sexta-feira, maio 20, 2011

ELIANE CANTANHÊDE - Rédeas frouxas


Rédeas frouxas
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/05/11

A correria da quarta-feira no Congresso resumiu bem o atual clima do governo, tentando evitar a ida do ministro Antonio Palocci para explicar o seu ‘boom’ imobiliário; abrir o diálogo na base aliada sobre o Código Florestal; e tourear as bancadas religiosas para salvar o kit anti-homofobia do MEC. Cá para nós, nem parece um governo no vigor de seu quinto mês.

Tudo o que o Planalto e especialmente Palocci querem é ganhar tempo, enquanto embaralham as informações, forçando a percepção de que tudo não passa de jogo político, disseminando a mesma versão do mensalão — ’todo mundo faz’—, e esgotando as frentes em que a oposição poderia incomodar.

Evidentemente é manobra de contrainformação, porque não é trivial um homem público que já se meteu em confusões multiplicar o patrimônio por (no mínimo) 20 em quatro anos e depois voltar lépido e fagueiro para um cargo público estratégico no coração da República.

E é claro que não se trata de uma perseguição abstrata da oposição, mas sim de dois imóveis bem concretos de R$ 7,5 milhões, que projetam um patrimônio nas nuvens e ainda não revelado — como não foram revelados o objetivo, o patrimônio, o faturamento e os clientes da tal empresa de Palocci, agora no ‘ramo imobiliário’.

Tudo isso, portanto, caracteriza estratégia para confundir, não intenção de elucidar. Talvez o ministro ache que isso seja bom para ele, mas pode estar redondamente enganado. Tudo que não é bem explicado costuma ficar pairando ameaçadoramente, até estourar.

E é assim que o governo desperdiça energia, se atrapalha e passa sensação de fragilidade precoce com Palocci, Código Florestal, pressão aliada e kit de três filmes e uma cartilha contra a homofobia.

Dilma não faz política, e Palocci sabe como assumir as rédeas sorrateira e efetivamente. Convém ficar atenta e avaliar o custo-benefício de alguém assim e com tanto poder.

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