domingo, junho 19, 2011

ELIO GASPARI - Com sorte, a saúde entra na agenda

Com sorte, a saúde entra na agenda
ELIO GASPARI
O GLOBO - 19/06/11

O deputado Marco Maia (PT-RS) prometeu votar ainda este mês a regulamentação da Emenda 29, que define a destinação de recursos para a saúde pública nacional. Como ele e o Planalto andam se estranhando, ficou no ar um tom de troco, quase pirraça, mas há males que vêm para bem. Durante a campanha eleitoral, Dilma Rousseff prometeu “tomar iniciativas logo no inicio do mandato para regulamentar a Emenda Constitucional 29”. Se ela e o presidente da Câmara resolveram desencruar uma votação que neste ano completará 11 anos de espera, algo de bom poderá acontecer.
Por trás da construção indecifrável da “regulamentação da emenda 29” está a discussão da partilha dos recursos para a saúde (sem chance de ressurreição da CPMF). Ela libertará os melhores e os piores interesses. Nada melhor do que colocá-los na vitrine. Primeiro na Câmara, depois no Senado. Será uma briga bonita.
Dados de 2008 informam que 13 Estados não gastavam com a saúde pública o que manda a Constituição. Nessa modalidade, o campeão do calote foi o Rio Grande do Sul. Há governos que pagam planos de carreira do funcionalismo, restaurantes ou mesmo coleta de lixo jogando-os nas rubricas da saúde. Até gastos com segurança pública viraram despesas com saúde.
Como ensinou o juiz americano Louis Brandeis, “a luz do sol é o melhor desinfetante”.
Negócios da China, para inglês ver
Durante a viagem de Dilma Rousseff à China a marquetagem do governo anunciou dois êxitos:
1) O governo de Pequim concordara em tirar a fábrica da Embraer de Harbin da geladeira, abrindo-lhe o mercado para a fabricação de jatos executivos Legacy. (O mercado de jatinhos chinês, deprimido pelo governo, é menor do que o paranaense, mas deixa pra lá).
A comitiva brasileira voltou para o Brasil no dia 17 de abril. A fábrica da Embraer parou no dia 26. O repórter Fabiano Maisonnave mostrou que seus operários, sem o que fazer, jogam peteca na linha de montagem.
2) A empresa Foxconn montaria iPads no Brasil e, além disso, faria um investimento de US$ 12 bilhões em cinco anos, gerando 100 mil empregos.
O governo acabou com a maluquice que negava às tabuletas os benefícios dados aos computadores e as maquininhas da Apple começarão a ser produzidas em setembro, em Jundiaí. Até agora não se conhece o plano de investimentos dos US$ 12 bilhões da Foxconn. Sabe-se apenas que o velho e bom BNDES será chamado para botar algum no negócio.
Pelo jeito, a única coisa que a doutora trouxe da China foi uma gripe.
Salve Rainha
O ministro Gilberto Carvalho lamentou a prisão do companheiro José Rainha Júnior. Não se sabe o que ele achou da cana de uma noite tomada pelo ex-jogador Edmundo.
Vale lembrar que Rainha está há tempo na estrada. Em 1995, quando se tornou uma celebridade, disse o seguinte para justificar o fato de viver numa casa da CESP na cidade de Teodoro Sampaio:
“Eu sou um cidadão e pago impostos.”
Era um pied a terre, pois o empresário sem-terra tinha uma gleba de quatro hectares num assentamento próximo.
Bechara e a Viúva
Uma admiradora do idioma pediu à Academia Brasileira de Letras que lhe explicasse a origem da expressão “a Viúva” para designar a boa senhora que paga contas.
O professor Evanildo Bechara foi atrás e achou uma viúva generosa na Bíblia. Ela está em Marcos 12:
“Estando Jesus assentado defronte da arca do tesouro, observava a maneira como a multidão lançava o dinheiro na arca do tesouro; e muitos ricos deitavam muito.
Vindo, porém, uma pobre viúva deitou duas pequenas moedas, que valiam meio centavo.
E, chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deitou mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro.
Porque todos ali deitaram do que lhes sobejava, mas esta, da sua pobreza, deitou tudo o que tinha, todo o seu sustento.”
Essa é a viúva pobre. No anedotário militar da primeira metade do século passado há outra, frequentemente lembrada pelo general Ernesto Geisel durante seu governo. É a “Viúva do Duque de Caxias”, “Viúva do Caxias” ou simplesmente “Viúva”. (Dona Ana Luisa, na vida real).
Pode-se supor que ela nasceu quando alguém perguntou: “E quem paga?”
Varejão
Está dura a vida do New York Times. Depois de ter fechado o acesso ao conteúdo, o melhor jornal do mundo viu-se batido pelo site ‘Huffington Post’ no volume de acessos às suas paginas na internet e resolveu botar um brinde no pano verde.
Quem compra uma assinatura de três meses (US$ 105), ganha uma caixa-teclado para iPad que custa US$ 100 nas lojas.
O ‘Huffington Post’ é grátis como o ar. Fechando o acesso, o Times perdeu 11% de seus visitantes e ainda não há como se calcular o valor da clientela paga que conseguiu.
4 bi
Está marcada para a próxima quarta-feira a reunião do Conselho de Contribuintes que julgará o recurso do Banco Santander contra uma autuação de R$ 4 bilhões que lhe foi imposta pela Receita Federal em 2008.
O processo deveria ter sido julgado na segunda quinzena de maio, quando o ambiente político estava contaminado pelo noticiário envolvendo a prosperidade do então ministro Antonio Palocci.
Ao tempo em que era deputado e consultor, Palocci deu uma palestra para executivos do Santander.
Trotski vive
Boa notícia para os trotsquistas saudosos de seu guia. A família voltou a brilhar, com Nora Volkow, sua bisneta. Ela nasceu na cidade do México, na casa em que Leon Trotsky foi assassinado e também trabalha para mudar a cabeça das pessoas. A doutora dirige a agência do governo americano que lida com abuso no consumo de drogas.
Sem bigode, cavanhaque e mosca, é a cara do bisavô.

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