradas federais.
Nos últimos meses, municiou o Palácio do Planalto com dados que indicavam uma evolução atípica no orçamento das obras do ministério, sobrevalorizadas.
Vem daí a agilidade com que Dilma livrou-se do ministro Alfredo Nascimento e do staff dele. A presidente sabia com quem lidava.
Nascimento deixou o ministério convencido de que foi queimado num micro-ondas acionado pela própria presidente.
O mais surpreendente no episódio não foi, porém, a demissão, mas a nomeação do ministro. Nascimento era parte do legado de Lula.
O que Dilma fez em reação ao trabalho de seu "olheiro" e ao noticiário é o que deixou de fazer por convicção ou precaução.
Os aditivos contratuais vitaminados no setor dos Transportes não começaram há seis meses. Atravessam os governos.
Dilma conviveu com o flagelo à época em que, sob Lula, atuou como gerente do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A despeito disso, reconduziu Nascimento ao cargo.
Ao esquecer de maneirar, o PR do ministro expôs as entranhas do modelo que troca cargos e verbas por apoio no Congresso.
Dilma livrou-se de Nascimento, mas não do partido dele. Cogita manter a pasta na órbita de influência do PR, dono de 40 votos na Câmara e seis no Senado. Ou seja, o setor de Transportes ganhou a forma de um novo escândalo esperando para acontecer.
De diferente, apenas o estilo da presidente Dilma. Menos acomodatícia que Lula, ela espalha assombro pelo condomínio partidário que gravita ao seu redor.
Há duas semanas, numa reunião de caciques do PMDB, um ministro do partido comparou a presidente a um lobisomem. Ela prepara o bote e aparece na hora que quer e para quem quer, disse o peemedebista.
O problema é que, no modelo que vigora desde a redemocratização do Brasil, até mesmo uma presidente-lobisomem não pode prescindir de votos no Congresso.
Filiado ilustre do PR, o deputado Anthony Garotinho (RJ) apressou-se em defender sua legenda na Câmara.
Em resposta aos ataques da oposição, disse que nenhum partido tem autoridade para jogar pedras em Nascimento ou no PR. Nem mesmo a agremiação de Dilma.
"O PT ficava pregando moralidade aqui e virou o partido do mensalão", realçou Garotinho. Falava ao plenário da Câmara dos Deputados. Mas mirava o Planalto.

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