quinta-feira, junho 30, 2011

WAGNER VILARON - Itaquerão, paixão ou pouca vergonha?


Itaquerão, paixão ou pouca vergonha?
WAGNER VILARON
O ESTADÃO - 30/06/11

Eu sei, o assunto é chato. Falar sobre construção de estádio e isenção fiscal em um espaço que tradicionalmente é ocupado por informação, opinião, histórias, curiosidades e trocas de ideias sobre futebol é um choque. Ainda mais em um momento no qual a torcida do Santos segue feliz com o tricampeonato da Libertadores e os corintianos não se cansam de festejar a goleada sobre seu principal rival na atualidade, o São Paulo.

Mas convido todos vocês a adotar o mesmo pensamento que tive ao decidir o tema da coluna de hoje: o assunto pode não ser dos mais agradáveis, mas é extremamente importante e contemporâneo. Portanto, merece o destaque. Então respirem fundo, apertem o cinto e vamos lá.

Durante toda a discussão em torno da construção do estádio corintiano, que está longe de acabar com a aprovação da isenção de R$ 420 milhões, dois aspectos chamaram especial atenção. O primeiro - nobre, diga-se de passagem - é a rejeição quanto à possível utilização de recursos públicos nesse tipo de obra. Creio que não há cidadão, em sã consciência, que defenda algo desse tipo. Bom, a menos que sejam aqueles que, eventualmente, se beneficiem da picaretagem.

O outro aspecto - esse com vertente negativa - é a facilidade com que as pessoas descaracterizam a discussão. Os argumentos, que, nesse caso, deveriam ficar restritos à esfera técnica e política, descambam para o lado passional, infectados pela paixão clubística.

O resultado disso é uma sucessão de argumentações frágeis, de gente que não domina o assunto sobre o qual tenta se posicionar com veemência e acaba se comportando apenas como caixa de ressonância dos pontos de vista de terceiros. Ataca-se e defende-se o projeto do Itaquerão apenas por ser o estádio do clube para o qual o sujeito torce, seja contra ou a favor.

E os dois lados pisam na bola. Erram aqueles que defendem a aplicação dos incentivos fiscais (vereadores e dirigentes corintianos) ao insistirem no discurso de que não haverá uso de recursos públicos no empreendimento. Esse conceito já está consolidado na opinião pública, uma vez que se trata de uma simples questão de ponto de vista.

Em vez disso, poderiam se debruçar em uma estratégia de comunicação para esclarecer a população sobre o funcionamento da engenharia tributária utilizada.

Radicalizam também aqueles que preferem dizer que o mais importante seria investir em escolas, hospitais e creches. Esses passam a falsa informação para a população de que a Prefeitura estaria simplesmente tirando os recursos daqui para colocar ali, quando o funcionamento da engrenagem não é bem assim.

A proposta é que os descontos sejam dados apenas aos investimentos que forem motivados de alguma forma pela existência do estádio corintiano. Isso se o estádio receber a abertura da Copa. Do contrário, não haverá incentivos e, consequentemente, isenções.

Em tese, os tais incentivos serão oferecidos àqueles que investirem na região a partir de agora. A ideia básica é sacrificar uma parcela inicial do tributo para, como o próprio nome diz, incentivar empresas e prestadores de serviço a se fixarem na área. Se isso acontecer, essa migração aqueceria o comércio e passaria, assim, a gerar recursos permanentes na região que, no médio e longo prazos, compensariam a isenção inicial.

Trocando em miúdos, é como se o dono da padaria desse um desconto de 50% na primeira venda de pãozinho francês ao amigo da lanchonete, Em troca, teria um contrato de longo prazo para fornecimento pelo preço normal. Perde-se agora e ganha-se lá na frente.

A ideia, em tese, parece fazer sentido. A questão é se a articulação política e financeira tem sido tocada com correção e honestidade. Por isso a discussão deveria ser mais técnica e menos passional.

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