sábado, abril 09, 2011

PRISCILA CRUZ - Educação, uma agenda urgente


Educação, uma agenda urgente
PRISCILA CRUZ
O Estado de S.Paulo - 09/04/11

Chegamos a um consenso geral no País sobre a importância da educação de qualidade para alcançarmos o patamar de nação que oferece oportunidade a todos e se posiciona no mundo como exemplo de democracia e de desenvolvimento social e econômico. A educação, no entanto, ainda não é tratada com a urgência que os atuais resultados nos impõem.

Temos 3,7 milhões de crianças e jovens de 4 a 17 anos fora da escola. E quem são eles? São aqueles invisíveis aos olhos de quem toma as decisões políticas, justamente os mais excluídos, seja pela pobreza, pela região onde moram ou por portarem algum tipo de deficiência. Os alunos que ingressam no ensino fundamental passam por um estreito funil para concluir a educação básica: 95% concluem a quarta série, 79% concluem a oitava série e apenas 58% concluem o terceiro ano do ensino médio. Dos alunos que conseguiram terminar o ensino médio, 29% saem com a aprendizagem mínima em Língua Portuguesa e apenas 11% em Matemática.

Escola de qualidade para todos constitui uma das estratégias mais eficazes para combater a pobreza, reduzir a nossa enorme desigualdade social e colocar o País no circuito dos avanços mais importantes para os ideais de justiça e democracia. A educação, portanto, deveria tornar-se a prioridade das prioridades, a questão mais urgente. Os países que conseguiram atingir a meta de educação de qualidade para todos nos mostram como essa conquista é importante.

A Constituição federal de 1988 elevou a educação à categoria de direito fundamental. Educação não é caridade, é direito! É direito de cada criança e de cada jovem e também direito da coletividade, pois ambas as dimensões, juntas, permitem o desenvolvimento de cada cidadão e da sociedade de forma mais sustentável.

Assim, as políticas educacionais estão subordinadas à plena efetivação do direito dos alunos de ter acesso à escola, aprender e consolidar as habilidades esperadas em cada série, progredir nos estudos e concluir as etapas na idade certa. E certos princípios devem ser perseguidos, em especial a intolerância às desigualdades, com a forte crença de que todo aluno pode e deve aprender.

Não deveria mais haver espaço para aceitarmos que apenas uma minoria termine os seus estudos com a aprendizagem adequada. Muito dificilmente, ou a um custo imenso, conseguiremos pagar a dívida que temos com cada aluno que sai da escola antes de terminar a educação básica ou que a conclui sem ter aprendido o que lhe é de direito.

Termos bons professores, valorizados e com carreira atraente; financiamento adequado; gestão eficiente; expectativas de aprendizagem claras; formação de professores com foco na aprendizagem dos alunos; avaliações com consequências na gestão das redes, da escola e na sala de aula; um sistema de governança da educação que ponha em prática e potencialize o regime de colaboração entre os entes federados; uma Lei de Responsabilidade Educacional e, finalmente, uma sociedade engajada - esses são alguns dos caminhos que têm recebido maior atenção. Porém, sem um profundo compromisso de todos com essas políticas, certamente não daremos velocidade aos resultados, que muito lentamente avançam. Segundo levantamento do movimento Todos Pela Educação, nesse ritmo, apenas em 2050 teremos 70% dos alunos com o aprendizado adequado à sua série.

De tempos em tempos, abrem-se oportunidades de promovermos alguns saltos, e estamos num desses períodos. Na Câmara dos Deputados está o Projeto de Lei do Plano Nacional de Educação (PNE) 2011-2020, um plano decenal, que atravessa mandatos e que, por essa razão e pela importância na orientação das próximas ações da União, dos Estados e municípios, deve estar acima dos imediatos interesses partidários. Urge, assim, a necessidade de uma tramitação responsável do PNE, com a compreensão da missão parlamentar de ajudar a estabelecer consensos pluripartidários, defender teses relevantes para a educação brasileira e votar com a consciência do que é melhor para a sociedade como um todo.

No plano estão 10 diretrizes e 20 metas importantes para o futuro do nosso país. As estratégias para a conquista de cada meta tratam do imenso desafio para a valorização do magistério, para a garantia do direito à aprendizagem de cada criança e de cada jovem, para que os recursos do setor sejam ampliados e bem geridos, entre outras. A valorização do magistério é central, pois já está suficientemente comprovado que o professor é essencial para o pleno desenvolvimento das potencialidades que cada aluno tem para a sua inserção digna na sociedade e no mundo do trabalho.

Não podemos perder esta oportunidade para intensificar coalizões que assegurem a modernidade social. Esperamos que deputados federais e senadores assumam uma intensa luta por um PNE que assegure escola de qualidade a todas as crianças e a todos os jovens, e sejam também protagonistas na revolução educacional por que o País está passando nesta década. Diante dessas questões e desses desafios, a aprovação do PNE é uma das missões mais urgentes para o ano legislativo que se inicia. Desse modo, é importante que o plano seja amplamente debatido e aprovado com a brevidade necessária, pois estamos sem Plano Nacional de Educação em vigência.

O primeiro passo foi dado com a criação de uma Comissão Especial na Câmara dos Deputados, via de tramitação apoiada pelo movimento Todos Pela Educação. Os líderes partidários já estão indicando os deputados que farão parte dessa comissão, cuja premissa deve ser a melhoria da qualidade da educação para todos os alunos.

O Brasil precisa de um Plano Nacional de Educação que promova inclusão com qualidade. A urgência está posta.

DIRETORA EXECUTIVA DO MOVIMENTO TODOS PELA EDUCAÇÃO

Um comentário:

  1. Tenho 48 anos, formada em Letras Português e Inglês há 5 anos em uma Universidade particular de excelente qualidade (com isenção, meu marido trabalha na instituição). Sou Concursada pela Secretaria de Educação - RJ e empossada desde fevereiro de 2009, ainda estou em período probatório. Nunca tive o sonho de me tornar professora, só depois que trabalhei terceirizada em uma Universidade Federal como Assistente Administrativa e com o contato com o corpo docente fiquei encantada. Sou fluente em Inglês por isso optei por Letras. Amo meus alunos, minha escola, minha Direção e Coordenação. Meu salário é de R$691,00 líquidos por 16 horas semanais, recebemos R$52,00 de transporte. Depois do infeliz episódio em Realengo me deparei com essa nova realidade: trabalhar com o terror psicológico deste episódio. Confesso que não sei defender ou argumentar teses junto aos tantos estudiosos deste assunto, o que eu sei é o que eu vejo e sinto nas minhas aulas. As atitudes dos alunos quando entram em sala de aula é de espantar, não é pessoal, eles agem assim com todos os profissionais da educação, direção, coordenação e apoio. A maioria, não são todos, desenvolveram um padrão comportamental que na faixa etária entre 13 e 16 anos é irreversível. Uma barreira imensa e indestrutível existe neste grupo particularmente. O desafio é tão grande e imediato que alguma medida urgente deve ser implantada. Estou falando de desinteresse, falta de comprometimento, agressividade, desrespeito aos colegas e principalmente ao professor, arrogância e debochados. A falta de determinados valores provém de uma família na sua maioria pobre e com novos padrões (padastro, madrasta, avó, tios, meio-irmãos, etc)que lutam muito para ganhar um mísero salário. Estes por sua vez foram criados (não educados) da mesma forma. O que quero dizer é que daqui para frente, a cada geração, este problema será ainda pior e mais aterrorizante, está se agravando a situação. As creches que a Presidenta propôs poderiam vir com um novo método de educar, começar do zero um programa que vise a inserção de valores positivos desde a idade maternal. Prioritariamente o estado deve fazer uma INTERVENÇÃO IMEDIATA nesta geração nova, vamos recomeçar com um futuro de igualdade para estes "Brasileirinhos" tão invisíveis à sociedade. Se a família não está preparada para este novo mundo, EU estarei aqui para ajudar nesta caminhada MAS quando eu esticar a mão quero ter um apoio. Ao contrário que muitos estudiosos dizem, a deficiência é na Educação dos alunos ainda no maternal e Ensino Infantil (até 5º ano).Hoje, digo hoje, só vejo futuro de 3 ou 4 em uma turma de 36 alunos e numa previsão otimista. Os outros 32 sequer conseguirão fazer um curso técnico. Nos olhos deles vejo um grande vazio, eu falo e minhas palavras morrem ali, em milésimos de segundo. Como Pink Floyd um dia cantou "Another Brick in the Wall", apesar dos avanços no processo Ensino-Aprendizagem, abordagem, inserção social e contextualização, ainda continuamos a formar exércitos uniformizados que além de não serem capazes nem de receber só informações, como era até a década de 80,agora não conseguem refletir, se concentrar, analisar, identificar e o mais importante, reter qualquer informação que passo para eles. Meu trabalho é sério e sou uma boa profissional-educadora. Assim que a sineta bate é como se fôsse um dispositivo para eles esquecerem tudo que ali ensinei.Proponho uma revolução no Ensino Infantil e Básico, vamos mudar nosso Brasil agora. O respeito ao professor deve voltar. POR FAVOR, NOS VALORIZEM!! MUITO OBRIGADA!

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